A manhã já estava no fim quando terminou a construção do terceiro estágio de seu campo de treinamento. Havia cavado um desnível no lado esquerdo do lago, num ângulo raso de mais ou menos vinte graus. Colocando a terra retirada dentro de sacos, empilhou-os nos três cantos do desnível, formando uma parede de proteção para que seu treinamento não resvalasse para dentro da floresta, o que poderia por em risco pessoas ou animais que poderiam ali passar.
No fundo do desnível Ran fixou alvos de madeira. Alguns se escondiam por trás de pedras deitadas que serviam como cobertura, outras ficavam totalmente à mostra, mas traziam desenhos de alvos menores. Esperava, assim, treinar um equilíbrio entre velocidade e precisão. Então, após todos os preparativos, a ninja não se segurou de ansiedade e resolver testar suas habilidades naquele momento.
Pondo-se de pé à frente do declive, retirou três kunais da mochila, fez mira nos alvos sem cobertura e atirou-as de uma vez. Ouviu somente o estalo de dois alvos, e para seu espanto, percebeu que havia errado o terceiro, mais próximo da direita. Caminhou até os alvos, pensando no que havia acontecido, retirou as kunais e retornou a posição anterior reclamando pelo erro.
Tentando com mais afinco, conseguiu acertar, atingindo os alvos menores. Sua auto-estima elevou-se, assim resolveu tentar acertar os alvos sob cobertura. Sem demora, já estava com as kunais nas mãos e as lançou. Todas elas resvalaram na cobertura e desviaram-se dos alvos. Ran se enfureceu e decidiu utilizar a força bruta. Concentrando seu chakra, ela joga uma kunai, faz os selos necessários e com fúria grita: Shuriken Kage Bunshin no Jutsu!
A kunai se multiplica assustadoramente, cobrindo toda a área em declive. Não pôde ver direito se havia acertado, somente conseguiu escutar os repetidos ruídos de algo metralhando todo o cenário. Como tinham uma trajetória caótica, algumas resvalavam nas pedras de cobertura e voavam longe e outras completamente sem trajetória, furavam os sacos de areia. Assim, quando a fumaça dissipou, ela pode ver que conseguira apenas acertar os alvos sem cobertura.
Acalmando-se do nervosismo de sua falha, ela se lembrou dos conselhos de seu pai e teve uma idéia. – Sutileza pode ser uma arma nas mãos do ninja – Dizia ela. Abrindo mais uma vez sua mochila, Ran retirou duas kunais. Concentrou-se nos seis alvos protegidos pelas pedras e as jogou. Apesar da velocidade, ela controlou seu chakra e fez os selos necessários há poucos instantes da chegada aos alvos e gritou novamente: Shuriken Kage Bunshin no Jutsu!
As duas kunais multiplicaram seu número em dez, e todas elas erraram os seus alvos. “Tenho que começar devagar.” – Disse, enquanto se dirigia ao fundo do declive e recuperava as duas kunais previamente atiradas. Chegando novamente na posição indicada, Ran pôs apenas uma kunai na mão direita. Mirou na região central entre os dois alvos encobertos, visando acertar apenas as frestas que propositalmente havia deixado de fora.
Controlou o fluxo de seu chakra, atirou a kunai e repetiu a clonagem. Desta vez, apenas dois clones apareceram seguindo uma trajetória retilínea na lateral da verdadeira. Então, para sua alegria, das três, apenas uma delas acerta o alvo. “Já é um começo!” – Ela vibra. Indo até lá, constatou seu acerto, mas preferiu continuar treinando até que conseguisse acertar todos os seis alvos de uma vez, utilizando os Bushins com precisão.
O sol já estava se pondo, quando o canto dos pássaros foi interrompido pelo grito estridente da ninja. Ofegante, já toda descabelada, Ran observava os três alvos atingidos que caíram com a força do impacto. Estava tentando esta proeza por todo o dia, sentia fome e cansaço. E como a escuridão se aproximava, resolveu retornar no dia seguinte para tentar atingir os seis de uma vez. A ansiedade fazia seu coração bater mais forte. Mesmo assim, após um longo banho e uma boa refeição, o cansaço foi mais forte e ela dormiu pensando no que faria na manhã seguinte.
No dia seguinte, acordou com pressa. Tomou banho e comeu algumas frutas, pondo outras mais na mochila. Vestiu seu equipamento e adentrou na floresta em direção ao campo de treino. Ao chegar, foi logo jogando a mochila no chão e tomando posição. Concentrando-se mais uma vez. Visualizou os pequenos alvos que teria que acertar, calculou a trajetória certa da kunai verdadeira em relação às cópias, deu um pequeno salta para trás e arremessou.
A adrenalina era insuportável, conseguia enxergar a trajetória da kunai e, concentrando e regulando o fluxo do chakra, como havia feito no dia anterior, fez os selos e sussurrou: Shuriken Kage Bunshin no Jutsu. A kunai fazia uma trajetória descendente quando surgiram mais cinco cópias. Todas elas percorrendo transversalmente o espaço, à mesma distância umas das outras. E em poucos milésimos de segundos, todas elas acertam os alvos num ruído único e abafado, seguido do barulho de madeira sob o chão de terra batida.
“Ahhhhhhhhhhhh!” – Gritava enquanto saltava como uma louca para todos os lados. Seu esforço do dia anterior foi extremamente recompensado. Havia acertado os seis alvos encobertos de uma vez. Percebeu que o segredo era o fluxo do chakra para controlar o número de cópias e a trajetória sempre perpendicular à peça original. Só precisava aumentar a velocidade do cálculo da trajetória e então teria uma grande arma na manga.
Controlando sua empolgação, voltou até sua mochila e retirou as frutas. Colocou-as em cima das pedras que serviam de cobertura. Agora elas seriam seus alvos. Calculou a trajetória necessária, concentrou e controlou o fluxo do chakra como já havia feito. Novamente dando um salto para trás ela joga uma kunai, faz os selos e comando o jutsu a ser ativado. Surgindo mais cinco clones, todas as kunais erram os alvos por poucos centímetros. Alguns até chegaram a marcar as frutas, mas não era suficiente.
E assim foi durante todo o resto do dia. O sol já se punha enquanto a ninja estava novamente exausta de tanto treinar aquela manobra. Seus acertos eram promissores, mas havia erros que queria corrigir, pois não poderia dar-se o luxo de errar o alvo numa emergência. Então, após dez acertos seguidos, decidiu retornar ao acampamento já pensando no próximo passo da manobra. Seria arriscado. Mas tentaria. Como sempre.