Hiyama Kyohei
Prólogo
Parte 5 - Armado em Herói
- Previously on "Kyohei FTW" escreveu:
- - Shinobi? - Perguntei-me. A resposta veio logo a seguir com um novo vulto a passar por mim a alta velocidade. Quase caí com o vento daquele shunshin, contudo aguentei-me ao apoiar-me numa parede. Olhei para o novo vulto, tentando saber quem raio era que ia a altas velocidades e logo o identifiquei. - AKI!
Corri feito maluco atrás deles. Não era difícil segui-los já que as pessoas se afastavam com a sua passagem e eu ficava com o caminho livre para continuar a correr. Espantava-me a velocidade daqueles dois... Desapareciam e apareciam noutro local em questão de segundos e a perseguição manteve-se renhida. Escusado é dizer que eu acabei por ficar para trás e só quando parei para me encostar e cuspir um monte de saliva que se acumulou na boca é que os voltei a encontrar com o som de uma explosão.
A nuvem de fumo indicava o local e pus-me logo a caminho! Acabei por os encontrar num pequeno descampado, atrás de uma casa senhorial. O terreno tinha já alguns sinais de fogos e alguns pilares de terra, uns partidos e outros inteiros. Uma árvore da periferia do descampado mostrava-se caída por terra, quase de uma maneira cirúrgica de tão limpo que era o corte. Escondi-me atrás de um pequeno barracão, talvez a arrecadação do casarão e fiquei à espera que o meu irmão e o outro homem se mostrassem...
- Porra! - Guinchei ao baixar-me. Do nada, um tronco passou mesmo por cima de mim, que nem um míssil. Olhei para a fonte do projéctil e via agora os dois ninjas a travarem uma batalha de Ninjutsu. Bolas de fogo para ali e para acolá e o desconhecido a defender-se delas com uma parede de terra que gerou por magia. O que vi depois pôs-me os nervos em franja!
Duas mãos de terra nasciam e cresciam a partir da parede antes criada e socavam o meu irmão, lançando-o pelo ar. Num acto de desespero ele lançou duas bolinhas que ao explodirem formaram uma camada de fumo roxo e o corpo dele foi parar a alguns metros de mim. Eu estava imobilizado pelo medo e ao mesmo tempo a raiva e a adrenalina faziam-me querer mexer o mais depressa possível. Ouvi uma voz rouca a chamar pelo meu irmão, provocando-o do outro lado do fumo. Não recebendo resposta, o outro ninja lançou uma onda de shurikens para o ar. Vendo aquilo não me pude conter mais...
- Aki! - Gritei para o meu irmão. Este virou-se ao ouvir-me e ficou surpreso pela minha presença. Fiz-lhe sinal para vir para perto de mim, mas ele mostrou-me a perna ferida. Deitava uma quantidade extraordinária de sangue, tanta que até me agoniei um pouco. Engoli em seco e corri para ele. Levantei-o, pu-lo às minhas costas e escondi-o atrás do barracão onde eu estava. - Fica aqui!
- 'Tás parvo onii-san!
- 'Tá mas é caladinho ou levas no focinho! - Ameacei. Tirei-lhe a sacola ensaguentada que ele tinha na perna e pu-la na minha. Aproveitei e tirei um dos rolos de gaze que ele tinha na sacola e passei-lho para a mão. - Trata da tua ferida.
Não ouvi mais nada. Acabei de o esconder com um barril de madeira que ali estava deitado e ocupei o lugar dele no descampado. O fumo estava já a dissipar-se a olhos vistos e o terreno cheio de kunais e shurikens no chão. O adversário do Aki devia ter ficado sem munições já que parou de lançar armas e decidiu-se a esperar. Peguei numa das kunais de metal e assutei-me com o choque térmico entre a minha pele e a arma. Levantei-a até à altura da minha face, tal como tinha já visto o meu irmão a fazer.
- É isto que se sente hã? - Preparei-me para correr para a luta, mas a luta veio antes a mim. Um pilar de terra acertava-me no tronco e fazia-me cuspir uma porção de saliva para o chão. De seguida, dois novos pilares apareciam do solo, virei-me para a esquerda e desviei-me de ambos ao apoiar-me num deles e saltar para o chão.
O meu campo de visão estava já limpo. Conseguia ver toda aquela área, mas mesmo assim quem me atacava permanecia escondido. Fiquei no centro do descampado, à espera...
- Onii-san, salta!
O grito do meu irmão fez-me olhar para trás e ver um novo pilar a ser direccionado contra mim. Saltei e dei uma cambalhota dolorosa para a direita e atirei a kunai que segurava na direcção da origem do pilar. Nada...
- Onii-san, lança algumas shurikens ao ar. - Não perguntei o porquê. Lancei-as sem pensar e vi-as a ser multiplicadas como magia.
A partir daqui não vi mais nada, pois um flash de luz cegou-me por alguns instantes. Só senti fortes pancadas nos meus braços e peito e as minhas costas a raspar na terra dura e ríspida. Quando voltei a abrir os olhos, Aki estava já a minha frente, de kunai nas mãos e frente ao inimigo. Era a primeira vez que o via bem. Tinha uma barba com alguns dias por fazer, tal como os olhos estavam envolvidos numas olheiras profundas e as bochechas pareciam sacos de pele a cair. O seu cabelo castanho parecia palha pintada e as vestes rotas que usava não tinham um estilo familiar ao desta zona. Mostrou o seu sorriso desdentado ao ver a ferida ligada do meu irmão e preparou-se para a continuação da luta.
- Gommen, onii-san. - Com um gesto de mão do rapaz, o mundo à minha volta mudava completamente.
A terra castanha e árida era substituída por um relvado fresco e verde, o casarão dava lugar a um conjunto de pinheiros, tal como tudo o que me rodeava era substituído por árvores da mesma espécie. Não ouvi mais o meu irmão, nem o outro sujeito. Chamei por ele, mas nunca obtive resposta e só depois lembrei-me do que aconteceu no treino em que o ajudei.
- Citação :
- Desta vez preparei-me a sério! Fiz o que melhor sabia fazer nas situações em que me via derrotado: fugir! Corri que nem um desalmado. Saltava raízes, saltava dos troncos e em certos casos empoleirava-me nos ramos das árvores maiores para tentar perdê-lo, mas nada resultou. Estava já cansado quando me vi de volta ao sitio onde começámos o treino e o meu irmão desmanchava um selo para depois me dizer algumas palavras.
- Kori Shinchū no Jutsu. Um genjutsu.
Só poderia ser mais uma daquelas suas ilusões à ninja, um Genjutsu como ele lhe chamara. Tinha apenas de perceber como sair daquele mundo alternativo, pois sabia que na realidade, o meu irmão armava-se em herói para me defender e cumprir com a sua missão. Levantei-me ou imaginei que me levantava e percorri aquela ilusão tão verdadeira. Percorri o meu corpo à procura de alguma coisa que me ajudasse, mas não encontrei nada até ver a sacola roxa do Aki pregada à minha perna. Tirei de lá um par de shurikens e atirei-as para o ar, vendo-as depois desaparecer naquele pinhal denso. Estava depois a levar com algo mesmo no queixo, lançando-me para trás. A paisagem voltava a ser a realidade que eu tanto esperava e via um soco de pedra como a origem daquele impacto que me despertou.
Deitado no chão tentei acompanhar o combate para ver quem tinha a vantagem. O homem barbudo parecia ficar cada vez mais cansado e a um ritmo acelerado, mas Aki mostrava-se já exausto e a ferida deixava escorrer cada vez mais sangue. Quando vi o "Barbas", alcunha pela qual passaria a ser conhecido, a começar a mexer as mãos e a fazer gestos estranhos, reconheci-os como os selos que o meu irmão fazia antes de cada ninjutsu seu. Lancei mais um par de shurikens, mas falhei-os tremendamente e acabei por ver o meu irmão a ser engolido por quatro placas de rocha maciça! Tentei gritar pelo nome dele, mas a minha garganta cedeu à pressão. O medo ocupava-me agora que estava com aquele maluco a olhar para mim como a sua próxima presa.
De pé, tentei recuar pouco a pouco. A minha mente corria a mil à hora, sempre a pensar em fugir, esconder-me, desaparecer sem mais nem menos dali e nunca na hipótese mais corajosa: ficar e lutar. Ele aproximou-se depressa da minha posição, sempre a fazer aqueles gestos esquisitos com as mãos e eu à espera do seu próximo jutsu, quando... Sem ver, tropecei numa pá que estava pelo chão e caí para trás. Na queda, o meu pé esquerdo voou para cima e acertou mesmo no queixo resistente daquele ninja inimigo fazendo com que me acompanhasse na queda ao chão.
Acordei pouco depois com uma rapariga a olhar para mim com um par de olhos curiosos. Mal me viu tentar levantar chamou alguém e Aki e mais um rapaz da mesma idade apareceram ao pé de mim. Não me lembro do que aconteceu antes com toda a clareza, mas pelo que me contaram, o golpe no queixo do homem e a minha queda provocou o mesmo resultado para nós os dois: ficámos inconscientes ao bater com a cabeça no chão.
------------//------------
Por capricho ou talvez por protocolo, o líder de esquadrão do Aki fez-me ir com eles até ao escritório do Raikage. Doía-me a cabeça na zona com que bati no chão e sempre que lá passava a mão sentia um pequeno inchaço a querer crescer e a dor a aumentar, mas era-me impossível parar de lhe mexer. Acabei por ter que ficar à espera fora da sala do Raikage, sentado num banco comprido de madeira tratada. Vi o meu irmão e os seus colegas a saírem e levantei-me para os acompanhar, mas fui detido. Parecia que queriam falar comigo desta vez.
Entrei na sala que era tapada por duas enormes portas de madeira esculpida em padrões rectangulares e deparei-me com uma sala repleta de estantes de arquivos e dossiers. O chão era coberto por uma longa tapeçaria e à frente da janela estava um homem de cabelos brancos sentado à sua secretária. Meio escondido, estava também um outro homem, de colete identificativo de shinobi e com os cabelos negros a taparem um dos seus olhos. Eles cochicharam algo entre si e só depois o Raikage me cumprimentou.
Não vos vou relatar toda a conversa pois nem sei se ainda me lembro dela. Além do mais, era capaz de juntar-lhe alguns adjectivos pomposos sobre a minha pessoa e por isso prefiro não ter a tentação de vos enganar. Resumindo, o Raikage contou-me que a missão era apenas uma farsa de modo a testar os novos Gennins e a saber o potencial de cada um. E naquela primeira fase de testes eu tinha sido a surpresa. Sem estudos e com poucas capacidades, havia enfrentado um shinobi e acabado por o conseguir pôr inconsciente (foi nesta altura que achei que alguns factos tinham sido omitidos, porque se soubessem a realidade, duvido que estivesse ali naquela altura).
- Como estamos a testar os nossos Gennins venho propôr-te o seguinte. - Declarou pausadamente. - Terás cinco dias para aprenderes as bases shinobi e ao sexto dia terás que mostrar o que conseguiste evoluir numa pequena prova. Caso passes, terás o estatuto de Gennin, ou "Quase-Gennin" e entrarás num esquadrão para que possas evoluir e servir o teu país. Caso não queiras, basta não apareceres na arena no horário que te escrevo neste papel... - Entregava-me depois um pequeno papel quadrangular dobrado ao meio. - ... e ambos faremos de conta que isto não aconteceu. - Fui para responder, mas o homem não me deu tempo, lançando-me um seco "Dispensado".
Saí, de papel nas mãos e parei e fiquei a olhar espantado para o céu já escuro da noite de Kumogakure.
- Eu? Gennin?______________________________________________
Pronto... Está na hora de ligar o modo "Kiba" e começar a treinar feito doido