Ainda não tinha amanhecido, mas já havia algum movimento na mansão Tsumi. Os passos eram quase inaudiveis, pelo que não alteravam a tranquilidade do sonos dos residentes. Ivy tinha-se permitido o capricho de no presente dia se deixar dormir. Sem horários, despertadores ou relógios. Dormia profundamente quando a porta do seu quarto abrir e alguém entrou, quase sem fazer um ruído. Minutos depois ela é acordada ao sentir água gelada a ser-lhe despejada pela cabeça abaixo.
- Isto são horas?! - pergunta o autor da partida, com um sorriso divertido, aproximando-se da porta e preparando-se para sair
-KAZUMA!! - ignorando toda a serinidade do local. Ela começa a gritar pelo irmão que acabava de sair porta fora.
Kazuma tinha 24, era 7 anos mais velho que Ivy, mas sempre se comportava como uma criança. Era verdade que ele era a animação da casa, nos dias em que ele partia em missão, como era o caso até a essa manhã, a casa era bastante mais sossegada, mas por isso, também mais triste.
Ivy saí correndo atrás dele praguejando alto e bom som. As pessoas da casa começam a ser acordadas com o barulho, Ivy a praguejar enquanto persegue o irmão, e esse mesmo a rir-se às gargalhadas equanto foge facilmente dela.
Sendo a mansão Tsumi, uma mansão de família, estava dividida em várias casas diferentes. A casa principal era a mais imponente e mais importante, era onde Ivy, Kazuma e Mishio, o irmão de 20 anos, ainda moravam sob a alçada e olhares atentos dos pais. Depois havia as casas secundarias. Aí viviam, Hiromasa, com sua mulher e seus três filhos, e numa outra Daiki, com a esposa e uma filha. Outras casas secundárias estavam distinadas a membros mais importantes do clã, como irmãos da mãe de Ivy e outras pessoas que não tinham uma linhagem tão próxima. Depois, já mais fora dos terrenos da mansão havia mais casas, mais humildes, onde viviam as familias de linhagem mais baixa do clã. Isto para dizer, que todas essas casas, estavam agora de luzes acessas em busca da origem de tanto barulho.
Ivy e Kazuma continuavam nessa espécie de jogo de apanhada infantil até que Kazuma acaba por tropeçar e cair, Ivy aproveita-se para se sentar em cima dele impedindo-o de se levantar.
Kazuma era um homem alto e bem constituido, perfeitamente capaz de levantar a irmã, mas como ela ainda era a sua "irmãzinha" deixou-a acreditar que tinha ganho esta luta.
-Tu és tão chato! - ela reclama não saindo de cima dele
-Se não fosse nem tinha tanta piada.
-Mas que raio se passa? Pode-se saber, porque raio acordaram o clã todo? - O irmão mais velho, Hiromasa, tinha sido o primeiro a chegar perto deles, e não estava nem um pouco contente. Por o clã Tsumi ser um clã matriarcal, a herança do mesmo passava apenas de mãe para filha, pelo que o 4 irmãos de Ivy não tinham qualquer responsabilidade máxima para com assuntos importantes do clã. Ainda assim, Hiromasa, o mais venho dos 5, com 32 anos e já três filhos, sempre teve a função de pôr os irmãos na ordem. - oh, Kazu? - ele repara então no irmão que estava deitado no chão.
-Yo, Hiro. - ele o cumprimenta se levantando, fazendo Ivy, que estava sentada em cima, sentar no chão, o que só a fez se sentir um pouco humilhada.
-Ivy, porque é que estás toda enxarcada? - pergunta o mais velho levantando o sobreolho.
-O Kazu mandou-me um balde de água fria cabeça abaixo.
-Queixinhas! - acusa o irmão do meio, rindo.
-Está calado, idiota!!
-Ivy!! - repreende Hiromasa - em vez de teres ido a praguejar rua fora atrás dele, não tinha sido mais inteligente teres ido secar-te? Vai ser bonito se ficares doente. - Ivy baixou a cabeça com a repreensão, enquanto Kazuma ria, logo deixou de rir quando a repreensão foi na sua direção - ri-te. Ri-te. Vais passar o dia todo a acartar com baldes de água cá para casa. Já que gostas tanto de os andar a passear.
Cada um foi à sua vida e o dia no clã começou então mais cedo. Todos tinham suas tarefas a fazer. E todos as faziam sem reclamar. Depois de se secar e mudar de roupa, Ivy fechou-se no quarto a estudar. Era só o que sabia fazer. Estudar e treinar. Pouco mais lhe interessava ou cativava o gosto. Tinha que admitir que se não fosse pelos irmãos, a vida dela tinha sido bem mais monótona.. e agora seu novo "trabalho" também lhe tinha oferecido oportunidade de aproveitar mais um pouco de alguma companhia.
Só foi tirada dos seus estudos, quando o filho mais velho de Hiromasa, Nao, a foi chamar. Abriu a porta do quarto sem bater e anunciou:
-A avó está-te a chamar.
-E bater, não?
-Cala-te e anda, velha. - a insolência do rapaz para com Ivy era mais que muita, e à medida que ele se aproximava da adolescencia ia crescendo. Ela tentava-se controlar para não lhe bater. Tentava muito..
Ela foi até à sala onde sabia que a mãe a esperaria, mas ela não estava lá. Estaria o miudo a gozar com a cara dela? Ia voltar para o quarto, quando vê o seu irmão Daiki a vir ter com ela, com uma cara muito pálida.
-Daiki...o que foi? - a expressão na cara dela era tão estranha a Ivy, ela nunca tinha visto nada assim...
-A...anda comigo - Ivy não disse mais nada e seguiu o irmão pela casa, até pararem em frente à porta de um quarto.
-Porque é que estamos à porta do quarto do Mishio? Que raio se passa, Daiki-nii-chan!! - ela não conseguia pensar no que se passava. Daiki só engolia em seco, parecia indeciso sobre se deveria abrir a porta e revelar-lhe o que estava por trás ou não.
Ivy toma, então, a iniciativa e abre a porta de rompante. Não conseguiu perceber logo o que se estava a passar. Viu muitas pessoas sentadas na volta de alguém deitado no chão. Viu a sua mãe, fora da sua normal postura senhoril, de joelhos a soluçar com o choro, como se fosse um bebé. Entrou no quarto, algo estava definivamente errado, depois viu que era o seu irmão Mishio que estava deitado. Tinha a cara ferida, a respiração dele parecia alterada e a pele dele estava com uma cor esquisita.
-Fui buscar água ao rio... - explicou o Kazuma, que estava debroçado sobre o irmão, ao lado da mãe - e encontrei lá caído...assim..
-O quê... - isto não fazia sentido...o que aconteceu? Ele teria sido atacado, por um animal? por uma pessoa? Quem atacaria o Mishio? Todos os adoravam! Poderia ter tido um acidente...só ele nos poderia dizer... mas ele não conseguiria falar...
Ele não conseguiria mais falar.