Texto de Selim Puraido
Para aqueles que não acompanham a história, o Selim tem de andar vendado a maior parte do tempo devido à sua Kekkei Genkai. Assim sendo, luta com base nos outros sentidos e na habilidade de detectar massas de água. Só esta referência para que percebam melhor o duelo. Enjoy ^^ Shinjitsu?A final.
Caminhei dos balneários para a arena circular e, vendado, dirigi-me à ponte situada no centro da arena, seguindo os instintos.
- Rapazes – começou a árbitra – as pessoas esperaram muito por este momento, é a final. Dêem-lhes um espectáculo digno, façam o vosso melhor. O combate pára quando eu entender. – explicou a Jounin sucintamente.
- Gambare, Hayato. – murmurei com um sorriso.
- Podes crer, Selim! – exclamou ele num tom alegre.
- Hajime!
Afastámo-nos ambos de um salto. No momento seguinte, já as nossas mãos se moviam em perfeita sincronia. Hayato disparou, como eu já previra, uma torrente de água. Afastei-me com um salto e lancei-lhe um sabre de electricidade. O rapaz substituiu-se por um tronco, embora eu não o soubesse até ao último momento. Senti-o deslocar-se para mim, rapidamente, e saltei para a água, sobre a qual deslizei, como se esquiasse, desviando-me com algumas piruetas das muitas esferas de fogo que me lançou. Senti subitamente duas outras formas humanóides que me rodeavam. Clones. Confiei assim nos outros sentidos; uma brisa fresca emanava do original. Num dos outros dois, o teor de água aumentava imenso. Não precisava de saber o que vinha do terceiro. Fogo!
Precisava de escapar, mas era tarde demais. Seria… incinerado?! Não, não acabaria já!
E então tudo se me afigurou, claro como cristal polido na manhã do mundo! Cortei o fluxo de chakra nos pés e deixei a doce gravidade actuar. Caí na água com um estrondo e, olhando a superfície através da venda molhada, consegui discernir uma explosão de cor e algumas oscilações na água. Com um selo criei algumas cópias de água que se quedaram a olhar-me, embora todas soubessem o que fazer. Imaginei a árvore no canto da arena e apareci lá, sobre um ramo. Concentrei-me e calculei a localização dos três inimigos. Dois estavam do lado de cá do rio. O outro, do lado de lá.
Quatro pares de mãos enluvadas apareceram à superfície, enquanto as quatro cópias emergiam também. Todas elas dispararam serpentes numa tentativa de os apanhar. Duas conseguiram. Contudo, Hayato desfez-se das outras duas com um pontapé rotativo. As restantes fundiram as pernas a deslizaram para ele como serpentes. Ele desfê-las com uma simples rajada do leque. E então desceu dos céus um trovão que o apanhou em cheio, saído de duas facas minhas.
Houve uma pausa no combate, em que todos esperámos. Era como respirar antes de mergulhar, o prelúdio de um final grandioso, um fim para todas as batalhas pelas quais alguma vez ansiámos.
Era a minha oportunidade. Juntei as pernas numa cauda e deslizei rapidamente pela arena em direcção ao meu alvo, já no perfeito uso das suas capacidades. O rapaz disparou uma rajada do seu enorme leque, que me empurrou alguns metros e me cortou até nalguns pontos. Mas não mais lhes fiz caso e continuei a deslizar. Agarrei na minha leal espada e saltei para o rapaz enquanto refazia as pernas.
O choque foi terrível e silenciou plateia e animais. O metal gélido tiniu cruelmente enquanto Asura faiscava na ninjaken do rapaz. Senti-o mover a cara para cima. Era o fim. Abri a boca e em vez da língua revelei uma enorme serpente. Enrolou-se em volta do pescoço do rapaz e ergueu-o no ar, arremessando-o com um estrondo contra o chão duro.
O jovem Uchiha deu algumas cambalhotas na arena, mas lá se ergueu nos dois pés passado algum tempo.
- Já assim? – inquiri sorridente.
- Veremos! Kuchiyose!
Parei com esta palavra. Tinham surgido três novas figuras na arena. A avaliar pela disposição da água, era o já conhecido Minotauro, o bicho com asas e um novo. Vim a descobrir mais tarde que se tratava de um “homem cabra”.
Cortei o dedo em Asura e corri-o pela tatuagem negra que tinha no pulso.
- Kuchiyose! Schneizel!
A enorme serpente surgiu a toda a minha volta, cobrindo o chão e subindo três metros acima do solo. Galguei por Schneizel acima e fitei os meus quatro inimigos, como general que avalia a imensidão de hordas do inimigo.
- Começa agora, Hayato Uchiha!
Senti que dois deles se elevavam no ar. Presumivelmente Hayato e a manticora. Schneizel deu um solavanco e avançou para o Minotauro. Prendeu-o numa ilusão e aproximou-se perigosamente. Eu, cego como me encontrava, estava impossibilitado de o ajudar. O vento fez-se ouvir, qual suspiro longo e prolongado, empurrando-nos a ambos para longe da besta.
- Shuriken! – sibilou a serpente violentamente.
Por momentos pensei que era o fim e parei, estupidamente.
Mas depois, saltei para a cabeça dele, com um shunshin e abri as mãos. Uma esfera azulada formou-se à minha volta e todos os shurikens clonados desapareceram em fumo. Três serpentes mais pequenas rodearam-me aguardando ordens, todas elas idênticas ao original.
Da terra saltaram três espigões, que desfiz num relâmpago a um aviso de um Schneizel. Os outros dois dirigiram-se ao Minotauro. Mas era impossível, era demasiado árduo.
Saltei da cabeça da serpente e disparei, num soco, cobras que ergueram a besta no ar.
- Fogo! – ciciou Schneizel.
Com uma chicotada do braço, interpus o Minotauro entre mim e o fogo, usando-o como escudo. As chamas, amplificadas pelo vento da manticora carbonizaram as serpentes que o erguiam, mas a criatura não ficou em melhor estado e mal caiu, desfez-se em fumo.
- Tsc, se ainda fosse uma gaja – replicou uma voz atrás de mim.
Voltei-me de súbito e fui atingido por uma seta no ombro. Depois houve uma deslocação violenta de ar e fui enviado contra a parede do recinto, violentamente.
Era tarde demais para Selim Puraido. Este seria talvez o meu último combate. Estava tão pacífico, aquele chão. Aqueles aromas almiscarados que emanavam das ervas, o doce ruído do solo abaixo.
- Levanta-te idiota! – bradou-me Takashi da plateia.
“Vais deixar que acabe assim?” – inquiriu uma figurinha sem feições num recanto da minha mente
- Talvez.- respondi em voz alta
- Selim-kun!
“Kaoru, Nagisa?”
Ao ouvir aquela voz do amigo que julgava morto apossou-se de mim um novo vigor. Arranquei a venda com um puxão e abri bem ambos os olhos, onde refulgiu o Geass, completo.
- Ikkuso, Schneizel!
Ergui Asura bem alta e apontei-a ao Sátiro. Aproximei-me, rápido como uma sombra e a meio do caminho assumi a forma de uma sensual rapariga. O bicho embasbacado, como esperei, defendeu-se de forma completamente errónea. Não me admirava, tocara-lhe o ponto fraco.
Desfez-se numa nuvem de fumo branco, rapidamente arrastada pelo vento ondulante quando o atingi com a espada.
“Espera… vento?!”
Quase que senti o ardor intenso do fogo amplificado. Mas a criatura, iludida por Asura sem que eu mesmo tivesse consciência, disparou a rajada de vento na direcção contrária. Lancei serpentes das mangas que a enrolaram e comprimiram. A um aceno meu espalharam-se os dentes finos e cortantes das criaturas. A manticora envenenada caiu.
- É uma questão de minutos. – disse eu a Hayato – se não for tratada morre.
A criatura desapareceu em fumo, deixando-me a mim e a Hayato sós com Schneizel.
-Schneizel, este é o meu combate.
A cobra transferiu para mim todo o seu chakra e desapareceu numa nuvem de fumo.
- Vamos a isto, Uchiha Hayato!
O rapaz olhou-me, com os olhos escarlates com três pequenos pontos a orbitar.
- Tsc.. Não te vai adiantar, NADA! – gritei com um sorriso.
Corri para ele, que já me preparava uma surpresa. Quando distava alguns metros apenas, vi uma enorme esfera flamejante emergir da boca do rapaz, mas não seria assim o fim. A esfera passou, mas eu parei, coberto por duas cobras brancas que me saíam das mangas. Mal voltaram a desaparecer nas sombras, resumi a minha corrida para o rapaz. Agarrei numa kunai invertida e arremessei-lha. O rapaz desviou-se, mesmo quando a multipliquei com a humidade do ar.
Seria então mais difícil do que esperava.
Aproximei-me com um shunshin e espalhei chakra pelo braço. Lancei-o numa chicotada contra o meu inimigo. Mas tal velocidade era fraca contra o Sharingan. Desferi então um pontapé ascendente do mesmo estilo, usando a perna como um chicote. Hayato foi finalmente atingido, pois embora os seus olhos previssem tudo, a sua agilidade ainda não era suficiente para desviar todos os golpes. O rapaz afastou-se de um salto, para o riacho.
- Kirigakure no jutsu – murmurei.
O nevoeiro invadiu a arena como fogo na floresta seca. Como esperei, Hayato ficou imóvel, à espera de um ataque. Ergui duas facas no ar, que refulgiram como estrelas, enquanto um trovão ascendia aos céus e caía sobre o rio, apanhando o Uchiha.
- Nem mesmo o sharingan evita a condução de electricidade, uma lição para ti meu amigo!
Emergi do meio do nevoeiro com uma tripla foice na mão. O meu inimigo não pareceu impressionado, nem quando a ergui no ar para atacar. Desapareceu em corvos, tentando-me enganar. Mas tal ilusão era fraca para os meus olhos, tão experientes na matéria. O rapaz tentou socar-me pelas costas, mas o seu braço foi engolido pela maré de cobras que me saíram da manga.
Com um movimento brusco, foi erguido por esse mesmo braço e lançado contra o chão. Aterrou em ambos os pés , enquanto as suas mãos actuavam estranhamente. Quando dei por mim, fui envolvido em linhas quase invisíveis, presas vá-se lá saber onde.
Hayato avançou para mim num impetuoso shunshin, de katana em punho. Sorrateiramente, uma pequena cobra saiu-me da manga e com um movimento cortou os fios que constituíam a minha prisão. Desviei-me no último minuto e a espada apenas me apanhou o peito de raspão. Mas dilacerou completamente o meu mui querido kimono.
- Estás… morto – suspirei, mastigando bem a frase.
Lancei o kimono pelos ares num puxão violento e agarrei em Asura uma vez mais. Deixei o chakra correr, qual rio espumoso nas encostas de uma montanha. Troquei o sentido de direcção do rapaz e mal corri para ele, vi-o mover-se, para fugir. Mas não podia quebrar a ilusão assim tão facilmente. Portanto, criou uma enorme parede de corvos, muralha inexpugnável entre mim e ele. A uma ordem sua, todos me atacaram, com garra, bico e asa!
Juntei as mãos e criei uma esfera de electricidade azulada, que culminou na destruição épica de todas as criaturas negras. Livre delas avancei uma vez mais de espada erguida, para acabar com o combate, mas –oh, espanto! – a katana saltou da minha mão na direcção do meu inimigo, quebrando a ilusão.
- Achas que te deixava a katana desprotegida? – gozou ele no seu tom brincalhão.
Ri-me em resposta, não pelas acções dele, mas pelo meu descuido.
- Uchiha Hayato. É o fim. Está na altura de sentires, em primeira mão um jutsu criado por mim. Serás a sua primeira vítima, mas congratulo-te, foi um excelente combate!
Ergui a mão esquerda, mas tremi ao ver a determinação nos olhos do rapaz. Ele não iria ser atingido por algo desprevenido. Contudo, isto estava para além do que ele próprio podia conceber. Abri a mão num só movimento enquanto o Geass fitava o rapaz atentamente.
E começou. Do chão, das pareces, da boca das pessoas do público. As serpentes invadiram a arena, sem dó nem piedade, envolvendo-nos a ambos no seu mar intransponível. Hayato saltou e pulou em vão. As serpentes mordiam-no e picavam-no. Por fim fundiram-se até se tornarem humanóides. Outras, simplesmente penetraram na sua pele. No seu ombro, surgiu Akane. Na sua mão, o olho vermelho de Ryuku. Numa metade da sua cara, a sua própria mãe.
Todos eles o atacavam, sussurrantes.
- Nunca foste o irmão que precisei… - confessou a voz do seu ombro.
- Não és o filho que eu desejava… - disse a mulher, com os seus próprios lábios
- O pior aluno que já tive – murmurou uma voz que saía da sua mão.
O rapaz fitava-me de olhos vagos, negros uma vez mais. Agarrou numa kunai e aproximou-a perigosamente do pescoço. Desapareci num flash e segurei-lhe na mão, travando a kunai junto do pescoço.
- Está tudo bem. Acabou, Hayato-kun.
- Hai – sussurrou ele enquanto caía – ganhaste, Selim.
Peguei nele e levei-o para fora da arena, com todas as honras e ruidosos aplausos, como merecia.