O navio teve o término de sua longa viajem no porto de Kumo que segundo Juugo era o caminho mais seguro rumo à Otogakure já que esta fazia fronteira com Konoha.
- Ótimo, chegamos em menos tempo do que imaginei. – Juugo divagava enquanto seguido de Datte e Karin descia por uma imensa rampa de madeira que ligava o navio ao porto, vários homens ali também desciam e outros até voltavam a subir com caixotes nos braços.
- Estamos bem próximos a Kumo, seria interessante se fossemos lá, não acha Karin? – Juugo comentou quando já haviam desembarcado.
Datte observava a conversa com notável monotonia, em sua cabeça estava amarrado um lenço negro o qual deixava seus cabelos vermelhos espetados para trás tal como Juugo.
- Não, seu idiota! As ordens foram ir para Oto, não vamos parar e nem “visitar” local algum! – Karin repreendia o alto homem como se este fosse uma criança e alinhava os óculos na face.
- Mas... Estamos tão perto. – Juugo comentou triste.
- Eu já disse, não. – Ela continuou enquanto recomeçava a andar.
Estavam em algo como uma imensa planície verdejante, seguiam uma trilha de terra e andavam à horas, já fazia três dias desde que deixaram Kiri e, segundo Juugo, estavam prestes a chegar no pais dos campos de arroz.
Karin olhava à paisagem com a mente distante, era claro que não prestava atenção realmente no belo cenário.
- Karin-sama... No que está pensando? – Datte perguntou cauteloso. E, por um segundo ela pareceu confusa, quando de repente assumiu uma postura tensa e começou a alinhar os óculos compulsivamente.
- N-nada nada! Eu só estava... É, só estava olhando os P-Pássaros daqui! – Ela gaguejava nervosamente.
- Mas não há pássaros o céu... – Juugo fez sombra com as mãos para olhar o céu.- Ou será que você estava procurando um gavião em especial? Você sabe que este pássaro está em um lugar distante agora.
Datte ouviu as palavras de juugo e apenas confundiu-se ainda mais. Karin respirou fundo e relaxou os ombros.
- Antigamente eu, Juugo, Suigetsu e outro amigo viajávamos pelo mundo como nukenins. – Ela disse ainda caminhando, ela olhava o vazio. – Éramos um grupo realmente mal, vivemos vários perigos, Juugo até transformou-se em criança certa vez...
Um silencio se fez, de repente Juugo e Karin pararam de falar e ambos caminharam calados. A ausência de comentário era tensa, Datte sentia que era melhor não continuar, mas a curiosidade o movia.
- E então, o que houve? – Ele perguntou tentando parecer indiferente.
- Suigetsu foi morto a algum tempo, e o outro amigo voltou para konoha e hoje em dia é nosso inimigo de guerra- Juugo disse parecendo incomodado.
Datte olhou para o chão e arrependeu-se de ter perguntado, a morte do amigo com certeza estava pesando na mente dos dois.
A caminhada havia mudado o cenário e o jovem ruivo mal percebera, quando menos esperava estavam em um imenso campo de arroz, o local era dividido em simétricos grandes quadrados os quais separavam-se em um metro uns dos outros criando vários mini-caminhos. Dentro destes quadrados simétricos uns amontoados de tufas de arroz que mais pareciam um gramado estavam postas em um espaçamento padrão inundadas por muita água, parecia uma poça de lama gigante.
Datte observava como o sol do fim-de-tarde transformava aquelas piscinas reluziam a fraca e laranjada luz do sol.
- lindo... – Uma voz feminina falou ao lado de Datte. Ele virou-se bruscamente com as bochechas já vermelhas.
Karin caminhava coincidentemente próxima a Datte olhava também aos campos de arroz, ela sussurrava expressando o quão impressionada estava.
- Olhem. – Juugo então olhando para o horizonte levantou o braço e com o dedo indicador direcionando o horizonte sorriu. – Uma vila! Chegamos!
Karin também olhou e sorriu, Datte não conseguiu prestar atenção ao destino, apenas hipnotizou-se com o sorriso da mulher.
O lugar não era especificamente uma vila, parecia mais uma cidade, pessoas iam e vinham mostrando indiferença à presença aos Kirinins.
- Esta é a vila oculta do som? – Datte disse meio decepcionado. – Pensei que fosse no mínimo uma fortaleza ninja, não?
- Idiota, todos sabem que otogakure se divide em várias pequenas facções de ninjas e é até hoje desconhecido o epicentro operacional da vila. – Karin disse arrogantemente com os braços cruzados.
- Mas então como vamos fazer diplomacia se não há centro de comando? – O ruivo começava a ver que a viajem tornara-se inútil.
- Vamos procurar... – Juugo concluiu voltando a caminhar rumo ao emaranhado de casas e estabelecimentos do povoado.
Eles caminharam através da multidão, nas ruas passavam mulheres, homens, crianças, ninjas de Oto e até mesmo mais raramente samurais, todos cuidando de suas vidas e alheios à presença do trio. O primeiro objetivo do grupo era achar uma hospedaria, a noite já haverá caído e as luzes já se acendiam.
O trio fora parar em uma velha mas aconchegante hospedaria já localizada no lado mais afastado da cidade, não queriam chamar muita atenção, portanto escolheram um local menos movimentado, Juugo foi à frente rumo ao balcão, a frente da porta um capacho dizia “Bem-vindo!” . Datte olhou a o adorno e ignorou-o sussurrando “coisa idiota...”
Juugo caminhou até o balcão, o local era simples, da porta dava-se pouco espaço para o inicio do balcão de madeira onde uma pilha de papéis e um tinteiro fechado ali estavam sob uma pequena camada de pó.
O piso era de madeira e muito brilhoso, as paredes tinham um revestimento colorido, o local parecia alegre.
Atrás do balcão um homem ruivo sorria vestindo roupas negras e envolto por um sobretudo marrom.
- Boa noite senhores, o que desejam? – O homem sorria amável.
Karin se adiantou e falou emburrada.
- Queremos um quarto, um apenas para os três.
- Entendo, são os ninjas de kiri. – Ele virou-se e andou até um quadro a poucos metros dali, lá ele pegou uma das chaves que estavam penduradas. Era um pequeno molho o qual tinha pendurado algo como uma minúscula placa de couro escrito “quarto 21”.
Ele entregou-o para Juugo que o deu rapidamente para Datte.
- Vão à frente, irei tratar dos gastos. – Ele sorriu e piscou para Datte enquanto Karin não via.
O garoto adentrou a um corredor ao lado do balcão e logo foi parar em um espaçoso salão atrás da parede da recepção.
Lá algumas pessoas conversavam em uma mesa, parecia uma família de viajantes, estavam discutindo sobre algo que Datte não entendeu, mesmo assim continuou andando seguindo Karin, subiram uma escada velha de madeira e novamente chegaram a um corredor longo, lá várias portas seguiam espaçadamente umas de frente à outra.
Os dois andaram até chegarem em uma porto com uma pequena placa de ferro que dizia “QUARTO 21”
- Bem, é aqui. – Datte disse sorrindo ao abrir a porta para que Karin passasse, Ela o ignorou e adentrou o recinto.
O local era simples, simplesmente incrível. Era luxuosamente aconchegante tanto que, a cama era decorada com pequenas estampas coloridas tal como as cortinas que cobriam uma janela com vista para a cidade. Era tão brilhante quando os adornos de vidro que embelezavam ainda mais o ambiente. Tudo ali era sem dúvidas perfeito, até mesmo o piso que apesar de ser de madeira criava uma harmonia rústica ali. Datte estava impressionado com a complexidade do quarto.
- Como vamos pagar por isto? – Datte perguntou a Karin que estava paralisada a poucos metros dali olhando a tudo.
- Este local foi reservado a nós por Kiri, temos todas as despesas pagas até o fim deste mês. – Juugo irrompeu pela porta. – Mizukage-sama nos recomendou esta hospedaria, mas eu não esperava por isto. – Ele andou até a cama e despejou a mochila pesada lá. – Vou tomar um banho., até. – Ele acenou e entrou no banheiro ( Que ficava em uma porta na lateral do quarto.)
Datte observava enquanto Karin acomodava-se em uma poltrona ali perto e tirava os sapatos.
Ele observava a tudo meio que paralisado, no fundo o som da ducha ecoava fracamente. Datte andou um pouco e parou próximo a Karin.
- Er... Bom, Kari-sama, esta noite... Você gostaria de andar um pouco pela cidade comigo? Tipo, nós dois... – Ele disse com todas as forças.
- Reconhecimento? – Ela levantou o olhar. – Não, obrigada, o Juugo faz essa parte com os passarinhos dele. – E voltou a tirar os sapatos.
A noite era fria. Datte não havia conseguido pregar os olhos desde que fora deitar-se, memórias confusas e difusas em sua mente persistiam como se flashes de filmes o assombrassem sem dó.
Ele fechou os olhos com força e sentou-se, estava em um pequeno colchão ao lado da cama, em cima dormia Karin e ao lado de Datte (em outro colchão) dormia Juugo como se fosse uma pedra. O garoto pôs as mãos na face e de lá mexeu nos cabelos. Uma lágrima lentamente caiu de seus olhos, seu cabelo estava crescendo aos poucos, já não estava tão curto quando a alguns dias, a esta altura já alcançava o nariz.
Ele na escuridão apalpava a estante ao lado do colchão e lá pegava o lenço negro e amarrou nos cabelos para que não ficassem em seus olhos.
Levantou-se do recinto e indo até a porta saiu dali.
O telhado estava impecavelmente calmo, as nuvens passavam escuras e silenciosas como se fossem gigantes morcegos. A lua estava arqueada e extremamente brilhosa cintilando um brilho assassino.
Datte estava sentado no alto do estabelecimento olhando à cidade apagada, o movimento à muito se dói, deveria ser lá pras quatro da manhã ainda, o sono se fora completamente.
A leve brisa que tocava seu rosto mostrava o quão fria aquela noite estava sendo, mas o frio não importava, diante das lágrimas quentes parecia que o mundo apenas se destruía.
- Yo Datte-kun, nossa, faz tempo que eu não lhe via e cara! Você é igualzinho à sua mãe! Tem também alguns traços do seu pai, mas realmente parece muito com Cira. – O recepcionista da hospedaria aparecia ao seu lado. – Noite linda, não é?
- Q-Quem! O que esta fazendo aqui? E quem lhe disse o nome de minha mãe? – Datte em um salto quase caia do telhado com a aparição do homem.
- Ah, você não deve lembrar de mim mesmo, quando eu te vi você era apenas um criancinha. – Ele sorriu e se aproximou, era escuro, mas a luz do luar mostrava traços do seu rosto, seu cabelo também exibia uma cor mais fraca que o normal, mas mesmo assim era impossível não perceber aquela cabeleira ruiva.
- Voce... É um Uusaki!