Eu honestamente odeio fazer isto, mas para perceberem o que vai acontecer daqui para a frente, era bom que lessem isto. Podem ler só a partir do meio se quiserem, mas pelo menos a parte final tem importância para o desenvolvimento da história. Caso não tenham paciência pra ler aquilo tudo, no último capítulo...
Este é muito provavelmente o último filler antes dos wargames. Agora só mesmo o duelo com a Tixa (H)
Anyway, enjoy 8DD
Chegada As vozes na sala ao lado permaneciam demasiado baixas para que ela conseguisse perceber o que quer que fosse da conversa. Passou os dedos pelos fios de cabelo molhados. A cara de Emi estava gravada a fogo na sua mente, impedindo-a de dormir por mais do que breves horas. Desde que fora salva por Yori, que o seu cérebro parecia ter desistido de tentar raciocinar. Por mais que tentasse, nada do que tinha acontecido na noite anterior fazia qualquer sentido.
Ela sempre foi óptima em genjutsu, mas em vez de o usar, manteve sempre um combate a curta distância. A porta abriu-se, dando passagem a Kenichi e a Yori. O homem de tez escura fitou-a com ar preocupado, antes de rir numa tentativa de quebrar a tensão presente no espaço.
— Tenho que ir, Aruko-chan. Vemo-nos mais tarde! — despediu-se no seu habitual tom entusiasta.
A morena acenou, os seus olhos não deixando o chão. Manteve-se imóvel, mesmo quando a sua visão do soalho escuro foi quebrada pelo aparecimento do rosto do moreno que se ajoelhara aos seus pés. A noção de que estavam sozinhos só se abateu sobre ela quando os olhos azuis-escuros se focaram nos seus.
— Estás bem?
— É a décima vez que me perguntam isso hoje. — reclamou, a sua voz mais fraca que o habitual.
Yori passou a mão pelo cabelo negro, despenteando-se ainda mais. — Eu não te devia ter deixado sozinha daquela maneira. Era suposto não conseguires sair da casa depois de lá entrares. — a expressão dele transmitia nada mais do que arrependimento — Exagerei no genjutsu e acabei por te pôr numa situação-
— A culpa não foi tua. — interrompeu Aruko — O que aconteceu, aconteceu. Chega de auto-comiseração, sim?
Levantou-se, obrigando-o a fazer o mesmo. A diferença de alturas exigiu que a morena erguesse o resto para o conseguir encarar.
Porque é que eu tenho que ser mais baixa que toda a gente? — Vou tirar-te daqui. Não sabemos quantas pessoas sabem da tua localização. — avisou, decidido.
Yori passou-lhe ao lado, a sua atenção passando num ápice dela, para o espaço à sua volta. Abriu a mochila pousada na mesa de madeira, iniciando a sua travessia entre a cozinha e a sala de estar, enchendo-a com mantimentos e água em minutos.
— Não me devias dizer porque é que há pessoas a quererem a minha cabeça?
— Nem por isso.
— Eu tenho que me conseguir proteger sem a vossa ajuda.
— Sem dúvida. — retorquiu, os seus dedos passando pelas capas dos livros, em forma de selecção.
Suspirou, derrotada. — Vamos para onde?
— Alguma vez foste a Iwagakure?
Aruko ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços. — Não… Estaremos seguros lá?
Yori fitou-a por cima do ombro, o primeiro sorriso que o via esboçar desde que ele a elevara nos braços, a cruzar os seus lábios — Não faço ideia.
___________________
— Quem é que precisa dela, de qualquer maneira?
— Pelos vistos foi mais útil morta do que viva.
O riso correu a maioria dos presentes na sala. A mulher levou o copo aos lábios pintados de vermelho vivo, tragando a bebida escura. Sentiu a garganta queimar à passagem do líquido, o riso prestes a escapar do seu controlo. A situação era mais do que hilária. Quantos já tinham caído? Três? Quatro? De qualquer maneira, era impossível não desfrutar da situação. O soco dado à cabeceira da mesa, além de estremecer o velho objecto de madeira, levou ao imediato silêncio de todos, o silêncio cortante regressando ao local.
— Estou farto da vossa incompetência!
Todos engoliram em seco. Sorriu. Bem, quase todos. Os olhos negros focaram-se nos dela, a fúria que deles emanava, a perfurá-la.
— É a tua vez, Z.
Afastou o cristal e, com um aperto, estilhaçou-o em pedaços. Os pequenos vidros infiltraram-se na sua pele, pequenos golpes nascendo na pele imaculada. Sorriu abertamente, o entusiasmo a invadi-la.
— Já não era sem tempo.
________________
— Estou farta de andar, sabias?
Revirou os olhos. Desde quando é que se tinha voluntariado para aquilo? — Eu é que vou carregado e tu é que estás cansada?
— Estamos a andar há séculos!
— Relembra-me como é que te conseguiste tornar ninja?
Ouviu-a expirar de frustração atrás de si, fazendo-o sorrir. — Podias ser um cavalheiro e levar-me às cavalitas, ou assim.
— Sou um cavalheiro, não teu escravo.
Voltaram a cair no silêncio que nenhum dos dois se sentia obrigado a quebrar. Devia ser a melhor coisa de a ter como companhia. Com Kenichi, excepto em casos pontuais, as suas jornadas eram sempre ao som dos monólogos infindáveis do mais velho, que só pioravam quando ele se apercebia que Yori não lhe estava a ligar nenhuma. Mas Aruko parecia apreciar o silêncio. Ou pelo menos, não sentia a necessidade de o evitar.
— Ela está morta, não está?
O tom dela foi tão baixo que quase lhe passou despercebido. — O quê?
— A Emi. — repetiu, a sua voz ganhando força na reafirmação — Está morta não está?
Não respondeu, o que aparentemente era confirmação suficiente. Após uns minutos de ponderação, voltou a dirigir-se a ele — Ela não me queria matar.
Isso fez com que Yori parasse e se virasse para trás. Aruko tinha a expressão de profunda reflexão, os olhos castanhos fixos no homem à sua frente. — Ela podia ter tido muito menos trabalho, se tivesse evitado um estilo de combate corpo a corpo. E além disso, ela hesitou no final. — não se surpreendeu quando ela o olhou nos olhos — Não estou a dizer que ela não estava ali para me matar, mas, pelo menos uma parte dela, não o queria fazer.
— Talvez. — permitiu, franzindo as sobrancelhas — Mas isso não justifica nada.
Ela parou ao seu lado, sorrindo fracamente — Nunca disse que justificava.
Os passos da kunoichi chegaram-lhe aos ouvidos, fazendo-o retomar a marcha lado a lado com a morena. Depois de terem atravessado o oceano e desembarcarem no País do Fogo, Aruko tinha parecido uma criança numa loja de doces. Por mais que tentasse disfarçar, os seus olhos brilhavam com cada esquina que viravam, com cada novo rosto que viam, com cada paisagem descortinada à frente de ambos. Sorriu, fitando-a pelo canto do olho. O seu porte mantinha-se decidido, e ela emanava uma moderada onda de excitação e entusiasmo que o impediam de se desmoralizar pelo caminho ridiculamente longo que tinham percorrido. Mas também, depois de atravessarem o País do Fogo, Kusagakure e parte do País da Terra, os míseros quilómetros que faltavam, pareciam insignificantes.
— Nunca te ensinaram a não confiar em estranhos? — questionou em tom de gozo, ao fim de mais um período de silêncio.
— Mais vezes do que imaginas.
— Então porque é que aceitaste vir comigo?
Ela fitou-o antes de lhe sorrir — Não faço a mínima ideia.
Yori não conseguiu evitar rir com o comentário. Antes que pudesse replicar, a atenção da Aruko mudou de alvo, os seus olhos esbugalhados com a visão à sua frente. O moreno espreguiçou-se, aliviado.
Finalmente.— Aruko-chan, sê bem-vinda a Iwagakure.