“Ufa... terminei.” - Dizia Ran enquanto sentava um pouco para tomar ar. Havia acordado antes de o sol nascer para terminar o último estágio de seu precioso campo de treinamento. Ela olhava ao redor, por toda margem do lago, e conseguia ver os alvos que fixara em toda sua extensão. Eram trinta ao todo. Feitos de madeira, eles tinham o formato e o tamanho de um prato e foram pintados com cores chamativas para contrastar com o verde da floresta, facilitando a mira. Ran fazia questão de que fossem pequenos o bastante, para que a dificuldade de seu treinamento aumentasse.
Levantando-se, ela se dirigiu à pequena ilha no centro do lago disposta a começar a testar sua nova área de treino. Vestiu vagarosamente o equipamento ninja, pois seu corpo estava dolorido do esforço dos últimos dias, e se sentou na posição de lótus, começando a concentrar e organizar o fluxo de seu chakra raiton. A paisagem e o silêncio a ajudavam nesta tarefa. Sentia-se em comunhão consigo e com a natureza. A brisa fresca da manhã desenhava seu rosto e das folhas das árvores chiavam balançando ao vento.
Assim, após esta breve preparação, Ran foi até uma grande rocha que havia arrastado pela floresta até aquele local. Seu tamanho era descomunal, chegava a equiparar-se no tamanho a uma pequena carroça. E enquanto passava a corda e a prendia forte nas costas, lembrava do esforço que fez ao trazê-la para cá. E quando estava totalmente amarrada, puxou-a com toda sua força. A tensão da corda a ferira um pouco, mas não a impediu de continuar. Pondo-se de pé, vacilou um pouco e o joelho foi ao chão. Esforçando-se mais, desta vez aumentando a inclinação da coluna, conseguiu levantar a imensa rocha e deu os primeiros passos até a margem do lago.
Ao chegar, sentiu os músculos arderem, pois o peso era tremendo. Acostumando-se com sua carga, Ran concentrou o chakra na sola dos pés, caminhou pesadamente para dentro do lago. Pondo o primeiro pé, sentiu que conseguia equilibrar-se na superfície. Quando pôs o segundo pé, o peso começou a surtir efeito. Aumentou o fluxo de energia, mas não foi suficiente para mantê-la e de súbito a faz afundar até a cintura nas águas geladas do calmo lago.
Mantendo a tranqüilidade, procurou a quantidade certa para poder ficar na superfície. Era uma tarefa difícil, seu corpo procurava por força enquanto seu espírito procurava por energia. Assim, concentrando seu chakra nas mãos, apoiou-se para elevar-se sobre as águas novamente. Colocando as duas mãos por sobre a superfície, Ran gemia pela força exercida até que se viu de pé. Entretanto, quando deu por si, havia deslizado para a área mais profunda do lago, o que fez o desafio muito mais perigoso.
Sentindo a pressão de seus músculos e controlando o fluxo chakra, começou a penosa luta para permanecer na superfície enquanto retornava para a parte mais rasa. Passo após passo, seu temor por afundar começava a incomodar, a água estava gelada e temia por sua vida. Até que, há poucos metros do raso, seu pé afunda poucos centímetros. Aguardou um pouco, concentrou-se e assim que sentiu firmeza, deu o próximo passo. Conseguindo manter o outro pé na superfície, puxou com força o outro e começou a caminhar novamente deixando para trás apenas pesados distúrbios na água.
Chegando à parte mais rasa, sua confiança retornou. Não sabia se por causa da adrenalina ou por causa do costume, o peso da rocha estava lhe incomodando menos, então decidiu permanecer andando por algumas horas. Andou com esforço por toda a margem do lago, preocupada sempre em manter o fluxo certo de chakra. Ainda sentia que tinha uma reserva de energia e por impulso se aventurou novamente pelas águas profundas. Foi quando tudo começou a dar errado.
Seu chakra começava a falhar. Seu esforço também cobrava o preço naquele momento. Mesmo assim, fisicamente sentia que poderia continuar, entretanto, sua energia estava falhando. Não conseguia conduzir o fluxo correto. Ora flutuava, ora deslizava e ora afundava alguns centímetros. Algumas vezes sua perna fraquejava e afundava até os joelhos, só então concentrava chakra nas mãos e ajudava a sair das profundezas.
Vendo que estava se aproximando do limite, Ran resolveu parar para descansar. Dirigindo-se para a margem do lago, conseguiu dar os primeiros passos sem problemas, seu cansaço era grande, então, no meio do caminho para a margem, seu chakra falha. Ela e a rocha são jogados rapidamente para o fundo do lago. Não houve tempo de sequer prender a respiração. Estava a cerca de cinco metros de profundidade. Conseguia ver a luz do sol tremulando na água. Era um belo espetáculo, mas estava se afogando.
Tentou desamarrar-se, mas percebeu que as amarras estavam bastante firmes, principalmente porque, com o contato com a água, as cordas haviam dilatado, contribuindo para que os nós ficassem muito mais firmes. Instaurou-se um princípio de pânico, ela sabia que teria que ser rápida ou então morreria. Ainda tinha alguma energia, apesar da recente falha. Então, concentrando-se seu chakra nas amarras, realizou o Nawanuke no Jutsu. Os nós se desprenderam enquanto Ran nadava desesperadamente para a superfície.
“Cof.. Cof.. Mas que droga!” - Esbravejava ofegante, enquanto nadava para a margem do lago. Quase havia morrido por causa de sua imperícia. Deitou-se sob o sol para aquecer-se, pensou um pouco e preferiu não se abater. Tratou esta derrota como mais um obstáculo a ser vencido. Então pegando fôlego, decidiu por pegar a rocha nas profundezas para continuar seu treino. Concentrou novamente o chakra nos pés para que agisse como uma prancha e deslizou até onde a pedra havia afundado. Não era difícil vê-la nas límpidas águas do lago.
As cordas estavam flutuando, então decidiu utilizá-las para o “resgate” da pedra. Pegando a corda, aumentou o fluxo nos pés e começou a puxar a grande pedra para a superfície. A força necessária era imensa. Braçada após braçada, a pedra avançava apenas poucos metros. Começou a suar novamente. Suas mãos doíam e sua respiração ofegante queimava os pulmões. “Mais forte!” - Ela gritava esforçando-se, pondo toda força para trazer a rocha das profundezas.
Seus pés começavam a afundar novamente. Ran então aumentava o fluxo de energia e conseqüentemente sua força. Puxou e puxou. Seus dentes rangiam enquanto sentia seus músculos contraíam num espasmo dolorido. A pedra se movia. Estava conseguindo. “Mais forte!” - Gritava. O chakra começou a falhar novamente e ela começou a afundar por completo. Então, para evitar que seu esforço fosse em vão, começou a caminhar até a margem para diminuir a profundidade da pedra.
Chegando a margem, ela desaba de cansaço. A rocha já estava numa profundidade razoável, dava para ver parte dela despontando-se para o céu por sobre a superfície. Só então Ran notou que aquilo havia sido um erro infantil. Precisava treinar primeiro com um peso menor, e sua impulsividade quase lhe custara a vida. Decidindo descansar um pouco, ela aproveitou para tomar um pouco d´água e comer algumas frutas silvestres que recolhera no caminho.
Depois deste breve descanso, dirigiu-se a pilha de pedras menores, do tamanho do punho. Abriu a mochila e começou a enchê-la. Quando terminou, pôs a mochila nas costas e começou a concentrar-se. Em relação à rocha anterior, o peso atual era muito inferior, assim Ran previu que não haveria dificuldade. Concentrou seu chakra nos pés e apressou-se para dar o primeiro passo, até que ficou totalmente sob a superfície da água.
Começando a correr, preocupava-se em manter o fluxo certo de chakra para evitar afundar. Enquanto a velocidade aumentava, Ran começava a deslizar criando ondulações enquanto passava. “Agora o segundo passo” - Dizia enquanto juntava as mãos e realizava os selos rapidamente e sussurrava: Ikazuchi no Muchi. Neste instante, um estalo ecoou na floresta e um chicote elétrico refletiu-se na água. Sabia que não podia deixá-lo entrar em contato com a água, o que a poria em risco.
Deslizando nas águas calmas do lago, Ran percorria toda a margem, girando o chicote no alto com vigor. Com a proximidade do primeiro alvo, ela girou pela última vez o chicote, fazendo-o acertar em cheio o alvo de madeira, chamuscando-o. Adicionando mais velocidade, ela viu outros cinco alvos. Pegando um shuriken na mochila, calculou a trajetória correta em instantes e atirou-o com toda força. O shuriken atravessou a distância em apenas um segundo, o suficiente para que a ninja fizesse os selos necessários e gritasse: Shuriken Kage Bunshin no Jutsu.
Infindáveis shurikens surgem do nada e de todos eles, apenas três alvos são alvejados. Passando rapidamente por eles, Ran só teve tempo de olhar para trás e falar mal de seu erro. Voltando sua atenção para os próximos alvos, ela corria em disparada. O vento estava forte e a paisagem passava velozmente, mesmo assim Ran pôde ver as cores berrantes dos alvos seguintes. Esquecendo o cansaço, põe as duas mãos na mochila, concentra seu chakra Raiton, e lança dois shurikens para o alto. Os fios transparentes brilham ao passar pelo sol. A ninja puxa-os com toda força para que adquiram uma trajetória descendente. Os shurikens obedecem e se atiram numa velocidade vertiginosa, só então ela faz os selos necessários e grita: Shuriken Kage Bunshin no Jutsu.
Centenas de shurikens banham a margem do lago, acertando a maioria dos alvos que ali estavam. Tudo isso em segundos, enquanto a ninja passa em disparada utilizando o Mizu no Kinobiri no Jutsu. Agora só faltavam mais dois setores do lago a serem atacados. Dirigindo-se velozmente, Ran põe as duas mãos novamente na mochila e lança nove kunais e shurikens, mantendo as mãos para frente. Eles zunem enquanto na trajetória.
Quando se aproximam, a ninja fecha as mãos. Só então os finos fios tornam-se quase visíveis e os oito dão a volta no alvo, prendendo-o fortemente, enquanto a última kunai, ora escondida entre os oito, continha uma Kibaku Fuda. Acertando o alvo aprisionado, explodindo num espetáculo de fogos de artifício. “Isso!” – Vibrava enquanto partia para o último quadrante.
Resolveu terminar em grande estilo, aumentando a velocidade, Ran mirou os últimos alvos. Concentrando novamente seu chakra Raiton, ela junta as mãos rapidamente fazendo o selo e sussurra: Shunshin no Jutsu. Saindo da água numa pequena explosão de fumaça, a ninja ressurge por trás dos alvos outrora vistos. E com as mãos nuas, começa a esmurrá-los com toda força. Eram cinco alvos. Pequenos como pratos e fixados por grossas estacas.
Enquanto atingia o primeiro com um direto de esquerda, já saltava agilmente para trás e aprumando-se, dá uma forte voadora no segundo alvo, fazendo a estaca quebrar. Faltavam outros três e Ran estava espumando de fúria. Correndo à toda para o próximo alvo, acertou-lhe uma certeira joelhada. Assim que o alvo pendeu, a ninja o utilizou para apoio, girando por cima. A manobra foi suficiente para que ficasse em posição de ataque contra os últimos dois.
Lançando-se por sobre os indefesos alvos, Ran desferiu um chute alto tão forte que arrancou as duas estacas que fixavam os alvos de uma vez, fazendo-os cair na água gelada do lago. Assim, vendo que seu treino havia chegado ao fim, bateu uma mão na outra para tirar a poeira, despedindo-se de mais um dia de treinamento. Satisfeita por ter conseguido construir tudo aquilo com as próprias mãos. Ela sai ofegante, pega suas coisas e some no meio da floresta ao entardecer.
FIM DO TREINO – CONSTRUÇÃO DO CAMPO DE TREINAMENTO