O Horizonte reluzente! Primeiros passos de Kai e Daisuke
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Lá está ele! Vá acordá-lo Daisuke!
O homem de quem saia à ordem, era um rapaz que aparentava estar na casa dos 30 anos. Seu cabelo espetado e negro refletia algumas características de seu clã. O colar que lhe cercava o pescoço possuía um canino de lobo, e pelo tamanho do dente assimilava-o a um espantoso animal. Suas vestes eram discretas, o que lhe chamava atenção era unicamente aquela faixa manchada de sangue velho no braço direito.
O pequeno cão obedecia a sua instrução, corria até aquele despreocupado adolescente repousando na negra sombra de uma árvore.
- Arrf!
O latido assimilou-se a um alerta. Em seguida algumas bufadas no rosto daquele dorminhoco foram feitas pelo animal. Talvez aquelas pequenas expiradas de ar quente fossem o suficiente para despertar o “presunto” deitado ali. - M-mas... O quê... Ahhh Daisuke para! Hahahahaha.
Kai abriu vagarosamente seus olhos e contra a luz notou a presença de seu companheiro canino e de seu tio, Stevan. Os dois lhe pareciam mensageiro de algo importante, que o acordar naquele momento poderia ser relevante para sua vida. Porém contrariou sua própria persistência e voltou a cochilar. O sono veio como uma ótima sensação, como se estivesse relaxando numa banheira quente numa manhã de inverno, porém seu curto momento de êxtase foi interrompido por um estrondo vocal elaborado por seu tio: - Kai seu palerma! Levante essa bunda daí e vá começar sua aprendizagem shinobi. Desse jeito você nunca vai me superar!
Novamente se entregando aos delírios do mundo dos sonhos, o garoto recusou a ordem de seu familiar e com um pouco de esforço queixou-se. - Ahh tio, deixe-me dormir. Tenho de estar bem descansado quando for começar com isso...
- Nada disso, tu vai começar é já. Levanta aí seu bundão! E cuide para não quebrar nada antes de sair de casa.
Kai sempre foi um garoto descuidado, despreocupado. Suas ações geralmente davam muita dor de cabeça para seu tio. Isso foi um dos motivos que lhe arranjaram para sair de casa cedo e ir treinar com seu familiar Stevan. Sua família não possuía mais condições para lutar, e estavam se entregando a apenas pagar contas e alimentar os velhos cães de caças já desgastados pelo tempo. Stevan que era veterano de guerra ajudava-os de vez em quando, mas recebeu a missão de cuidar de seu sobrinho quando voltara de uma missão.
Os Inuzukas estavam perdendo atenções com o final da quinta grande guerra ninja, havia poucos e ainda precisavam se fortalecer... Kai poderia ser o jovem certo para ajudar a corroborar o seu clã, mas tal vagabundo não se preocupava tanto com essa meta, e estava a ver navios. A falta do que fazer obrigou seu tio a presentear-lhe com um companheiro de luta audacioso e atento. Daisuke, um cão de raça Husk Siberiana, que ao contrário de seu dono Inuzuka, era muito mais cuidadoso, este laço formou uma união de personalidades opostas, a hiperatividade de Kai era o resultado da calma de seu cão, assim seu tio não precisou se preocupar tanto com o garoto já que achara o cão ideal para isso.
O Inuzuka era raro se dar bem com alguém, pois sua característica trapalhona afastava os demais e gerava um ambiente de solidão para o garoto. Embora tenha esse desconforto de não ter muitos amigos, Kai gerou um laço incrivelmente forte com seu cachorro e quando estavam junto um formava o outro. Não havia dois companheiros lutando lado a lado, havia somente um.
- Tio! Seu desgraçado! Espere, eu e Daisuke ainda temos de nos arrumar para ir! [/color] Brandou o garoto bem-humorado para seu tio que estava já saindo daquele pátio apertado da casa que dividiam até então. -... arfff... – O olhar do animal traçou a aparência de quem não concorda com alguma coisa.
- Daisuke, eu sei que você já está pronto! Mas não me deixe sozinho nessa seu paspalho!
O pequeno espaço reservado para algumas tralhas velhas era o armazém do garoto, aos sete anos tinha como ocupação juntar porcarias e jogar todas lá. Gostava de conhecer a natureza, por isso quando tinha tempo buscava algo no meio desses ambientes para entender como funcionavam. Alguns diziam que esse hobby era inútil e só traria sujeira para dentro de casa, mas para Kai era um meio de se descobrir as coisas para que não precisasse esforço para lidar com elas mais tarde.
Apanhou um velho e empoeirado manto que repousava por ali até então. O manto de cor verde escura era em geral usado para protegê-lo de insetos e outras pragas quando se enfiava em lugares cheios destes.
Logo vestiu tal capa, e se dirigiu junto de seu cão até Stevan. Ele que já estava aguardando pelos dois na rua de frente para a casa, voltou-se a seu sobrinho e o chamou atenção quando Kai reconheceu aquela face sem expressão, e protegida pela sombra de seus cabelos. Stevan então começou a falar, num tom sério e preciso. - Kai, preste atenção. O mundo ninja não é brincadeira, hoje você se torna um homem, mas um homem morto assuma isso e não terá de se surpreender nos momentos mais difíceis. Este colar que carrego é apenas uma prova de confiança, mas que vale muito para mim. Eu não quero fazer como aqueles paspalhos de histórias que dão lembranças para seus sucessores carregarem, mas quero que confie apenas em si mesmo... E em seu cão (com cuidado claro). Pegue isso, e não se esqueça do que aprendeu com o pouco tempo que passou ao lado de seu tio aqui. Tenho de sair para aprender algo mais sobre cães, seguiremos caminhos diferentes agora. - Stevan fazia uma pausa depois de passar o colar com o canino de lobo para o garoto enquanto Kai deixava escorrer uma ou duas lágrimas. Seu tio não tinha muito tempo então colocou a mão no ombro dele e deu suas últimas palavras:- Lembre-se moleque, dê o seu melhor sempre. E não chore, seja qual for a situação. -
O Sol que marcava 16 horas refletiu no rosto daquele homem que respondeu com um sorriso confiante e reluzente pela aparência de seu sobrinho.
Vamos Morfeu! - Ordenava ele a seu companheiro fiel de caça, um Bloodhound. O cão possuía um olhar pacífico, mas parecia esconder um dom ou algo como uma característica que encobria sua falta de espírito. Suas patas demonstravam desgaste e suas dianteiras eram destaque por possuir faixas brancas enroladas até a coxa do animal. As orelhas caídas pareciam sacos velhos pendurados sobre um crânio canino, mas logo se remexeram ao escutar a ordem de seu dono.
- Arr... Arfff! Arff! –
O latir pesado ecoou pelo pátio como um trovão, e logo ficou lado a lado com aquele homem que estava a sair de viagem por talvez um longo tempo.
Por um momento Kai retomou a face de seu mestre, e abaixou a cabeça deixando somente metade de seu rosto aparecer. Os anos que passara junto a seu tio lhe ensinaram coisas que guardaria sempre, mesmo lembrando-se das trocas de soco e das demais brincadeiras, são algo que não as trocaria por nada. Mas ele sabia que algum dia teria de sair da toca segura da vida para encarar os desafios rotineiros cravados pela vida.
O silêncio tomou conta de si por instantes, mas deixou de pertencê-lo quando relembrou da fala de seu mestre, enxugou as lágrimas e a injeção de espírito veio na hora resultando em uma nova filosofia de vida para si:
Fechando seus punhos o garoto então levantou um em direção ao Sol e refletiu de forma expressiva.
- Eu darei o meu melhor, tio! Pode ter certeza!
Já dominado pelo espírito da confiança e da persistência, disparou junto de seu cão em direção a algum lugar que pudesse dar seus primeiro socos e pontapés.