“O dia amanhecia lá fora e toda Kumo despertava com ele. Exceto eu. Já estava acordado há algumas poucas horas, andando de um lado para o outro dentro do quarto. Havia perdido o sono. Não conseguia conter a ansiedade por estar, de fato, dentro do mundo ninja!”
Kou Mitsukubane estava aparentemente nervoso. Também pudera: ansiava com o dia em que se tornaria, de fato, um shinobi. Conforme o sol se erguia lá fora, por trás de todas aquelas nuvens formadas devido à altitude, cada vez mais se podia perceber que as também moradoras daquela casa já haviam despertado.
– Tu não achas melhor começar a se arrumar, querido? – pode-se ouvir a voz macia da mãe de Kou, Yukiko Mistukubane, ecoar pelo corredor.
– Sim, mãe, é o que estou a fazer! – gritou o garoto franzino em resposta. Kou entrou então no banheiro e ligou o chuveiro. A água morna pela manhã tinha efeito revigorante sobre o pequeno ninja. Terminado o banho, foi para frente do espelho. Permaneceu ali, parado, por algum tempo, se olhando. Ele estava ficando cada vez mais parecido com o seu pai. Ou melhor, com o que pode saber dele, afinal, só o conhecera por fotos e histórias de seu feito heróico.
Há doze anos, Kanji Mitsukubane, pai de Kou, morrera em uma missão pela própria vila. Pelo que se sabe, um vilarejo próximo foi invadido por ninjas assassinos os quais não se sabia o país de origem. Em uma missão de espionagem, Kanji descobriu que o ataque ao vilarejo era apenas uma distração para algo imensamente pior: por ser um lugar com economia em crescimento devido à grande produção de tabaco, oferecia riscos a negócios ilegais que funcionavam a cerca dali. Os donos de tais negócios então decidiram que a destruição do vilarejo se fazia necessária.
Assim que tomou conhecimento de tais informações, o pai de Kou projetou uma grande quantidade de clones e os mandou evacuar todo o lugar. Não se sabe ao certo o que houve a partir daí, pois os fatos se difundiram em meio aos boatos. A única coisa que se pode ter certeza é que o vilarejo foi destruído com uma explosão de larga escala, mas quase todos os seus habitantes escaparam ilesos, graças a Kanji.
– Ainda serei como você, pai... – murmurou Kou, ainda de frente ao espelho. Abandonando seus pensamentos, o garoto colocou sua blusa azul claro de mangas curtas, sua calça cinza, seus sapatos, o colar que seu pai lhe dera e caminhou até o andar de baixo, onde um cheiro gostoso anunciava que sua mãe havia preparado o café da manhã. Ao chegar na cozinha, encontrou, sentadas à mesa, suas duas razões de viver: de um lado, a mãe – com seu longo cabelo castanho solto sobre os ombros, deixando-a com uma aparência mais jovial que de costume – e do outro, sua irmãzinha de cinco anos, Yumi Mitsukubane, que bebia seu leite matinal.
– E chegou o ninja mais espetacular de Kumo! – falou Yukiko, com um sorriso – Venha, sente-se conosco e deixe-me terminar de arrumar-te, meu querido.
Assim que Kou sentou à mesa, teve colocado em sua frente seu café. Enquanto comia, sua mãe enrolava seu braço esquerdo com faixas brancas.
– Todo dia eu enrolava as faixas no braço do seu pai. Ele adorava, porque essas faixas sempre o lembravam do período em que trabalhei no hospital daqui. Foi lá que nos conhecemos – disse a mãe, com o sorriso no rosto e um olhar perdido. Quando terminou, começou a guardar o que tinha sobrado sobre a mesa e depois foi para a cozinha, deixando Kou sozinho com Yumi.
– Hey, irmãozão, não está esquecendo-te de nada? – perguntou com sua voz infantil, balançando em suas pequenas mãos a bandana contendo o símbolo de Kumo.
– Como pude me esquecer do mais importante? Quer colocá-la para mim, Yumi?
Mal Kou terminou de falar, a garotinha saltou da cadeira e foi ao seu encontro. Ela posicionou a bandana na testa do mais velho e a amarrou na parte de trás da cabeça. Depois deu um beijo em seu rosto e foi para cozinha, junto de sua mãe. O gennin pegou sua mochila, que já estava preparada perto da porta, despediu-se de sua família e saiu rumo ao seu destino.