Kisuke olhava para Kurai com uma raiva tão grande e intensa que mesmo aquele simples contacto ocular era suficiente para induzir mal-estar no Jounin. O corpo do ruivo tremia com toda aquela tensão emocional acumulada na sua alma e que parecia agora preparada para explodir a qualquer momento. Enquanto isso, Kurai permanecia imóvel e sempre atento a qualquer movimento que o seu adversário pudesse fazer.

- K-Kisuke... - Chamou Mitsu a muito custo, na tentativa de ter a atenção do seu irmão.
- Mitsu, vai ficar tudo bem. Não te preocupes, eu irei vingar-te...
- Ouve... - Interrompeu o Uchiha moribundo, num tom próximo do inaudível. - E-está tudo bem... - Continuou, fazendo uma pausa para tossir e expelir mais algum sangue da sua boca. - Estou feliz... por te ter ajudado... - Concluiu o rapaz esboçando um pequeno mas puro sorriso antes de perecer naquele local, nos braços do seu irmão. A sua face angelical evidenciava a vivência de uma vida sem ressentimentos ou tarefas inacabadas, mostrando que estivesse ele onde quer que fosse, estaria sempre a sorrir e a olhar pelo seu querido irmão. Ao ver e ouvir as últimas palavras de Mitsu no seu leito de morte, Kisuke não conseguiu segurar as restantes lágrimas que lhe caíam agora e encostou carinhosamente a sua testa na cabeça do irmão. Foi neste gesto que o ruivo reparou em algo que trazia consigo ao pescoço mas ao qual nunca dera grande valor: um terço de metal que estava preso ao seu pescoço, pendia agora sobre o cadáver de Mitsu e chamava a atenção do ruivo. Naquele momento, e ao ver a paz que invadira o seu irmão, algo de diferente pareceu despertar na consciência de Kisuke, algo que fez com que os seus planos e ideais prévios ruíssem e que lhe trouxe, mesmo que por breves instantes, alguma calma e paz de espírito. Toda aquela raiva e intenção assassina que há pouco se concentrara no ser, havia agora desaparecido e, no seu lugar, nada mais se encontrava a não ser um vazio: nesse instante, o ninja de cabelos vermelhos não era mais do que um cadáver confuso e ao mesmo tempo apático e alheio a tudo que se passava ao seu redor. Foi envolto nesta apatia e desinteresse que Kisuke colocou o corpo do seu irmão no chão, retirou o terço do seu pescoço, agarrando firmemente na cruz com a mão, e abandonou aquele local, cambaleando como um zombie por cima dos corpos que jaziam no solo. A sua presença de espírito naquele momento era tão fraca que facilmente passaria despercebido pelo meio dos guardas e da confusão que se instalara nos pisos superiores.

Fiquei completamente boquiaberto quando vi o ruivo sair do interior da cela, com o olhar fixado no vazio enquanto cambaleava em direcção às escadas. Caminhava como um bêbedo sem rumo, totalmente alheio ao cadáver de Hokori que acabara de pisar e o fizera tropeçar um pouco.

- O que aconteceu? - Perguntei ao Kurai-sensei que vinha agora ao meu encontro, depois de Kisuke já ter desaparecido da nossa vista. O Jounin ignorou a minha questão e permaneceu em silêncio por um bom tempo.
- Vamos embora. - Declarou o homem, recompondo-se e começando a subir a escadaria. Espreitando para o interior da cela, vi o cadáver de Mitsu e deduzi o que tinha acontecido: ainda pensei em dizer algo mas achei melhor permanecer calado e seguir o Sensei. Em silêncio, subimos as escadas e voltámos novamente ao andar onde os irmãos Fuujin e Raijin estavam encarcerados. Kurai continuou sempre o seu caminho sem dizer nada mas eu detive-me por alguns instantes, fixando o meu olhar em algo que estava no solo daquele piso: coberto parcialmente por terra, consegui ver aquilo que parecia ser a capa de um livro. Abaixei-me para o apanhar e, depois de sacudir a sujidade que o cobria, consegui ver a sua capa acastanhada e uma palavra que parecia ser o título: "Hakujou". Infelizmente, não tive tempo de o folhear pois Kurai apercebeu-se da minha ausência e voltou para trás. Guardei rapidamente o livro na minha bolsa bege e depois segui novamente o meu Sensei até ao piso superior.

*** Dez minutos depois ***

A calma e segurança parecia voltar a reinar no estabelecimento prisional de Konoha. Com a ajuda de mais uma equipa que Loki havia enviado, o motim acabou por ser travado e a toda a nossa equipa reúna-se agora na entrada do edifício.

- Qual é o ponto da situação? - Inquiriu Kurai a Furinji que tinha ficado encarregue de averiguar todas as celas e os prisioneiros que tinham conseguido escapar.
- Ao todo, mais de duas dezenas de condenados conseguiram fugir sem deixar rasto...
- E o Kotaru? - Interrompeu o Jounin para pedir informação sobre a cela que havia pedido à rapariga para verificar mal tinham chegado ao local. A Gennin de cabelos alaranjados limitou-se a acenar negativamente com a cabeça, enquanto Norizu não conseguiu conter a sua impulsividade habitual.
- Quem é esse? - Questionou o jovem de sobrancelhas farfalhudas, acabando por não obter qualquer resposta com muita pena minha. A verdade é que aquela questão era algo que também me deixava bastante curioso, embora não fosse um ponto fácil de abordar.
- Vamos regressar a Konoha e reportar o ocorrido. - Ordenou Kurai rigidamente, iniciando a sua marcha logo de seguida. Em alguns minutos, começávamos a avistar as grandes muralhas que envolviam a vila da folha e em breve estaríamos a entrar no gabinete do Hokage, onde contámos tudo o que havia sucedido. Loki não parecia muito satisfeito com a situação mas também sabia que não podíamos ter feito melhor. Assim terminou aquele dia de loucos, regressando cada um a sua casa sem trocarmos grandes palavras.