Filler 1 – Prologo
“Estávamos finalmente a terminar a nossa missão. Depois de tantos duelos sangrentos contra criaturas bizarras, sentíamos que o fim chegava mais perto a cada passo às escuras que dávamos.”
-Calma… - Ouve-se uma voz feminina do outro lado de uma porta cinzenta, enferrujada à volta da maçaneta e nas dobradiças, dificultando a translação perante a mesma. A maçaneta é dobrada e puxada milhões de vezes, mas devido à ferrugem torna-se impossível de abrir. A maçaneta pára de rodar e ouve-se um suspiro do outro lado – Vamos ter que arrombar… - Comenta a voz, instala-se um silêncio assustador, depois ouve-se um baque tremendo na porta, o tecto cede um pouco deixando cair alguns fragmentos que o constituem. Ouve-se outro baque e a porta acaba por cair em pleno chão, do outro lado estava uma rapariga de cabelos castanhos e olhos esmeralda, com a perna estendida, esta sou eu, Nadeshiko Tsukuda!
Sigo pelo local da porta até entrar na habitação escura, seguida por mais três pessoas, três rapazes e uma rapariga, todos se dispersam pelos cantos daquele quarto escuro. Cada um com a respectiva lanterna, iluminam a sala à procura de qualquer coisa. O quarto era todo cinzento tal como a porta e continha alguns armários e estantes espalhados por todo o aposento, todos enferrujados o que dava o sinal que aquele sítio já fora abandonado há algum tempo, agora porque terá sido abandonado?
-Merda… - Pragueja um dos rapazes enquanto levanta a sola das suas sandálias e olha para debaixo delas.
-Modera as palavras Nisshoku-kun! – Peço gentilmente, odiava quando as pessoas diziam palavrões, eu própria tentava não os dizer. Obviamente eu nem tinha reparado para onde ele estava a olhar, estava entretida e esfolhear uns livros com uma mão, enquanto com a outra apontava a luz da lanterna para as pequenas letrinhas que os compunham.
-Não é isso… Pisei mesmo merda…. – Defende-se o rapaz que tinha o nome de Nisshoku enquanto apontava para a sola das sandálias, algo gelatinoso tinha se pegado à sola das sandálias e reluzia um verde muito intenso, como se tratasse de algo radioactivo.
-Ah! Ah! Ah! Ah! – Ria-se um rapaz de cabelos cinzentos enquanto apontava a sua lanterna para a coisa peganhenta – É bom sinal! Um sinal radioactivo, mas bom! Ah! Ah! Ah!
-Não, não é bom sinal Yoshizumi… - Opina um rapaz, desta vez um rapaz muito parecido com um gato, devido às pontas do seu cabelo parecerem duas orelhas, enquanto começa a apontar a lanterna para o tecto e janelas, o tecto estava repleto daquela coisa peganhenta que lentamente caia para o chão, enquanto praticamente todas as janelas estavam partidas vendo-se alguns dos cacos no solo – Se há merda então alguma coisa anda por aqui!
-Tenta não baixar a moral Tamao-kun! – Resmunga uma rapariga de olhos esmeralda, iguais aos meus, que estava a olhar para um boneco encostando a uma parede. Tinha uma pequena poça de sangue na cabeça e o resto da poça de sangue ganhava forma ao longo da parede que o segurava.
-Mas ele acaba por ter razão Mitsuki-chan… Alguma coisa está aqui… - Comento enquanto aponto a lanterna para fora da porta por onde entrámos, estava tudo muito quieto, nada se mexia, nada respirava, nada fazia ruídos.
Perante tanto silêncio acabámos por gelar de medo, apontávamos as lanternas para todas as direcções freneticamente. Um ataque pode vir de qualquer lugar, e nenhum de nós lhe apetecia morrer e apodrecer naquela habitação, ou servir de jantar…. Para nos “aquecer” ouvimos uns grunhidos assustadores provenientes de fora, olhámos pelas janelas e vemos uns vultos a caminharem em quatro patas, e depois a desaparecerem deixando-nos a neve a cair e a lua a brilhar na nossa visão.
-Vão nos comer… Eles vão nos comer… - Amedrontava-se Nisshoku enquanto pegava numa kunai a tremer e se direccionava para as janelas.
-Não te preocupes! – Assegura Yoshizumi desembainhando a sua bela katana e colocando-se à beira do rapaz amedrontado para fornecer apoio mútuo – Somos invisíveis e sabemos a merda… Ninguém nos vai querer comer!
-Quanto a vocês não sei… Mas vou levar uns quantos filhos-da-puta para o inferno comigo! – Gritava Mitsuki retirando uma flauta do seu bolso e unindo-se a Tamao para fornecerem apoio mútuo de igual forma.
-Porque me juntei a gente que só sabe dizer asneiras? – Pensei enquanto me aproximava dos dois grupos para fornecer ajuda a ambos. Franzo o sobrolho e mantenho-me paciente à espera do inimigo.
A estratégia estava feita, o ataque é a melhor defesa, este era o nosso pensamento naquela época. Ouvimos mais grunhidos a proferirem de cima. Uma janela é partida e um monstro de um tamanho de um porco cai sobre Tamao e começa a atacá-lo. O ninja ainda consegue bloquear o repentino ataque, enquanto Mitsuki retira uma kunai do bolso e crava-a nos olhos do bicho libertando o rapaz. Mas outro monstro já vinha da porta em direcção da rapariga indefesa.
-Mitsuki-chan, cuidado! – Exclamo colocando-me na intersecção do ataque e arremessando a kunai na direcção da cara do bicho. Este leva com o arremesso no pleno nariz e perece em pleno ar, o corpo inanimado acaba por rastejar até meus pés deixando um nojento rasto de sangue por trás. Olho para a rapariga que acabei de salvar, esta sorri enquanto diz baixinho “Boa!”.
-Girls Power, damn! – Elogiava Yoshizumi, de um jeito mais trocista, da nossa prestação, mas isso já era típico dele.
Outra janela era partida, agora mais seis monstros descem desde o telhado e começa mais um encontro sangrento com estes bichos nojentos. Lutamos corajosamente, um deles acaba por conseguir atirar-me ao chão e segurar-me nos braços enquanto tentava morder-me a cara, exalava o seu hálito fedorento contra mim causando-me náuseas. Eu tentava desesperadamente livrar-me daquele bicho antes que ele me matasse, ninguém podia me salvar, todos estavam ocupados com os outros bichos…
Uns quantos meses antes…. (muitos meses mesmo!)
-Daymou-sama, recebemos o relatório que a Akatsuki está a voltar à activa! – Reporta um dos Jounnin fazendo uma vénia previamente.
Aparentemente falava para uma cadeira que estava de costas para ele, mas sentado nela, estava um homem na casa dos trinta anos, fumando um cachimbo, enquanto coçava na sua barbicha. Assimilava as palavras do Jounnin, uma de cada vez. Nada comenta, olha pela janela observando a sua aldeia, Kusagakure no Sato, coberta por relva como sempre. Encosta a face da cara ao punho fechado, o cachimbo expele uma pequena nuvem de fumo, à medida que se eleva no ar vai se desvanecendo. Por respeito o Jounnin ficava calado, mas no seu interior só lhe apetecia gritar para que o Daymou se despachasse na decisão e tomar medidas preventivas. Finalmente o grande chefe da vila vira a cadeira para o Jounnin e olha para ele carrancudo.
-Muito bem preparem-se para o plano… - Ordena exalando outra nuvem de fumo que se desvanecia no ar.
O Jounnin levanta-se num ápice, coloca a mão à frente da hitaiate, com o símbolo da vila de Kusagakure, e grita “Hai”! Depois desaparece num Sunshin. O Daymou dá outra volta com a sua cadeira, voltando a direccionar-se contra a janela. Era a sua maneira de se relaxar, fumar o cachimbo enquanto olhava para a pequena e deslumbrante vila da relva.
-Se a Akatsuki tenta atacar a aldeia, vamos ser facilmente mortos… Creio que isolar a Nadeshiko e os outros seja a melhor escolha…. Uma rapariga tão bonita e a ter que ficar isolada do mundo… Os sacrifícios que um Daymou tem que correr são estes… - Pensava enquanto olhava para a sua vila orgulhoso enquanto a sua mente era invadida por imagens da rapariga.
Fazia-se tarde e todos os habitantes já estavam a dormir. Raras são as luzes que a esta hora ainda estavam acesas, amanhã era um novo dia pacato na aldeia e todos tinham que acordar cedo, cada um para cumprir a sua tarefa específica, havia tarefas insignificantes e outras mais significantes. Mas todas são essenciais para um bom funcionamento de uma vila. O que era um Daymou sem os seus trabalhadores? Nada…
Mas pela calada da noite via-se um vulto a correr, o Jounnin, que outrora estava no gabinete do Daymou a reportar o incidente, pára num beco sem saída. Este beco continha pouca iluminação, um poste eléctrico que para além de estar sozinho, não estava a funcionar muito bem, piscando constantemente. Mais três vultos aparecem no beco, caminham na direcção do Jounnin e trocam algumas palavras sigilosas.
-Amanhã é o dia… Nadeshiko e o resto dos jovens vão ser isolados amanhã…. Preparem-se…