Karasuemo
O Reflexo da Cobra
Uma gota caia no solo fazendo ondular uma pequena poça. Todo aquele local era sombrio, apenas iluminado por uma pequena luz, bastante ténue quase extinta. No fundo da habitação estava um homem deitado de olhos abertos que se tentava levantar. Era um homem de pele branca, cabelo preto e olhos de serpente. Aquele homem era Orochimaru, ou pelo menos o que restava do seu esplendor. Parecia que os anos não tinham passado por ele, mas, percebia-se que estava fraco. Algo o estava a afectar.
De repente levantou-se. Sentiu algo. Não era o chakra de Zantetsu ou Noromi. Era outro tipo de chakra. Era um chakra indestinto, tão depressa era grandioso como logo a seguir era fraco e debil, tão depressa parecia vir de duas pessoas como de uma.
Orochimaru decide levantar-se, cautuloso á procura de quem seria aquele chakra, sem saber se era boa ideia na situação em que ele estava. Subiu as escadas e saiu daquela habitação abandonada. Abriu a porta da rua e não estava lá ninguem. O nevoeiro de Kiri estava baixo não permitindo Orochimaru ver o solo.
-- “De quem será este chakra?” – questionava-se Orochimaru. Deu um passo em frente de depois outro e de repente aquela sensação do chakra tinha desaparecido.
-- “Estranho” – pensava Orochimaru para si proprio. Deu meia volta e quando o seu pé pisou o solo sentiu-o diferente. Já não era um solo arenoso. Parecia gelo! Depressa Orochimaru retirou a Kusanagi de uma cobra que lhe saia da manga. Olhava em volta á procura de alguem, enquanto que o nevoeiro lentamente desaparecia.
Quando olhou para baixo, para o solo, ficou supreendido. Não estava sobre gelo mas sim sobre uma superficie espelhosa, que reflectia tudo, e ao que parecia, tinha cristalizado tudo o que tinha tocado. O nevoeiro cedeu. Orochimaru sentiu-se a afundar.
--“Impossivel” – dizia ele. Os seus pés lentamente era sugados para dentro do espelho. Orochimaru tentava soltar-se mas num movimento rapido de sucção Orochimaru tinha desaparecido...
Um corpo era projectado por um enorme espelho que adornava uma parede. A sala era enorme e tudo nela reflectia o corpo caido, que se levantava vagarosamente.
-- Pensei que desses mais luta, Orochimaru-san – diziam duas vozes em uníssono. Uma era profunda, num tom masculino, mas jovem enquanto que a outra, mais melodiosa mas mais madura, era de uma mulher.
Orochimaru já estava de pé, no centro daquela sala espelhada, com a Kusanagi em punho.
-- Quem são vocês? – perguntava Orochimaru num tom calmo. Á sua frente estava uma mulher e um homem, e não aparentavam mais de trinta anos. O homem tinha uns penetrantes olhos cor de ambar e usava uma espécie de tunica branca que lhe cobria o corpo, excepto uma manga. Tinha o cabelo castanho claro e tinha umas feições bem desenvolvidas e era musculado. A mulher estava ao seu colo, quase deitada, comendo umas uvas. Era bastante elegante. Tinha uns belos e profundos olhos prateados e o seu cabelo era longo de tom de prata, sedosos e bem tratados.
-- Aluno...aprendiz... – disse a mulher
-- Professor...mestre. – continuou o homem.
Orochimaru esboçava um pequeno sorriso de escarno.
-- O que querem de mim? – perguntava ele
-- O que eu quero de ti já o tenho. – diziam em uníssono. – Já me apoderei de tudo o que era nobre que fizeste da tua vida, e protegia-a, antes que tu a destruisses...
-- Tudo o que era nobre? – interrompia Orochimaru rindo. – Eu nunca fiz nada nobre!
Aquelas duas pessoas sorriram um pouco, entre olhando-se.
-- Enganas-te. – disse a mulher enquanto comia o ultimo bago de uva.
-- Tu criaste as fundações para um mundo novo, um mundo renascido. – o homem parou enquanto olhava directamente nos olhos de Orochimaru. – Embora inconscientemente, és um estranho messias para um mundo novo.
-- Infelizmente saiste do percurso para a tua salvação, e deixaste me de ser util. – disse a mulher enquanto deixava cair o cacho vazio de uvas no chão. Este lentamente transformava-se num pó de diamante...
Orochimaru parou de rir.
-- Messias? – disse ele serio mas serenamente - Eu não quero saber de nenhum mundo novo vindo de duas crianças que pensam que são deuses...
-- Deus? – diziam os dois em uníssono novamente. – Eu não sou nenhum aspirante a deus – e num movimento rápido com a mão o reflexo de um espelho mudava e mostrava agora uma batalha entre Pein e alguns ninjas de Konoha. – Falsos deuses e falsos messias iram sucumbir com os seus próprios erros, tais como muitos já fizeram.
Orochimaru começava a questionar-se sobre quem seriam realmente aquelas duas pessoas e porque é que falavam como se fossem uma só...
-- Quem és? – Perguntava Orochimaru apontando a Kusanagi para ambos.
-- Eu sou o Sol, a Lua e o astro mais brilhante... – diziam os dois em uníssono. – O Anjo da morte, o reflexo do espelho...
Orochimaru começava a rir...
-- Chega! – disse Orochimaru interrompendo. Ao mesmo tempo cobras começavam a sair da sua manga em direcção aos seus dois adversários. Cobras negras iam na direcção dos dois velozmente, sedentas de sangue. Nenhum deles mostrou o minimo sinal de medo. Num instante a mulher que estava sentada ao colo do homem desapareceu e no outro todas as cabeças de cobras caiam no solo, juntamente com os seus corpos inanimados. O sangue começava a jorrar no chão espelhado.
-- Bastante impressionante. – dizia Orochimaru, sentindo uma lamina fria no seu pescoço a ser arrastada calmamente, e ao seu lado a mesma mulher que há instantes estava no fundo da sala, caminhava descalça lentamente com a espada em punho.
-- O teu poder é insignificante comparado com o meu. – disse o Homem enquanto observava-a calmamente a sentar-se sobre o apoio daquele trono de cristal.
-- Deves-te estar a perguntar o porquê de um ser tão ridiculo e debil como tu está a fazer aqui. Afinal de contas a tua era já acabou á muito. – disse a mulher olhando directamente nos olhos de Orochimaru. Este tinha a mão sobre o pescoço certificando-se que não tinha sofrido nenhum golpe, mas nos seus olhos corria o odio.
-- A grande cobra branca... –dizia lentamente o homem enquanto punha a mão sobre o queixo - ...morreu... – e com um rápido gesto com a outra mão os reflexos de Orochimaru nos espelhos mudavam para uma enorme e aterradora cobra branca. Os olhos de Orochimaru abriram-se em choque...
-- Como...como é que... – gaguejava ainda um pouco Orochimaru.
-- Como é que sei que esta é a tua forma? – diziam os dois. – Com tantas trocas de corpo que tu tiveste era inevitavel eu não ver. Mas talvez aquela em que eu realmente contemplei o teu fracasso – agitam o braço – foi a tentativa patetica que tiveste com o Sasuke, o Uchiha prodigio.
Um espelho mostrava agora as mesmas imagens que Orochimaru tinha visto naquele dia em que Sasuke o desafiou.
-- “Mas como é que... Quem é este demonio?” – pensava Orochimaru enquanto observava como Sasuke prendia as suas mãos com o seu Chidori. Ao mesmo tempo uma dor aguda e penetrante lacerava no mesmo local da ferida.
-- “Impossivel” – pensava em sofrimento Orochimaru.
-- As tuas tentativas de te tornares imortal sempre me fascinaram. Tu um simples mortal com desejo de imortalidade. – dizia os dois. – Mas o mais hilariante no meio disto tudo foi a tua tentativa absurda de conseguir um Sharingan. – disseram os dois rindo. O riso foi abrunptamente interrompido quando uma enorme cobra apareceu de lado, por detras do trono e investiu contra o homem. Este teve tempo para agarrar na cabeça da cobra.
-- É isto o teu poder? Truques sujos e ataques pela retaguarda? – dizia o homem num tom que fazia-se ecoar pela sala. – É assim que me tentas impressionar!? – Os olhos do homem tinham mudado e agora, no centro daqueles olhos amarelos crescia um pequeno Sol capaz de iluminar tudo. Começou a fazer selos com apenas a sua mão direita e uma onda de chakra envolveu a sua mão. Depois tocou na cabeça da cobra e essa mesma onda espalhou-se pelo seu corpo e, lentamente transformava-a em cristal.
Orochimaru estava enfurecido naquele momento mas ao mesmo tempo confuso. No mesmo instante que os olhos daquele homem mudaram os espelhos da sala começavam a projectar imagens do passado de Orochimaru. A luta contra Sarutobi, uma missão com Jiraya e Tsunade, a luta contra o Naruto com o manto da Kyubi, a derrota contra Jiraya e Tsunade... Tudo aquilo, memorias de um passado que Orochimaru tentava não se lembrar estavam ali, a ser projectados como se um filme se tratasse. Inconscientemente o sharingan de Orochimaru activou-se permanecendo no 3º Tomoe. O homem e a mulher olharam para Orochimaru e para os seus olhos e depois olharam um para o outro e não conteram o riso.
-- Afinal sempre conseguiste... Mas como é que conseguiste... espera. – disse a mulher. Fez selos so com a mão esquerda e chakra concentrava-se sobre a sua mão. Depois bateu com a mão no chão de cristal e linhas de chakra foram na direcção de Orochimaru. Foi tão rapido que Orochimaru não teve tempo de fugir. Sentia como se algo lhe estivesse a ler a mente de uma ponta á outra.
-- Estou a ver que nem o Inferno te quer. – ria o Homem depois de ver a mente de Orochimaru. – É refrescasnte saber que possuis um sharingan tão ilustre como o de Uchiha Madara... é pena o teu corpo não o aguentar...
-- Não tens o sangue Uchiha a correr te nas veias... – disse a mulher... – eu podia te ajudar de certeza que conseguia arranjar algum corpo para ti, mas infelizmente não faço investigação com restos... restos? Estás abaixo de restos neste momento. – dizia a mulher com ar sério.
O Orochimaru que estava a sua frente riu-se e lentamente começou a desfazer-se em cobras. Logo em seguida estacas prendiam os seus adversários mas estes não pareciam preocupados. O som de palmas ecoava pela sala e Orochimaru sai de uma das sombras da sala.
-- Estão de parabens. Este foi o Genjutsu mais realista que eu alguma vez estive. – dizia Orochimaru contente como se tivesse ganho alguma bolacha. – A ideia dos espelhos estava muito bom... e a do usarem as minhas memorias deu um toque de classe. Infelizmente chega de tentarem brincar comigo. Kai – disse Orochimaru rápidamente... nada aconteceu. Voltou a insistir. Talvez uma dose mais elevada de chakra desse resultado. – Kai. – voltou a dizer.
-- Se quiseres podes até cortar os pulsos e esvaires-te em sangue... – disse a mulher.
-- ... porque isto não é nenhum genjutsu. Isto é o meu Mundo! – disse o homem.
A expressão de Orochimaru mudou drasticamente. Uma gota de suor escorria pela sua cara.
-- Não... eu pensei que era apenas um mito... algo que se criou para encher livros de fábulas e fantasia. – dizia Orochimaru recuando lentamente agarrando com mais força a sua espada, pondo-se em defesa.
-- Oh, eu sou muito mais que um mito. Eu sou pura realidade. – diziam os dois. Um sorriso esboçou pelos labios de dois, mas da cara do homem aparecia mais que um sorriso. Começava a escorrer sangue de um dos cantos da boca e logo em seguida a mulher começou a tossir violentamente.
-- Parece que a realidade se está cada vez mais a aproximar do mito. – gozava Orochimaru.
-- Cala-te! – disse a mulher agitando um braço, fazendo voar dezenas de cristais em forma de kunais na direcção de Orochimaru este facilmente se desviou delas. Ao mesmo tempo os seus olhos mudavam para uma belissima lua em fase decrescente. Estava visivelmente furiosa com a situação. Orochimaru esboçou um sorriso e aproveitou a oportunidade para atacar embainhando a espada.
Mal deslocou um pouco a perna para atacar viu-se imobilizado por quatro figuras de cristal, maiores do que ele, que ganhavam forma humana, a forma daqueles dois. Uma das figuras falou.
-- Orochimaru... sais com um aviso. – dizia a mulher enquanto o cristal se transformava lentamente no seu aspecto. – Não tentes criar um mundo novo... Não procures vingança... Esconde e protege-te pois o fim está chegar e no fim – uma lança aparecia nas mãos da mulher. – ... no fim apenas as cinzas permanecerão e assim o mundo renarecerá, mais forte, mais limpo, mais unido.... As quatro figuras tinham agora uma arma na sua mão e num movimento rápido espetaram Orochimaru no seu corpo, trespassando-o rapidamente. Orochimaru gritou de dor, parecia que todo o seu corpo estava em chamas. Pode ver antes de perder os sentidos que, a mulher que tinha falado com ele deixava escorrer uma pequena lágrima de sangue... depois uma escuridão cobriu-lhe os olhos e este perdeu os sentidos...
Orochimaru acordou, no mesmo local onde tinha desaparecido, a poucos passos do seu esconderijo. Levantou-se lentamente. Tinha o corpo durido...
-- Genjutsu? – disse Orochimaru, mas algo o fez ver que não. Aos seus pés uma enorme cobra estava em posição de ataque, de boca aberta. Os seus olhos tinham perdido o brilho e todo o seu corpo era agora de cristal. Orochimaru num acto de furia, agarrou fortemente a sua espada e com um movimento rápido cortou a cobra ao meio, quebrando-a.
Dirigiu-se para o seu esconderijo e a cobra convertia-se lentamente num pó prateado...