Os dois Nukkenin`s e o refém subiam escadas acima, deixando para trás os lamentos e murmúrios delirantes dos convidados sobre o efeito da ilusão criada para os manter quietos. À medida que subiam as escadas, Takeshi vangloriava-se pela facilidade do assalto e como o dinheiro a entrar nos seus bolsos encheria tão bem os seus estômagos, enquanto Katsu tentava não pensar demasiado, mantendo-se apenas vigilante.
Por fim as escadas anunciaram o seu fim, entregando os três a um longo corredor cheio de portas distribuídas ao longo das paredes. Um tapete vermelho, extenso o suficiente para que os três o pudessem pisar ao mesmo tempo, ditava um caminho linear para uma porta em especial, que no entanto não representava nada de extraordinário em relação às outras.
- O Yashori está aqui. – O senhor do casarão parou e pousou a mão na maçaneta – Por favor, não nos levem o diamante! Ele é um tesouro de família, demasiado precioso para ser levado por vocês! Por favor, imploro-vos, bons senhores!
Takeshi nem se dignou a responder, demasiado cego pela preciosidade da joia, afastando o refém com um pontapé a abrindo a porta de rompante. Nem espreitou, entrando simplesmente como um animal ingénuo e curioso. Apesar de relutante, Katsu seguiu-o de imediato num instinto protetor, esquecendo-se que atrás, o corpo pontapeado desfazia-se numa nuvem de fumo.
A sala estava totalmente escura, sendo impossível localizar qualquer indício do diamante. Algo dizia ao Akatsuki que aquele plano não estava a correr assim tão bem, quando os seus pés perderam o contacto com o solo. O Imagawa só se apercebeu da armadilha em que caíra quando o seu corpo entrava num longo e denso buraco, acompanhado pelo seu grito de espanto enquanto que o seu corpo se esborracha dolorosamente num manto de espinhos mortais.
- Katsu-sensei! – Gritou Takeshi à escuridão que engolia gradualmente o seu professor, até deixar de vê-lo. Finalmente com os sentidos alarmados, o ladrão elevou a cabeça à procura de um culpado, recebendo uma potente patada na cara que o arremessou para longe do buraco. Limpando um fio de sangue na cara, o adolescente ativou o seu Sharingan e percebeu um vulto de chakra na escuridão do quarto – Maldito…

Que dor alucinante… Katsu soubera desde o início que aquilo tudo era uma armadilha. Diamante multicolorido natural? Era bom demais para ser verdade e, caso fosse mesmo verdade, estava muito mal protegido. Era uma daquelas propriedades que o Imagawa sabia que nunca ficaria por muito tempo numa aldeia pequena como aquela, pelo que soubera, desde que a palavra “Yashori” foi pronunciada, que ele e o Takeshi caminhavam para a boca do lobo. E ele caminhara de bom agrado, disposto a deixar o seu pupilo a desenrascar-se sozinho, para variar, e ainda assim conseguirem arranjar algum dinheiro de toda aquela operação.
Todavia, o Akatsuki não contava que a armadilha fosse assim tão dolorosa. Mesmo que o seu corpo fosse totalmente constituído por água, que absorvera completamente o impacto, o seu cérebro ainda conclui que dor é sentida, pelo que aquela, em especial, foi mortalmente dolorosa. Quando este impactou com o enorme manto de espinhos, o seu corpo desfragmentou-se em múltiplas poças de águas que se adaptaram à quantidade dos espinhos. De seguida, num constante e complexo fluxo de chakra, as poças foram lentamente se reunindo, longo da armadilha, até formarem o corpo ileso de Katsu Imagawa, como se nada tivesse acontecido.
- C-como… Como é possível?
Uma voz despertou o Nukkenin que olhou à sua direita para ver uma dezenas de homens a fitá-lo, inexpressivos. Ele já vira aquelas caras muitas vezes: eram as caras daqueles que não conseguiam compreender o poder do Suika e do quão difícil era matar Katsu.
- Não interessa! – Depois havia sempre aquele que motivava os outros a tentarem o impossível… - Matem-no agora, ele é apenas um! – E aqueles que acreditam que os números superam a qualidade…
A pequena turba avançou como uma, elevando as suas armas, outros projetando-as, e o Akatsuki sentiu múltiplas pontas afiadas a trespassarem o seu corpo aquoso e a não causarem dano nenhum. Contudo, e como esperado, o seu cérebro ainda processou alguma dor, levando o foragido a rugir. Num súbito momento, uma descarga de chakra ao longo do corpo faz que as áreas atingidas que se encontravam em água se transformassem em ácido, corroendo toda a arma que o trespassou. Sem deixar que os homens tentem perceber o que se passou, uma nova descarga de chakra percorre-lhe o corpo, erguendo o ácido em inúmeras lanças que se expandiram do seu corpo e trespassaram mortalmente todos os homens que ousaram chegar perto dele. Sangue jorrou, abundantemente, misturando-se com a água e o ácido que se espalhavam pelo solo desde o corpo do sorridente Katsu. Olhou em frente e viu que os homens que arremessaram as suas armas, apenas dois, o fitavam assustado.
- Raigen Raikochu…
Aglomerou chakra na mente dos seus oponentes e induziu-os a um clarão súbito de luz que os cegou temporariamente. Esse tempo foi suficiente para que o Akatsuki unisse rapidamente os selos de mãos necessário e concentrasse chakra na água do seu corpo…
- Suiton: Mizu Kamikiri!

- Sumi Nagashi!
No chão, Takeshi sentia agora que caíra sobre um líquido espesso e peculiar. Ergueu a mão para ver que dela escorria algo negro, definitivamente longe de ser água. Nesse instante que percebia a sua situação, o Uchiha sentiu cobras a elevarem-se ao longo do seu corpo, tentando chegar aos ombros para restringirem qualquer movimento que o adolescente tentasse fazer. Unindo todas as suas forças, o rapaz conseguiu agarrar na sua Kunai Santottan e cortar as cobras que subiam pelas pernas. Todavia, reparou que do seu ataque apenas surgiram mais cobras.
- O-o que é isto? – Perguntou, em pânico, fatiando e fatiando ainda mais à sua frente, aumentando drasticamente o número de cobras que restringiam os seus movimentos – Mas… Que merda!
- Puto idiota! – Exclamou uma voz grossa, por fim o vulto de chakra falou – Vieste cair na nossa armadilha! Não és tão bom agora, não?
O vulto de chakra gargalhou sonoramente, vibrando no orgulho de Takeshi que via, aos poucos, as cobras a suprimirem as forças que tinha nos braços. No entanto, tinha um trunfo na manga antes de dar a vitória ao seu oponente.
- Sabes… - Custava a falar-lhe devido à tremenda força que aplicava nos membros para não permitir que as cobras o conseguissem prender por completo – Como se chama… O meu… Amigo?
O inimigo parou, subitamente, de gargalhar, fitando o adolescente.
- KATSU!
Nesse instante, o homem olhou para os seus pés, percebendo o papel explosivo que ardia incessantemente. Surgiu-se uma explosão, uma belíssima explosão aos olhos de Takeshi, que arremessaram ambos os ninjas em direções opostas. O Uchiha sentiu fragmentos de pedra a cravarem-se na sua pele e algumas chamas a consumirem a sua pele, mas nada demasiado grave comparado com o doloroso baque que sentiu nas costas quando estas encontraram uma parede. Sentando no chão e cheio de dores, Takeshi, ainda de Sharingan ativo, viu um vulto de chakra e comprovou que o seu oponente ainda estava vivo. Comprovou igualmente que o Ninjutsu que o restringia perdera o seu efeito, erguendo-se satisfeito pela liberdade que retomara ao seu corpo.
- Puto idiota, como fizeste isso? – Rosnou o seu adversário e Takeshi percebeu, pela voz fraca dele, que tomara grande parte da explosão, mas que, sem explicação aparente, ainda conseguia manter-se de pé.
- Desde que o meu amigo caiu que percebi que era uma armadilha… - À medida que ia explicando, Takeshi foi fazendo alguns selos e deixou chakra fluir pelos seus pulmões – Então deixei logo uma Kibaku Fuuda no solo, sabendo que alguém iria aparecer para me atacar. Parece que o plano até correu bem! – Vangloriou-se, apesar de estar consciente que uma queimadura grave no seu ombro lhe ardia insanamente. Todavia, tentou abstrair-se do ferimento causado pela sua própria explosão, expelindo todo o ar aglomerado nos pulmões – Katon: Gōkakyū no Jutsu!
O adversário foi surpreendido pela repentina bola de fogo na sua direção e o Sharingan de Takeshi não foi capaz de lhe relatar a situação do seu adversário, visto que a sua visão foi totalmente coberta pela bola de chamas que mal cabia naquela sala. Um impacto explosivo sucedeu-se, e, por momentos, o Uchiha pensou que havia conseguido… Mas o seu Doujutsu detetou pequenos movimentos velozes na sua direção.
Movimentou o seu corpo para um dos flancos, sentindo um pequeno metal a rasar-lhe no corpo. Percebeu que o seu adversário ainda estava vivo e que disparava agora qualquer coisa contra si, desviando-se sucessivamente desses projéteis desconhecidos, sem deixar que algum lhe tocasse graças ao Sharingan.
- És rápido, puto! – Rosnou o vulto de chakra, novamente detetável após a explosão do Ninjutsu de Takeshi - Chōjū Giga!
O chakra do vulto incrementou subitamente e depois soltou uma pequena descarga, dando claros indícios a Takeshi que vinha aí um Ninjutsu. Tentou realizar selos e aglomerar chakra para contra-atacar, mas uma estranha figura foi mais rápida, impactando com o seu dorso e atirando-o ao chão violentamente.
- Estás morto!
Todavia, Takeshi discordava. Graças ao seu treino com Katsu, o Uchiha tornara-se conseguira evoluir significativamente a sua concentração em luta, completando os selos mesmo após o doloroso impacto. O seu chakra espalhou-se pelo seu corpo, submetendo-se à sua vontade…
- Kasumi Jūsha no Jutsu!
Clones de óleo surgiram das entranhas das paredes e do solo daquele quarto, rodeando o adversário com o seu vasto número. Surpreso, o homem atacou inutilmente os clones de óleo com as suas técnicas invulgares, desconhecidas para Takeshi, surpreendendo-se cada vez mais ao ver que, quando atingidos, mais e mais clones eram gerados.
O Uchiha, irritado pela queimadura no seu ombro apenas doer mais após o último impacto, elevou-se num ágil salto. Num Sunshin, aproximou-se do homem que ainda lutava com o seu Genjutsu, sem que este se apercebesse. Descarregou inúmeros murros e pontapés ao longo do seu corpo, sentindo cada pitada de sangue que dos seus furiosos ataques jorravam sobre as roupas. No final, retirou uma Kunai Santottan unida com uma Kibaku Fuuda do bolso e cravou-a, sem misericórdia, no corpo inconsciente do seu inimigo…

Uma das paredes do grande salão, no qual estavam todas as pessoas sobre o efeito do Genjutsu, desfez-se lentamente quando uma pasta de líquido verde comia as suas propriedades, deixando uma abertura grande o suficiente para que Katsu entrasse.
- Finalmente saí daquele sítio… - Suspirou o Imagawa, de alívio, olhando para o estado daquele grande compartimento.
A primeira coisa que lhe saltou à vista foi o saco de valores que Takeshi usara, anteriormente, para reunir todos os bens das pessoas daquela sala. Num ágil Sunshin, o Akatsuki colocou o saco debaixo do seu manto e olhou à sua volta.
- Será que estas pessoas sabem que não existe nenhum Yashori aqui? – Perguntou-se o Imagawa, fazendo um único selo e cancelado o seu Genjutsu. Num instante, todos pareceram de um intenso pesadelo, arfando compulsivamente e entreolhando-se, atónitas – Saiam daqui, agora…
Por fim, as pessoas perceberam que Katsu as fitava. Todavia, estavam demasiado estupefactas para perceberem que ele era o inimigo e que bastava um estalar de dedos para as matar a todas. Mas ele não estava a dar-lhes atenção alguma, mudando o seu olhar para as escadas que outrora subira.
Boom!
Uma explosão surpreendeu todos daquela sala, suficientemente ensurdecedora para assustar as pessoas da sala que finalmente relembraram a situação que se desenrolava à sua volta. Atabalhoadamente, iguais a animais assustados, saíram todas pela porta da frente, empurrando-se, gritando, esperneando… Em questão de segundos, Katsu ficara sozinho naquela sala, olhando para o corredor de cima e vendo que todo este ardia. Entre as chamas, Takeshi descia, fracamente, as escadas, agarrado ao seu ombro.
- Então, divertiste-te? – Perguntou o Akatsuki, ignorando propositadamente a queimadura feia que tinha no ombro.
- Não… - Confessou o Uchiha, descendo o último lance de escadas de pulo, queixando-se de dores pela ação estúpida que fizera o seu ombro apenas doer ainda mais – Não encontrei nenhum Yashori…
Se as dores no ombro não chegassem, Katsu bateu na nuca do seu pupilo fortemente. Este inclinou-se para frente, fraco demais para aguentar a força da pancada, grunhindo.
- Não há nenhum Yashori, isso é só uma historinha que estes bandidos criam para atrair idiotas como tu à sua casa. Depois roubam-te tudo como se não houvesse amanhã e atiram-te para o buraco maravilhoso em que eu caí!
O aluno não disse nada, amaldiçoando-se mentalmente por ter caído em tal esquema. Katsu sabia que ele já aprendera bem o quanto os seus erros podiam custar, colocando-lhe uma mão nas costas e empurrando-o, ajudando-o a andar para fora da mansão…
Saíram dali o mais rápido que puderam, com Takeshi sempre a culpar-se pela sua ingenuidade. Todavia, Katsu conseguiu alegrá-lo levemente ao anunciar a quantidade de bens pessoais que conseguiram roubar com o saco de valores. Não era muito, mas dava para alimentar…