A Vila da Areia estava em festa naquele fim de tarde. Dezenas de pessoas arrumadas zanzavam pelas ruas felizes, enquanto o comércio já fechava suas portas para não se atrasarem, enquanto algumas kunoichis e damas da sociedade se acotovelavam na porta dos salões de beleza, tentando arrumar unhas e cabelos logo na última hora. Seus filhos e netos, por sua vez, aguardavam a hora da ida, admirando as inúmeras bandeirolas, que amarradas nos postes de luz, enfeitavam de um canto à outro o caminho que cruzava a academia até a praça central, onde o evento se daria. Nada poderia atrapalhar o maior evento ninja do ano: A formatura dos novos genins. Na família Hiroshi não era diferente. Sua mãe havia passado o dia inteiro no salão, enquanto seu pai ainda estava no escritório central, resolvendo um problema de última hora. Nada anormal se não fosse a dificuldade em que a equipe de empregados teve para enfiá-lo num elegante quimono preto. Daisuke nunca gostou de ficar engomadinho. Desde a sua infância, preferia suas roupas surradas às novas que sua mãe sempre trazia de cada viagem que fazia. -
Agora falta só dar um jeito no cabelo. - Concluiu a criada, escovando as madeixas do loiro que já aguardava na sua cadeira-de-rodas, com um olhar vazio na direção da porta de entrada por onde sua mãe acabava de entrar. Ao vê-lo Kinua sorriu e passou rapidamente na direção de seu quarto para terminar de vestir seu traje de gala. Segundo ela, toda nata da sociedade estaria lá naquela noite. "Pff... Perda de tempo." - Pensava o loiro.
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Todos prontos? Seu pai nos encontrará no bufê. - Comentava sua mãe, que ajeitava os brincos, acabando de sair do quarto já vestida com um belo vestido azul. Balançando a cabeça, as criadas responderam a patroa silenciosamente, deixando-os sozinhos por algum momento. Kinua se aproximou e massageou o cabelo do filho imóvel. Seu sorriso terno veio acompanhado por uma singela lágrima que logo foi aparada por um lenço para não borrar sua maquiagem. Daisuke não sabia se aquilo que ela sentia era culpa por ter sido ausente, ou se ela estava com vergonha do que iria se mostrar à tal "nata da sociedade". Mas não importava, pois agora ele era empurrado contra vontade pela passarela até a carruagem, onde foi acomodado junto à porta de entrada. Sua mãe entrou logo depois, acomodando-se no assento oposto, onde bateu na portinhola para que o cocheiro tomasse rumo. Logo os arreios tilintaram e o cavalo começou a cruzar as ruas enfeitadas até estacionar nas proximidades do evento, indicando que já era hora de encarar o olhar vitorioso daqueles que lhe traíram. -
Vamos lá, Dai. - Chamou sua mãe, abrindo a portinhola para permitir que o cocheiro a ajudasse a descer a cadeira. Apesar de ser noite, Daisuke cerrou os olhos devido a grande luminosidade na praça central. Centenas de pessoas aguardavam o início da cerimônia da entrega dos certificados, enquanto os formandos conversavam com seus parentes e conhecidos, felizes com o resultado de seu esforço. -
Por favor. Todos sentados para darmos início a cerimônia. - Declarou o mestre de cerimônias.
Sorridente, sua mãe empurrou Daisuke para a fileira do convite, tomando cuidado com os pés das dezenas de pessoas que se misturavam, procurando seus lugares numerados. O rapaz achava estranho o comportamento das pessoas que, por sua deficiência grave, achavam que ele não podia ver os sorrisinhos maliciosos ou ouvir os cochichos maldosos enquanto passava. "Idiotas." - Enfurecia-se por dentro, mas na verdade, sentia medo por não ter como se defender daquelas ofensas veladas. Sua mãe, sempre política parecia fingir não ouvir aqueles comentários. Chamavam-no de covarde. Drogado. Mesmo assim, ela sorria. "Que espécie de pessoa deixa expor o filho dessa maneira?" - Perguntava-se quando enfim chegaram aos lugares indicados. -
Olha lá. É teu amigo. Makoto! - Comentou com certa ansiedade na voz, virando sua cadeira para a direção dele. Claro que ela esperava que aquilo deixasse seu filho mais confortável, e realmente ele esperava isso, apesar de tudo aquilo que Toshio havia lhe dito. Mentiras? Ele não sabia. A questão é que lá estava ele: Makoto. Rodeado por cinco kunoichis, ele caminhava entre as fileiras de cadeiras destinadas aos ninjas. Com seu uniforme de chuunin, o rapaz sorria como se vivesse um sonho. -
Makoto! - Gritou sua mãe, acenando para o ninja com a esperança de que sua imagem pudesse de alguma forma reanimar seu filho. Porém, ao contrário do que ela esperava, o chuunin metido a importante apenas levantou as sobrancelhas e virou o olhar com careta de desdém. Mal sabia ele que aquilo havia selado seu destino. Agora Daisuke sabia que tudo aquilo que lhe disseram era verdade. Aquilo fez seu coração pulsar mais forte.
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Ele não deve ter nos reconhecido. - Kinua tentou explicar o inexplicável, mas seu filho não a escutou. Daisuke estava absorto em seu ódio e em seus planos de vingança. Makoto iria pagar. Pagar muito pela traição. Aliás, sua vida se tornara numa sucessão de aprendizados da pior maneira. O ser humano é falho, mas nem por isso se justifica a desonra e honestidade. Realmente não justifica. Seu corpo novamente começou a formigar. Isso era bom. Seu corpo parecia reagir à raiva e aquela visão de Makoto todo sorridente com suas concubinas parecia turbinar sua consciência. Novamente seus olhos começaram a tremer e a cabeça começou a doer. Tentava desesperadamente não se mover, não revelar sua melhora. Seu corpo então lhe traiu. Sua raiva fora demais. O loiro começou a passar mal. Seus olhos se fecharam por causa da febre que as impressões daquela cerimônia odiosa. Sua mãe logo percebeu que seu filho não estava bem. -
Você está ardendo de febre. Vamos... - Ele ouviu as primeiras palavras da sua mãe, mas antes que terminasse, o jovem perdeu a consciência. Tudo escureceu novamente... Mas rapidamente se abriram. Olhando em volta apenas com os olhos, o rapaz se surpreendeu, pois já estava em seu quarto. Estava frio. Do lado de fora de sua janela, os primeiros raios de sol começavam a atravessar seu quarto. A casa estava silenciosa. "Estou sozinho." - Comemorou. Gemendo baixinho, o loiro sentiu dores nas suas costas rígidas, mas conseguiu se apoiar com os braços. Mordendo o lábio, ele moveu suas pernas com pesar e enfim ficou de pé. Com passos arrastados, Daisuke alcançou o espelho e o virou, buscando um pequeno giz na cômoda.
- Citação :
Toshio
Nero
Lian
Barba-de-Ferro
Makot...
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A lista está aumentando. - Sussurrava ao escrever o último nome da lista com quem teria contas a acertar.
CONTINUA...