Podia ouvir-se os corvos a grasnar enquanto a noite caia perto de Takigakure no Sato. Dois viajantes, uma mulher e homem, caminham calmamente por entre as árvores que davam penumbra pela longa estrada fora. Ambos os ninjas pareciam ser fugitivos, ou algo parecido, de Kirigakure, as ambições deles são estranhas e o problema é que eu ia ser afectado por isso.
-Eiji-kun, de certeza que Taki é por aqui? – Pergunta a jovem garota parando um pouco desconfiada pelo rumo que o outro adolescente levava.
-Miyuki-chan, tenho a certeza que Taki é por aqui… - respondia o jovem garoto um pouco cansado da insistência da rapariga por dizer que este estava perdido.
A rapariga suspira, ela não sabia o caminho portanto vê-se obrigada a seguir o seu amigo. Eles continuam a caminhar em frente enquanto os corvos esvoaçavam pelas penumbras da noite à espera de algum ser inferior mostrasse a sua fraqueza e fosse facilmente comido. Um dos corvos avista um corpo encostado a um tronco de uma árvore e esvoaça na sua direcção pousando sobre o seu ombro majestosamente. Os dois jovens não deixam de reparar no inanimado encostado à árvore com uma corvo sobre o seu ombro num constante grasnar.
-Miyuki-chan, olhe! – Aponta o rapaz de capuz verde para o meu corpo enquanto se aproxima calmamente.
-Acho que o devemos de deixar aí, ele deve de morrer calmamente, se calhar não passa de um fraco, deixa-o aí! – Ignora-me a rapariga mantendo-se na mesma posição enquanto vê o rapaz a aproximar-se e o corvo a levantar voo fugindo dos convidados.
Este ajoelha-se e coloca dois dos seus dedos sobre as veias do meu pescoço, depois de sentir a minha pulsação, e verificar que estava em bom estado, retira os dedos e começa a analisar o meu corpo – Está vivo, não parece ter ferimentos… Deve de estar a dormir… - Conclui Eiji após fazer um exame médico completo.
A rapariga já acha mais interesse em mim sabendo que estou a dormir, aproxima-se de mim igualmente e ajoelha-se para me ver – Confesso que ele é um bocadinho fofo… Vamos montar acampamento, já se faz tarde… - ordena Miyuki largando a sua mochila numa árvore ali perto.
O amigo consente e continua a olhar para mim enquanto tentava perceber onde eu era “fofo”. Desiste da ideia e ajuda a Miyuki a montar o acampamento. Quando montam a tenda e preparam a fogueira, decidem colocar o meu corpo sobre o calor produzido pela chama.
-… - Permaneço calado quando abro os olhos, a primeira coisa que vejo é as brasas da fogueira a passarem perto da minha face. Sento-me, onde outrora estava deitado, e olho em meu redor, parecia que tinha sido recolhido por alguém. Levanto-me sossegadamente e decido entrar na tenda.
Dentro da tenda estavam três futon e o meu pergaminho, ignoro os futon e rapidamente coloco o pergaminho às costas para empreender viagem. Saio da tenda, quando aparece Miyuki e Eiji a transportar alguma madeira e a colocarem perto da tenda.
-Já acordou! – Alivia-se Miyuki atiçando a fogueira para que ainda pudesse aquecê-los por uns momentos e afastar alguns animas perigosos.
-Eu não precisava de ajuda desnecessária, agora desculpem-me mas tenho assuntos a tratar… - respondo friamente colocando as mãos nos bolsos e cruzando as brasas da fogueira.
-Parou! – Grita a Miyuki parando o meu avanço – Mas está escuro, não vais ver nada!
-O caminho da vingança não precisa de luz, desde que o meu desejo de matar corra-me no sangue não preciso de luz que me guie… - justifico confiante em ir-me embora.
-Mas… não vais ter onde dormir! – Insiste Miyuki enquanto Eiji se senta à lareira brincando com ela sossegado.
-Uma alma alcança o descanso eterno quando é abandonada, o que me resta é honrar a minha família com sangue… - insisto da mesma forma não hesitando a desaparecer dali.
-Mas… e o que vais comer? – Pergunta a rapariga lembrando-se que ainda não tinha feito o jantar.
Hesito um pouco, oiço a minha barriga a roncar, a rapariga esperava ansiosamente pela minha nova resposta como se isto fosse um tipo de jogo no qual eu não estava a ganhar. Dou meia-volta e olho para a rapariga rancorosamente.
-Muito bem… Esta noite fico com vocês! – Grito aproximando-me deles.
-Boa! – Anima-se a jovem começando a preparar o jantar enquanto me junto a Eiji calado.
Noutro lugar…
-Parece que já está a fazer aliados... – comenta um vulto escondido nas sombras de um esconderijo.
-Hai… Tsut… Quer dizer, Kouta fazer aliados como aqueles dois vai dar algum problema… - concorda o líder massajando a bola de cristal suavemente enquanto me observa a dormir em conjunto com os outros dois ninjas.
O vulto dá um passo para trás e retira-se, apressadamente recolhe uns papéis que entrega para o seu líder impaciente. Este, sentado na poltrona, recebe os papéis de bom agrado e examina-os sem tardar.
-Eiji e Miyuki, Nukkenins de Kiri… - murmura enquanto dá umas olhadas nas fichas deles – Deixa o Kouta fazer-se amigo deles, só lhe vão dar problemas, ahahah! – Ri-se o líder atirando as folhas para o chão pisando-as posteriormente mostrando a sua superioridade.
No dia a seguir…
-AH! Ah…. - Acordo ofegante, tinha tido um pesadelo muito estranho com algumas pessoas que me pareciam familiares, tento esquecer-me de algo tão fútil como um pesadelo e levanto-me retirando-me da tenda, sem sequer reparar que os dois ninjas de Kiri já haviam acordado.
Podia haver a fogueira, agora extinta após uma noite fria e sem ser atiçada regularmente, e os dois adolescentes sentados sobre uma pedra a conversar animadamente. Caminho lentamente na direcção deles e olho-os friamente.
-Obrigado por me acolherem… agora tenho que ir embora… - agradeço dobrando o tronco para a frente e preparando-me para seguir viagem.
A rapariga salta da pedra e agarra-me por um braço impedindo-me de avançar – Espere um pouco! Primeiro quero lutar com você! – Grita sendo a mais directa possível.
-Eh… Já era de adivinhar… - comenta Eiji nada surpreso pela situação.
Viro-me para ela e olho-a do alto, um pedido de luta, tentador e interessante. Claro que aceitei…