- DeathWhisper escreveu:
- Estava-me cada vez mais difícil respirar e tudo o que via agora eram pontinhos brancos a preencher aquela horrenda visão. A dor já não estava só no corte profundo que senti que tinha. Por fim, enchi o peito de ar uma derradeira vez… e mais uma vez, perdi a percepção do mundo.
─ Ela perdeu demasiado sangue.
─ Tragam mais unidades!
─ Temos de ver se ela se aguenta esta noite.Estas vozes pareciam-me distantes, embora estivessem de facto demasiado perto. No entanto, a única voz que eu queria ouvir perto de mim era aquela melodiosa que me pediu para correr, que vinha a meu socorro quando precisava, mas que me ignorava quando eu a procurava.
O sol começou a atingir a minha cara, provocando-me e fazendo com que se tornasse impossível para mim continuar a fingir que estava a descansar.
─ Bonito, bonito. Não bastava não poder fazer nada, agora não sei onde estou…
Alguém estava no meu quarto.
─ Juro Kentai… vais ouvi-las.
Abri os olhos. Eu tinha a mão ligada – foi por aqui que me deram sangue. O meu abdómen estava também ligado, porém talvez devido aos medicamentos, não me doía, para já. Levantei-me devagar e com cuidado.
Com o meu movimento, o rapaz magro virou-se para mim, observando-me cuidadosamente. Seria ele parte da equipa médica? Ou simplesmente um paciente como eu? A chuva começava a cair do lado de fora, embatendo suavemente contra a janela que se encontrava do meu lado direito. Ficamos por uns minutos a olhar um para o outro.
─ Ah, a julgar pela tua cara mais do que pálida e o corpo claramente mal tratado, és um paciente, certo?
O rapaz soltou um estranho riso, olhando de seguida para o tecto, contraindo o seu alto corpo.
─ Pode-se dizer que tenho problemas, sim.
Segundos depois olhei também para o tecto, pois este parecia ter algo fascinante para o rapaz. Por momentos pensei que pudesse até ter uma aranha ou algo do género, mas não. Bem, estávamos de facto num hospital, por isso a higiene é importante… ou assim o esperava.
─ Certo… Estás aqui por causa do braço? ─ Esperei que ele respondesse, mas como não o fez nos minutos seguintes, continuei: ─ Eu estou aqui por causa da minha barriga.
Dizendo isto, apontei com os dois indicadores para as ligaduras que me cercavam. O rapaz pareceu desconfortável. Talvez não gostasse da ideia de ver a sua barriga cortada. Era realmente mau para quem gostasse imenso de comer. Ora bolas, agora que pensava, provavelmente eu não podia comer nada sólido por uns tempos. Seria o fim do meu mundo…
─ Ela parece ser aquela rapariga… ─ Ouvi-o dizer, pensativo.
─ Uh?
─ Ah… nada, nada, desculpa. ─ Disse ele, novamente desconfortável.
─ Oh, desculpa, nem nos apresentamos. Chamo-me Miyuki. E tu?
De novo um silêncio instalou-se, ouvindo-se apenas a chuva que caía cada vez com mais força.
─ …
Itari. Mas não ligues, não devo ficar aqui muito tempo.
Disse ele por fim, ao mesmo tempo que a porta abriu-se com brusquidão.
─ Venha connosco. ─ Disse um homem que tinha um colete de Chuunin.
─ Uou, para onde?
Esse homem não me respondeu, mas uma figura que entrava agora no quarto fez-me esse favor:
─ Irá ser questionada quanto à sua razão de vir a Kumo. ─ A voz grave daquele jounin alcançou os meus ouvidos na perfeição.
─ Ah sim? Por que carga de água? ─ Como nenhum dos dois me respondeu, eu continuei. ─ Mas eu estou sequer em condições de sair desta cama?
O jounin olhou para o corredor, onde um médico se encontrava com uns papéis na mão. Assim que ele acenou afirmativamente, o homem mais velho aproximou-se de mim. Colocando a sua robusta mão sobre o meu pulso, obrigou-me a levantar-me. Com um movimento, libertei o meu braço do seu domínio.
─ Eu consigo andar sozinha, obrigada. ─ Disse com uma falsa intenção. ─ Então e ele? ─ Apontei para a beira da janela. ─ Também não vai?
Os dois shinobis olharam para o local onde o meu dedo indicava. Ambos ergueram a sobrancelha, até que um deles por fim disse:
─ Não está ninguém ali.
Confusa, olhei novamente, apenas para reparar que o rapaz de cabelos curtos estava quase tão surpreendido quanto aqueles dois guardas… embora talvez eu estivesse a confundir com ansiedade.
─ Como assim não está ali ninguém?! Estou a
vê-lo com os meus olhos.
O shinobi mais novo olhou para o outro, que lhe devolveu o olhar. ─ Mas, menina, não está ninguém mais neste quarto senão nós os três.
Por momentos concentrei-me na minha respiração. Olhei novamente para Itari. Ele parecia ansioso. Aproximei-me dele. Ele atrapalhou-se, recuou uns passos, mas as suas pernas encontraram acidentalmente uma das camas, provocando a sua queda.
─ Ele está mesmo aqui. ─ Apontei novamente, ao mesmo tempo que ia perdendo a convicção das minhas palavras.
─ Menina, não está ninguém aí.
Olhei Itari nos olhos. Por alguma razão aquele olhar azul perdido atrás dos seus óculos rectangulares não me era estranho. Ah, aquela melancolia de ouvir a chuva a bater enquanto nada mais havia no meu mundo senão aqueles olhos azuis… nada mais senão aquela pessoa. Onde estará
ela…?
─ Então acho que é melhor chamarem-me um médico, porque eu não me estou a sentir bem.
Com isto, os dois shinobis saíram para o corredor à procura do médico que há minutos estava ali. Itari, já mais calmo, levantou-se e recompôs-se.
─ Pois… sobre o facto de eu não existir… mais ou menos…
--------------
Special thanks to J (aka InKatd) por me ter ajudado imenso :p