*** Num qualquer local da floresta de Konoha ***

As densas copas das árvores cobriam parcialmente a luz do sol e impediam que esta iluminasse o caminho daquele homem que vagueava pelo meio da intensa flora. Esse homem era Uchiha Kisuke, um ninja sem rumo nem objectivo, caminhando em frente sem ter uma direcção. Essa rosto inexpressivo permanecia da mesma maneira que quando escapara da prisão de Konoha, carregando apenas uma cruz de metal e uma dor mais forte do que a que ele era capaz de suportar. Das sombras da floresta, um vulto observava o ruivo.

- Tal como eu pensara, a tua hora ainda não havia chegado e não estavas destinado a perecer naquela prisão. - Declarou o homem que observava Kisuke, aproximando-se dele lentamente. Contudo, o ruivo permanecia imerso na sua apatia e continuava a deambular lentamente, ignorando o homem de pequenos cabelos loiros. - Percebo que mudaste desde a ultima vez que te vi. Não conseguiste cumprir a tua vingança? - Insistiu o indivíduo, cujo olhar era de um azul tão puro que era possível ver as nuvens atravessarem a sua retina e cuja face angelical mostrava-se capaz de acalmar a mais temida das feras.
- Mais uma vez, perdi tudo o que amava... - Murmurou o Uchiha, fixando o seu olhar no solo enquanto continuava a caminhar.
- E isso aumentou a tua sede de vingança?
- Não... - Respondeu Kisuke após alguns segundos, detendo depois pela primeira vez os seus passos e fazendo mais uma pausa antes de concluir o seu raciocínio. - Desta vez tudo o que ficou foi o vazio, como se nem valesse a pena lutar...
- Tudo vale a pena se a alma não é pequena. - Retorquiu o loiro, num tom quase poético.
- Dizes então que devo retomar a minha vingança? - Inquiriu o ruivo, confuso e cansado.
- Não, tu já estás envolto na escuridão e isso apenas traria mais trevas à tua pobre alma. - Declarou firmemente a figura angelical, cujo casaco em tons de preto e cinzento, com uma cruz estampada nas suas costas, lhe conferia um ar místico. - Todavia, é na escuridão que a luz se torna mais visível. Agarra-te a ela, segue-a com toda a tua alma e encontrarás o caminho da salvação.
- Infelizmente, não acredito que haja salvação para mim. Todos estes anos de clausura mudaram o meu ser e levaram-me para um caminho sem retorno. - Concluiu o Uchiha, num tom de nítida tristeza.
- O Senhor perdoa aqueles que se arrependem, nunca é tarde de mais para mudar. Escutai o vosso coração e segui o caminho da salvação. Estas são as palavras de Deus Todo-o-Poderoso. - Contrapôs o loiro, mostrando agora alguma exaltação e entusiasmo na sua voz ao mesmo tempo que levantava os seus braços para o céu. - Se estiverdes disposto a seguir-me, instruir-te-ei os mandamentos do Senhor e serás abençoado pela Sua orientação e protecção.

*** Na vila de Konoha ***

Uma noite passara desde o motim no estabelecimento prisional e o nosso grupo parecia estar a regressar à normalidade. Kurai voltara a ser ele mesmo e negligenciara completamente os seus alunos para poder vaguear pela aldeia e apreciar as beldades que por ela circulam, Furinji combinara um encontro a sós com Norizu (algo que seria estranho, se não fosse a cumplicidade que estes pareciam ter desenvolvido nos últimos dias) e eu caminhava lentamente pelas ruas da vila da folha, acompanhado de Tekina. O tempo estava ameno, óptimo para um passeio, mas ainda havia algo que me incomodava.

- Tekki, conheces aquele Kotaru por quem o Sensei perguntei à Furinji antes de regressarmos da prisão? - Questionei, após algum tempo de reflexão e hesitação.
- Isso é algo que diz respeito ao Sensei. Se queres saber, o melhor é perguntares-lhe directamente. - Respondeu o Aburame com prontidão. Tal como eu esperara, não seria fácil resolver aquele mistério e toda a gente parecia passar a batata quente para outra pessoa sempre que isso vinha à baila.
- Mudando de assunto, o que é achas da relação entre a Furinji e o Norizu? - Perguntou o rapaz que parecia ficar sempre um pouco incomodado quando pensava naqueles dois.
- Bem, ao princípio fiquei surpreendido pela cumplicidade entre eles mas agora já nem ligo e encaro como algo natural. - Respondi, secamente e sem pensar muito no assunto.
- Mas... achas que ela poderá estar interessada nele? - Retorquiu o Aburame, com a sua timidez característica.
- Não me parece. - Afirmei, fazendo depois uma breve pausa. - Mas o que é que isso te interessa, estás interessado nela?
- Não sei... - Disse o loiro com toda a sua sinceridade. - Não sei se é isso ou é outra coisa qualquer, mas sinto-me mais calmo e tranquilo quando estou ao pé dela. Como se fosse capaz de aturar qualquer coisa desde que me permitissem continuar a seu lado. - O rosto do rapaz corava um pouco ao declarar os seus sentimentos daquela forma e eu não resisti a meter-me com ele.
- Tchiii, estás mesmo apanhadinho por ela!
- Oh, não é nada disso. - Tentou ele disfarçar, ao sentir-se atacado pela minha provocação. - Olha, já devia era estar em casa a esta hora. Vemo-nos amanhã. - Despediu-se apressadamente, acelerando o passo até desaparecer do meu campo de visão. Decidi então dirigir-me para casa enquanto pensava naquele assunto: a verdade é que ficava feliz por saber os sentimentos do Tekina, desde o primeiro dia que me dera bem com ele e seria interessante vê-lo com a Furinji.

Envolto nos meus pensamentos, caminhei por um bom tempo até ser interrompido por alguém inesperado.
- Hey, Kakushi! - Gritava o rapaz de sobrancelhas farfalhudas, ao ver-me do fundo da rua.
- Olá, Norizu. - Cumprimentei com um sorriso formal. - Não devias estar com a Furinji.
- Sim, já estivemos juntos e depois lembrei-me de algo mais importante! - Exclamou o rapaz, num crescendo de excitação. - Ainda não tive o primeiro duelo com o meu rival! - Concluiu, fazendo uma estranha pose que terminava com o seu indicador a apontar para mim. Sinceramente, já nem me lembrava dessa história da rivalidade mas, uma vez que não tinha nada para fazer, decidi aceitar o seu desafio e testar as suas capacidades. Aliás, desde que o vira combater durante a invasão da prisão, que ficara algo curioso com as suas capacidades e esta era a oportunidade ideal para o conhecer melhor e treinar as minhas técnicas.
- Tudo bem, vamos para o campo de treinos e lá poderemos lutar à vontade. - Retorqui, acabando por ser contagiado pelo seu entusiasmo excessivo.
- Oh yeah, mostra-me toda a força da tua juventude!