Uma rajada de frio cruzava o ar colidindo com uns ramos alheios à paisagem cavernal daquele local. Tais ramos que, ao serem molestados pelo vento, perdem alguma da sua essência ao deixarem caírem duas insignificantes folhas, tais folhas que ainda balançam um pouco no ar antes de aterrarem delicadamente na superfície rochosa.
-Está MESMO muito frio! – Resmungou uma voz feminina proveniente do buraco, que se podia considerar como caverna, não muito afastado do solo onde o casal de folhas caíra.
-Porque é que não trouxeste algo vestido para te tapares? – Perguntou o rapaz olhando para a rapariga loira à sua frente, esta que tinha grande parte do seu tronco nu enquanto o seu semblante era de uma cara zangada, apesar de não lhe ser dado muita importância – Sinceramente Kimera, já deste melhor uso a esses neurónios…
-Eu tenho uma ideia… - A rapariga loira parecia simplesmente esquecer-se por completo do frio ou do tema de conversa. Como prova, esta simplesmente colocava-se de gatas no solo rochoso e aproximava-se sensualmente do rapaz como uma felina não conseguindo esconder o sorriso matreiro na sua cara – Que me dizes a aquecermo-nos um ao outro? Que tal Katsu`zinho?
-Fica para a próxima, ao contrário de certas pessoas eu não ando por aí nu… - Ironizou o rapaz pegando num graveto à sua beira e atirando-o para o centro da fogueira à frente de ambos, esta que até agora tinha passado despercebida. O fogo aceitou de bom agrado o alimento e não tardou nada a engoli-lo numa combustão de cores vivas contribuindo Kimera e Katsu com calor, e estes não podiam ficar mais felizes – É só buscar o dinheiro e amanhã à tarde já devemos de estar no acampamento. Não te preocupes boneca…
A rapariga voltava a ignorá-lo, não cessando o seu movimento quando Katsu tinha sido bastante específico a dizer que não queria nada com ela. Ela abria os braços e parecia ambicionar abraçar o pescoço dele, inicialmente o Nukenin ressentia-se e estava disposto a recusar, contudo, de um momento para o outro e sem justificação, este parecia também abrir os braços para envolver o corpo da companheira no seu, como forma de se aquecerem a ambos. O coração batia, cada vez mais forte e os olhares deles fitavam-se mediante os braços se aproximavam, ansiando cada vez mais o corpo do outro. É nesse exato momento, no exato momento em que as mãos começam a tocar-se, que a rapariga coloca os braços atrás da cabeça e deixa-se cair para o lado numa confortável posição para dormir.
-Então vamos lá dormir baka… - Despediu-se a rapariga fechando as pálpebras de imediato e parecendo adormecer sem grandes problemas.
O rapaz suspirou e recolheu os braços para junto do seu corpo, olhando de seguida para a fogueira incansável à sua frente. As pálpebras fecharam-se instintivamente e o rapaz abriu-as de imediato assustando-se por quase ter adormecido. Voltou a dar uma olhada ao seu redor para ter maior segurança e só depois é que conseguiu deitar-se sobre o seu futon e lá adormecer, agradecendo a uma identidade superior qualquer por não ter que voltar a dormir no mesmo futon que Kimera.

O Sol nascera rápido e os brilhos matinais já se apressavam a despertar todos os seres vivos do bosque. Esquilos saíam dos buracos das suas casas nos troncos das árvores e batiam terreno à procura de comida para poderem suportar o Inverno, mesmo que este ainda estivesse longe. Já se notava a chegada de alguns peixes no pequeno rio perto da caverna, tal peixes que saltavam e chapinhavam na água, felizes por acharam a sua casa temporária e logo se apressavam a reproduzir ou alimentar-se para que as suas famílias não se rompessem. Aves menores e alguns falcões já cruzavam os ares à procura de comida ou simplesmente a passearam e a observarem o esplendor do bosque. Até mesmo as flores roxas e azuis que cresciam perto da margem do rio pareciam ter vida quando leves brisas passavam por elas e faziam as suas belas pétalas dançar de alegria. Sim, era uma paisagem bela e isso era algo que Katsu adorava.
O rapaz olhava para um pequeno coelho a sair da sua toca e a aproximar-se desconfiadamente de uma flor roxa perto da margem do rio. O seu pequeno nariz mexia-se constantemente numa forma nervosa e as suas orelhas mantinham-se de pés e bem alertas. O coelho aproximava o seu nariz dessa mesma flor e começava a cheirá-la, o seu pólen a entrar-lhe pelas narinas enviando pequenos sinais de nervosos de prazer ao cérebro. O coelho parecera gostar da flor pois tentava puxá-la pelo caule, apesar do seu esforço em vão. Espantosamente, uma kunai atinge uma rocha não muito longe do coelho, este que ouve o som e rapidamente se acobarda correndo para a toca mais próxima de si.
-Que estás a fazer? – Perguntou Katsu virando-se para o lado e vendo Kimera acordada, apesar das suas olheiras anunciarem que esta ainda precisava de algumas horas de sono devido à intensidade do negro.
-A caçar o almoço, em vez de estar a ficar a olhar para ele feito um estúpido como tu! Nunca ouviste dizer que não se deve comer com os olhos? – Troçou a rapariga numa forma severa apesar do seu sorriso ser um misto de bondade com prazer mediante as suas mãos delineavam os cabelos soltos dela até o seu penteado restaurar o seu aspeto normal de cabelo liso e curto até aos ombros – És dos poucos rapazes que vê-me a arranjar. Um homem de sorte confesso…
-É, também sou um dos poucos rapazes que tenho que aturar o teu mau-humor matinal! – Ripostou o rapaz olhando para as cinzas que se levantavam da fogueira e observando que pequenas beatas ainda se encontravam perdidas no meio daquele monte de lenha queimada e desfeita. Assim, este pega no seu cantil e despeja um pouco de água por cima das beatas não querendo estragar a bela paisagem que há pouco admirava com tanto orgulho. Voltava a guardar o cantil à cintura e pegava na mochila onde Kimera havia arrumado todos os pertences, tendo esta provavelmente limitando-se a atirar a roupa e os futon para dentro dela certificando-se que cabia tudo dentro – Vamos recuperar logo o dinheiro…
-Mau-humor matinal? – Perguntou a rapariga fitando as costas do rapaz com severidade desta vez – Mau-humor matinal? Eu sou um anjo todo o dia. UM ANJO!
-E lá vem… - Suspirou o rapaz recebendo um encontrão da rapariga que se adiantava dele mostrando pouco disposição para continuar a falar.
Ambos avançavam e a paisagem natural ao seu redor começava a desaparecer. Por fim, quando estes sobem um pequeno relevo com um pouco de ervas e flores, conseguem avistar a aldeia que têm vindo a procurar há mais de dois dias. E era lá que terminariam a missão.