Dia chuvoso, extremamente chuvoso... Toda a casa acordara com aquele som gostoso do estalar das gotas constantes ao chão, havia sido assim toda a madrugada. À mesa, Kinita punha o chá e preparava as coisas para o café-da-manhã.
- Maldita chuva! – Foi a primeira palavra aborrecida de Hiro, que aliás estava com uma feição extremamente feia por ter acabado de acordar.
- Bom dia para você também, Hiro. – Disse a pita, num tom de ironia extremo, a olhar de lado pro irmão.
- Não enche, garota!
- Há quanto tempo não vemos o Hiro nesta mesa, não é gente?! – Disse o pai, num tom de sorriso, mas algo irônico pois sabia que Hiro só não saiu por causa da “maldita chuva”...
- Há quanto tempo eu não lhe via dizendo merdas, não é pai? – Disse o moleque numa voz muito grave e firme, olhando para o pai com uma expressão fria e obscura...
- Olhe aqui! Você devia ser mais educado e portar-te direito! Não temos culpa de estar chovendo! – Gritou o pai, sempre imponente. Algo bravo.
- E você deveria calar a boca. – Falou num tom tranquilo e frio, demonstrando raiva e ironia, num desrespeito tremendo.
- Dá para os machos alfa da casa pararem com a briguinha?! Eu sou alérgica a testosterona! – Berrou Kinita, que aquela hora já tinha vontade de colocar veneno nos pães.
Pai e filho naquele momento apenas trocavam olhares furiosos. O café passou-se sem uma palavra sequer na mesa. O garoto mantinha uma expressão fria, e muitas vezes sorria ironicamente para o pai, numa expressão de pura soberba. E isso conseguia irritá-lo! Nada deixava Daizuke mais bravo que ser rebaixado, ainda pais pelo seu filho moleque.
Ao se levantarem, Hiro ia em direção ao seu quarto e quando passou por perto de seu pai...
- Venha aqui, menino! – O pai pegou o moleque pelo pescoço e bateu com sua cabeça à parede. – Você acha que porque já tem pelos na cara que é homem?! Hein?! – Falava Daizuke aos berros.
- Você pode me soltar?... Eu não gosto de mau hálito. – Disse Hiro, continuando frio e irônico. Daizuke calou por um momento, de raiva, porém continuou o sermão.
- Mas que raio tem você?! O que o fizemos?! Por que tanto desrespeito?!
- Me larga! Tira as mão de mim! Deixa-me em paz! – Disse o moleque aos berros, soltando-se à força de seu pai, que iria devolver o ataque quando...
- Parem! Por favor, parem com isso... – Disse Teshira, simulando um falso choro... De fato estava um pouco triste, era difícil ver as duas pessoas que mais amava brigando constantemente.
Seu irmão olhou-a com um pouco de pena... Talvez porque sabia que ela não tinha culpa de suas desavenças com seus pais e porque não queria de verdade que era passasse por aquilo. Também porque sabia que mal crescesse e ela iria se ver na mesma situação que ele, mas aí já seria um pouco tarde... Tarde demais... Era pena, seu futuro trágico era percebido claramente pelo garoto. Mas ele, mais do que por si só, lutava e insistia por uma verdade para que ela não tivesse eu passar o mesmo. Hiro já não tinha apreço quase nenhum por seus pais, mas aquela garota era tão especial para ele... E ele para ela...
Silêncio fez-se por alguns segundos... O pai, ressabiado, olhou-a com uma expressão de compaixão e a foi abraçar...
- Ô, minha filha... Não chora não... Não vai acontecer nada demais, eu prometo. Eu não vou mais discutir. – Ao dizer isto, Daizuke desferiu um olhar furioso para Hiro, que ria-se em soberba. – Isto é culpa sua! Sua irmã está assim por sua causa!
-... Eu não digo o que tenho vontade de dizer por apreço e respeito a ela, Daizuke...
- Chama-me pai!
- Eu falo como eu quiser! E cala-te... Não quero discutir contigo. Às vezes, ao ver meu próprio pai e espelho por tantos anos agindo como um frango na minha frente dá-me vergonha... Eu fui criado por... ISTO?! Hahahahaaha. – Disse o garoto, a virar-se lentamente para o quarto, apontando o dedo polegar para baixo em sinal de “negativo”. Daizuke chorou...