Ao término da caminhada, lá se encontravam Katsu e Kimera à frente de uma taberna de madeira. Comparando-a com os outros edifícios da aldeia, este estabelecimento podia-se ser considerado o mais rico em termos estéticos. Ao contrário de outros edifícios, esta taberna estava limpa pelo lado de fora e notava-se que as tábuas de madeira eram repintadas na sua devida altura. A própria tabuleta presa à berma do telhado a anunciar “Taberna 100-Rads” estava visualmente bela, as letras não eram de néon como algumas tabernas já tinham, mas pelo menos recebiam cuidados, ao contrário de outras.
-Eu não sei como é que venho sempre parar a estes sítios quando estou contigo – Refilou o Nukenin afastando a porta da taberna e adentrando no estabelecimento sendo seguido fielmente por Kimera que não conseguia esconder o seu contentamento.
-Tu também adoras tabernas fofito. E não é aqui que o velhote com a dívida está? - Defendeu a companheira apesar de não se importar muito com a resposta deste pois já se apressara a correr na direção do balcão à procura que algum criado que a servisse.
Como se fosse um cão que quase nunca saía a passear, Katsu deixava a sua amiga em paz. Olhava ao redor à procura do seu alvo. O estabelecimento era tão belo dentro como por fora. As mesas eram feitas de madeira, mas esta já era coberta por suaves camadas de doirado, e estavam estabelecidas numa organização de três espantosas filas. Os bancos eram constituídos da mesma forma que as mesas e, em ambas as decorações, notavam-se como eram limpos e as camadas de tintas devidamente repintadas. Era um local respetivamente pequeno, ao longo das paredes notavam-se alguns quadros, uns mais caros que outros, algumas manchas de comida ou bebida, com certeza devido a clientes mais porcos que o costume, e alguns panfletos a mostrarem o menu da casa. O chão era também de madeira mas este conseguia manter o seu brilho por muitas botas sujas que por lá passassem.
-Aí está… - Enunciou o rapaz chegando-se perto de uma mesa encostada ao fundo da taberna onde se situava um idoso a beber chá – O senhor deve dinheiro ao meu clã…
O homem beberica um pouco do seu chá e pousa suavemente a caneca na superfície da mesa, fita Katsu curiosamente e depois pega delicadamente no panfleto que o Nukenin lhe apontava. Nesse mesmo panfleto estava a sua cara, com o seu nome por debaixo e o valor do dinheiro que devia ao clã Imagawa.
-Muito bem, já tratamos de negócios… Que tal fazeres companhia a este bom velho enquanto bebemos um pouco de chá Ginseng? Vai fazer-te bem meu jovem… - Pedia o velho pousando o panfleto em cima da mesa não muito longe de si e voltando a pegar no chá para beber mais um pouco.
De mau grado e a agoirar um pouco, Katsu lá arrasta a cadeira frustradamente e senta-se nela. Os seus olhos cruzam a cara do idoso que ainda estava a bebericar o chá, os seus cotovelos vão de encontro à superfície da mesa rudemente enquanto lambia os seus beiços sentindo a sua garganta seca e o senhor a beber daquele chá mesmo à sua frente.
-O QUÊ? – Berrou Kimera batendo com os punhos na superfície de madeira no balcão fitando o servente com um semblante irritado e depois olhando à sua volta como se tivesse à procura do seu companheiro – Não servem álcool nesta espelunca?
-Desculpe-me mas esta taberna deixou de vender álcool há muito tempo. Agora focamo-nos no chá… - Explicava o servente delicadamente mesmo que a rapariga à sua frente quase que estivesse a dar-lhe um murro.
-ÁLCOOL! - Gritou Kimera abraçando uma garrafa de sake por cima de uma mesa, não notando que esta estava vazia, e muito menos que os clientes dessa mesma mesa estavam a olhá-la com desdém - Porque é que o álcool não cresce nas árvores? Tanto tempo no mato não dá nem para uma pinga!
-Ah, desculpe-me… - Pediu um dos clientes nessa mesma mesa que olhava para a rapariga loira a roçar-se na garrafa de chá que eles tinham acabado de beber.
A rapariga parava de se roçar e olhava para eles, enervada. Saltava da mesa e olhava para a garrafa em cima da mesma e depois para os clientes. Uma ilusão ótica, ou o desespero, levou-lhe a acreditar que aquela pequena chaleira de chá era sake. Frustrada e ainda com sede, esta acerta com um pontapé na chaleira violentamente assustando os clientes da mesa que levam os braços à frente como que proteção.
-Meu caro, acho que a sua amiga não está bem. – Afirmava o velho deixando que o seu olhar se dirigisse até a rapariga loira que estava a gritar com o criado no balcão, este que só tentava acalmá-la em vão.
-Não pode ser… - Refilou Katsu afastando a cadeira de imediato e correndo na direção da rapariga loira – KIMERA ESTÁ QUIETA!
-Kimera? – Perguntou-se um homem olhando curiosamente para os dois mercenários, voltando depois a pegar na sua chávena e bebericando mais um pouco de chá.
O rapaz move-se velozmente para a beira dele agarrando-lhe no pulso de uma das mãos e trazendo-a consigo. Esta ainda oferecia resistência continuando a gritar com o criado por não lhe servirem álcool e o criado tentava sempre defender-se estupidamente. Por fim a rapariga estava calma, sentada à frente do velho em conjunto com Katsu, este que voltava a pousar a chávena em cima da mesa e os olhava com interesse.
-Prontos para começar? – Perguntou este com interesse.
Katsu fitava-o indiferente, querendo simplesmente o dinheiro, apesar de Kimera olhá-lo com diversão.
-Começar o quê? – Perguntou a Fukeru não conseguindo esconder a sua voz ainda irritada e o seu semblante também não escondia as feições enervadas.
-Não querem que eu responda às vossas perguntas, meus caros? - Interrogava o velho numa voz rouca.
-Não estou para aturar esta merda! – Retirou-se a rapariga rudemente afastando a cadeira quase com um pontapé – Katsu encontrámo-nos lá fora, vou ver se arranjo de beber.
-Perdoe-a, é de manhã e nesta altura ela não costuma estar bem-disposta… - Perdoava-se o rapaz abaixando a cabeça mostrando a sua sinceridade ao pedir o devido perdão apesar do idoso não parar de olhá-lo com interesse.
-Um futuro negro e branco, Katsu Imagawa... - Murmurou o velho mantendo sempre a mesma voz rouca por muito que bebesse o chá - És bastante... interessante...
-Como sabe o meu nome? – Perguntou o rapaz levantando a sua cabeça de imediato para que as suas órbitas castanhas se cruzassem com os olhos grisalhos do mais velho, este que mantinha uma expressão séria e indiferente.
-Sou um Oráculo filho. Sei muitas coisas, principalmente sobre o famoso “Nightmare” do clã Imagawa… - O homem interrompia-se para voltar a encher a sua vazia chávena com mais chá de Ginseng deixando Katsu ainda a olhar para ele – Agora, faz as tuas perguntas para que eu te possa responder. Primeiro falo contigo, depois pago o que te trouxe aqui…