Erros
O som dos dedos dele a baterem repetidamente na madeira estava a levar a sua escassa paciência ao limite. Lançou-lhe, de novo, um olhar fulminante, sendo novamente ignorada.
Porque raio é que ele teve que vir atrelado a mim?!— A minha presença pode salvar-te a pele, meu amor.
Fitou-o fixamente, com uma sobrancelha arqueada. Não gostava quando ele parecia ler-lhe a mente, mas odiava ainda mais quando ele se achava melhor que ela.
— Se és assim tão bom, porque é que esta missão me foi designada, e não a ti?
O homem sorriu cinicamente — Não me digas que és ingénua o suficiente para pensar que te iam mandar exclusivamente a ti numa missão desta magnitude.
A rapariga virou a cara, focando-se de novo no caminho tortuoso da floresta que, a qualquer momento, devia dar as boas vindas a quem ela esperava. A respiração fria dele chegou-lhe ao pescoço, a mão dele apoiada no tronco à sua frente.
— Não fiques chateada. Devias estar orgulhosa de ti mesma, por estares aqui.
— Estás a desconcentrar-me. E aliás, eu não preciso da tua aprovação.
O riso do outro chegou-lhe aos ouvidos, enquanto ele aproximou os seus lábios ainda mais da orelha dela —O teu plano não tem sentido nenhum. Não, quando o teu disfarce está prestes a ser descoberto.
A rapariga virou-se para trás num salto, vendo o homem desaparecer e o som de passos a aproximar-se.
Isto não é bom. — Emi?
A voz do rapaz chegou-lhe aos ouvidos fazendo-a fechar os olhos, na tentativa de manter o mínimo de sangue-frio.
Isto definitivamente não é bom. Sem tempo para pensar no que quer que fosse, limitou-se a aceitar a ideia que lhe assaltou a mente. Com um gesto da mão, viu o seu corpo ser atingido por kunais em pontos que garantiam a sua morte imediata. Os passos do rapaz pararam antes de recomeçarem, desta vez, numa corrida desesperada na direcção contrária. A loira olhou para o lado, vendo a carruagem porque esperara durante duas horas, desaparecer.
O riso do homem escondido entre as árvores invadiu-lhe os ouvidos, fazendo-a dar um pontapé na árvore, completamente irritada.
Merda!*****************************
— Fizeste asneira.
Ignorou-o, continuando a andar. A rua mantinha-se deserta e em plena sintonia com o cheiro nauseabundo que escapava das paredes das tabernas. Tinha problemas maiores do que o facto do seu companheiro de viagem estar a rir do que ela fizera vinte minutos antes, no auge do seu ataque de pânico, mas a verdade é que a frustração por ter falhado na sua tarefa estava a ser rapidamente substituída pela irritação de o ouvir.
— Custava muito calares-te?
— Não particularmente. Mas tenho que passar o tempo de alguma maneira, não é?
A loira revirou os olhos, antes de parar em frente a uma porta de madeira gasta. Quatro toques espaçados por segundos, deram-lhe passagem imediata para o interior da casa, antes da porta se fechar de novo atrás do homem. Caminharam silenciosamente, o sorriso de escárnio do moreno deu lugar a uma expressão vazia, à medida que se aproximavam da sala de estar.
As janelas estavam fechadas, não permitindo que nenhum feixe de luz penetrasse a divisão; o chão de madeira, outrora claro, estava totalmente despido, apoiando exclusivamente uma mesa de madeira simples e cinco cadeiras, que formavam um escudo protector ao redor desta. Sem trocarem uma palavra, ocuparam os seus lugares predefinidos, antes de uma nova presença envergar na sala.
Ela seguiu-o com o olhar, fixando-se na sua expressão impossível de ler. Nada naquele homem demonstrava o mínimo de emoção. Os seus passos eram decididos , a sua postura demonstrava a sua superioridade em relação aos outros dois e, quando finalmente atingiu o seu lugar à cabeceira da mesa, o seu olhar recaiu sobre ambos, antes de fitar a rapariga, como se já tivesse em pleno conhecimento sobre o que acontecera.
— Eu não gosto de erros.
A loira sentiu um calafrio percorrê-la ao som da voz gélida do homem. — Tenho a perfeita noção disso, senhor.
— Nesse caso, porque é que cometeste um? — questionou, sem alterar o seu tom de voz.
— Houve um… contratempo. — começou ela, lançando um olhar rápido ao seu companheiro. Não recebeu qualquer encorajamento — A meio da minha tarefa, um rapaz-
— Necessário para o sucesso da missão? — interrompeu o homem, fazendo-a engolir em seco.
— Não, senhor.
— Foi eliminado?
— Não, senhor. — repetiu num fio de voz.
— O primeiro erro. Continua.
Mordeu o lábio, forçando a sua voz a voltar ao normal — O rapaz apareceu e eu fui obrigada a utilizar um genjutsu. Quando o caminho estava livre, a carruagem que era suposto ser interceptada, já estava fora do meu alcance.
O silêncio recaiu sobre eles, sem que a loira se atrevesse a fitar algo que não fosse a sua mão. A sua cabeça estava a mil, revendo o que acontecera uma e outra vez. Como é que tinha sido possível ele chegar tão perto e ela não reparar? Como é que ela deixara a carruagem desaparecer sem a tentar alcançar? Porque raio é que não tinha morto o Atsuko e perseguido a carruagem que resguardava o documento que perseguia há mais de três meses?!
— Estes erros podiam ter sido evitados? — questionou o homem, desta vez para o moreno que se mantinha totalmente inexpressivo. A rapariga, fitou-o.
— Sem dúvida. — confirmou, sem desviar o olhar dela.
O sangue gelou-se-lhe nas veias. Erros não eram admitidos. Muito menos erros que pusessem todo o trabalho da organização em risco. Ela sabia que o outro tinha a perfeita noção das suas palavras, mas não conseguiu extrair qualquer rasgo de emoção do seu rosto.
O homem à cabeceira da mesa levantou-se sem uma palavra, virando-lhes as costas. No segundo seguinte, uma mulher de longos cabelos vermelhos vivos entrava na sala, uma aura de divertimento sádico a rodeá-la.
— Controla-te, Z. A missão dela ainda está de pé. Limita-te a assegurar que a palavra “erro” deixa de pertencer ao dicionário dela.
Um sorriso desumano contorceu-lhe as feições. — Sim, senhor.
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Ok, eu sei que não é um filler enorme e tal, mas eu tinha que voltar de alguma maneira, né?
Anyway, espero que gostem :3