ANSIEDADE...
- Citação :
s.f. Desconforto físico e psíquico; excesso de agonia; aflição. Condição emocional de sofrimento, definido pela expectativa de um acontecimento inesperado e perigoso, à frente da qual o indivíduo se acha indefeso.
Numa luxuosa varanda na cobertura do hotel de doze andares onde se hospedava, o loiro se equilibrava perigosamente no parapeito para observar a linda e paradisíaca paisagem da ilha em seu formato de lua crescente que se completava como uma pintura clássica à fraca luminosidade avermelhada que tentava atravessar algumas poucas nuvens de chuva que seguiam as correntes aéreas ao deslizar para longe do arquipélago. A madrugada estava se despedindo, acenando com sua fria brisa que açoitava seu corpo e seus cabelos loiros, espantando-os ao sabor do vento. Suspirando pesadamente, Daisuke vigiou os arredores pela vigésima vez, procurando com curiosidade a origem de uma dezena de festas que ainda aconteciam nos bares espalhados pela avenida principal à beira-mar. Era uma avenida larga e bastante iluminada que acompanhava toda a curvatura da ilha.
Carros ainda desfilavam vagarosamente para desviar de uma ventena de bêbados que ainda zanzavam por entre os inúmeros painéis iluminados que se apagavam aos poucos à medida que o sol ressurgia. -
Mais uma noite sem dorm... - Sussurrava com certa decepção quando a porta da suíte master bateu e uma das garotas correu até o banheiro para começar a vomitar. Repugnante. Com a porta aberta, a garota parecia um tenor em plena cantoria borbulhante. Aquela cena embrulhou o estômago do nukenin, sendo obrigado a descer do parapeito para fechar a porta de vidro à provas de som. Isto acontecia quase todas às noites desde sua chegada há três dias. "Eat. Sleep. Rave. Fuck. Repeat." Era o que acontecia todos os dias. "Pensamento positivo. Terminará logo." - Pensava ele, com uma inveja sincera. Afinal, ele era o único que não se divertia, apenas colecionando hematomas para retirar seu protegido das confusões que ele arranjava durante todo o dia.
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Não vai dormir? Você parece cansado. - Comentou a acompanhante, quando saiu do banheiro.
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Não estou com sono. Obrigado. - Agradeceu com uma careta de nojo, ao vê-la toda suja de vômito.
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Está bem... Até daqui a pouco. - Sussurrou a mulher, cambalenado de volta até o quarto.
A porta bateu atrás da garota e não se ouviu mais nada. Daisuke retornou aos seus pensamentos e seu corpo - já pesado pelas noites mal dormidas - pedia por um cochilo, mas o jovem se manteve vigilante, afinal, tinha um trabalho a fazer. "Mas que calor insuportável!" - Reclamou com o ar-condicionado que parecia ter parado de funcionar assim que a luz do sol entrou pela varanda. Uma junção de fatores. Calor, sono, sede. Daisuke caminhou até a cozinha para saciar sua sede, abrindo a geladeira num movimento apressado, mostrando algumas poucas águas minerais. Logo, o líquido transparente desceu gelado por sua garganta e o loiro não se sentiu bem. Olhando para a garrafa com mais cuidado, ele percebeu um pequeno furo no lacre quando sua visão ficou turva e o nukenin perdeu o equilíbrio, recostando suas costas no balcão para então deslizar lateralmente até encontrar o carpete que revestia o piso do apartamento num ruído abafado.
Parcialmente paralisado, ele tentou se arrastar até o quarto de Lian, mas não em tempo de começar a ouvir a tranca da porta de entrada se abrir. Com a visão turva, apenas pôde ver as botas e calças de algum uniforme azul, além das pontas douradas de longos sabres que balançavam na lateral das pernas direitas. -
Eles já dormiram. Leve-os para a masmorra. - Comandou um dos invasores. Daisuke sentiu seu corpo ser arrastado pelo corredor e ser jogado entre algumas bagagens que estavam empilhadas num carrinho de metal. E antes que preenchessem os espaços com outras malas, ele ainda pôde ver Lian recostado no ombro de outro estranho, sendo jogado num cesto de roupa suja. Estavam sendo sequestrados. "Ótimo." - Comemorou o jovem nukenin, na sua última lembrança de consciência. Tudo ficou escuro.
Flashback:
- Spoiler:
- Tenho um lugar perfeito para você começar a trabalhar. - Comentou Nero, empolgado.
- Não tenho nada melhor para fazer mesmo... - Provocou o loiro, atraindo a atenção do mafioso.
- O aniversário de meu filho está se aproximando e ele insistiu em comemorar essa data no País da Lua Crescente. - Disse enquanto espalhava alguns esquemas sobre a grande mesa a sua frente.
- Ele quer morrer. Claro que o senhor não autorizou, não é? - Retrucou ao lembrar-se que a ilha pertencia à outra organização criminosa que tentava expandir seus negócios de qualquer maneira ao litoral do País dos Ventos.
- Quero que você faça a segurança de Lian, e que se deixe ser capturado. - Concluiu, com um olhar bastante maquiavélico.
- Mas isso é loucura! Lian e eu morreremos nesse seu plano maluc... Ei! - Foi interrompido por um soco de Maru em seu joelho.
- Não. Eu conheço o velho. Ele precisará de Lian vivo para barganhar e de você para torturar. - Respondeu numa certeza inabalável.
- A ideia de me torturar... Não me parece boa. - Sussurrou o garoto, incomodado com a estranha missão.
- Você escapará de lá antes disso. Destruirá os canhões da fortaleza dele e salvará meu filho. Essa será sua missão. - Terminou, virando-se para a mesa para apontar algumas plantas que espalhara sobre a mesa.
- Certo. Quando partiremos? - Perguntou de maneira desconcertada.
- Primeiro estude a planta do local. Você tem uma semana para decorá-la por completo. Boa sorte. - Disse, acenando positivamente para o loiro.
Sua cabeça doía, e com essa dor sua consciência começava a retornar. Seu coração palpitava como se toda a ansiedade que sentia houvesse se transformado numa descarga intensa de adrenalina que invadiu seu corpo fazendo-o abrir os olhos e verificar onde estava, num espasmo frenético que fez as correntes tilintarem. Esticado sob uma pesada mesa de pedra escurecida por dezenas de respingos sangrentos, Daisuke percebeu que estava no canto de uma sala minúscula e sem janelas, que possuía outra mesa de metal polido onde exóticos aparelhos de tortura descansavam. Procurando rapidamente por alguma saída, o jovem só encontrou um estreito espaço retangular milimetricamente cortado na porta blindada que encerrava a cela, por onde uma fraca luminosidade clareava diretamente seu rosto. -
Bom, primeira parte do plano foi um sucesso. - Brincava consigo, tentando esconder o nervosismo interior.
Tentando manipular seu chakra para arrebentar as correntes, ele logo percebeu que existia um papel grudado no alto de sua cabeça e concluiu o que já previa: Não poderia usar seu chakra. "Plano B" - Pensou ao juntar seus dois braços e usar suas unhas para rasgar a pele nas costas de sua mão. Já estava acostumado com a dor, e aquilo não passou de um pequeno desconforte quando retirou uma pequena gazua de seu corte. As algemas mais uma vez estalaram e logo um "click" na fechadura libertou os braços do jovem que retirou o selo de sua testa, sentindo ter novamente seu controle de chakra. Usando sua energia mais uma vez, rapidamente se livrou das amarras em seus pés para então se levantar. Silenciosamente, ele cambaleou para a porta de saída e usou uma estreita badeja de aço escovado para olhar através da fresta. Descuidado, a badeja raspou na porta e ecoou num ruído agudo, chamando a atenção do guarda que vigiava o corredor. -
Merda! - Sussurrou ao perceber que não tinha para onde ir.
CONTINUA...