Depois de ajudar a derrotar dois dos prisioneiros que tentavam escapar, a situação parecia estar bem mais favorável para os guardas. Contudo, os meus níveis de chakra tinham sido reduzidos drasticamente e Kurai reparou nisso quando se aproximou de mim, após fazer a sua quota-parte do trabalho:

- Vejo que te esforçaste bastante, come esta pílula. - Declarou o Jounin colocando uma bola acastanhada na minha boca. Inicialmente, estranhei um pouco o sabor mas, assim que a ingeri totalmente, senti o meu chakra a ser restabelecido e estava novamente preparado para dar o meu melhor em combate: algo que teria de fazer brevemente uma vez que, acompanhado pelo meu Sensei, descia agora as escadas que deveriam levar aos calabouços do estabelecimento prisional. Descendo vários lances de escadas de uma só vez, chegámos rapidamente a um piso inferior ao que nos encontrávamos anteriormente. Embora, ainda fosse possível ir mais fundo decidimos primeiro analisar aquele andar antes de continuar a descer as escadas. Bem, na verdade, também não havia ali grande coisa para ver: apenas um corredor escuro e minúsculo com algumas celas vazias e cujas portas se encontravam totalmente escancaradas. Todavia, existia uma cela que permanecia fechada e com duas pessoas no seu interior, ambas com um notável excesso de peso.

- Fuujin, será que devíamos seguir os outros e sair daqui? - Perguntou um dos homens ao parceiro, o qual possuía uma pequena barbicha.
- Não, Raijin! - Exclamou imediatamente, sobressaltando-se com apenas aquela ideia do seu companheiro. - Tsunade-sama deixaria de nos alimentar caso tentássemos fugir.

Kurai-sensei ignorou a presença daquelas duas "bestas", algo que não era fácil de fazer, e, agarrando-me pelo braço, fez com que voltássemos a descer a escadaria mais uma vez. Enquanto descíamos, ele explicou-me que aqueles eram os "Lendários Irmãos Estúpidos": dois gordos desmiolados que só pensam em comida e que levaram uma lição de Tsunade-sama depois de tentarem escapar da prisão à quase 15 anos atrás. Descemos as escadas e chegámos finalmente ao último, o qual era composto por um espaço ainda mais pequeno do que o anterior. Na verdade, a zona que tinha ligação com as escadas limitava-se a um cubículo minúsculo e, mesmo à nossa frente, encontrava-se uma porta de ferro com uma pequena ranhura que estava fechada: do seu interior, era possível escutar algumas vozes e, quando Kurai abriu totalmente a porta que se encontrava entreaberta, foi possível ver Hokori, Mitsu e um outro homem de vestes pretas e cabelos vermelhos. O sujeito que eu não conhecia e que supus ser o tal Uchiha Kisuke, aparentava ter mais ou menos a mesma idade do meu Sensei, a sua face era parcialmente coberta pelos cabelos encarnados que atrás se juntavam num longo rabo-de-cavalo e os seus olhos negros pareciam completamente envolvidos na mais sombria escuridão.

- Kisuke-kun?! - Balbuciou Kurai, incrédulo perante a visão daquele homem.
- Há quanto tempo, Kurai-san. - Retorquiu o Uchiha de cabelos vermelhos, sem alterar a inexpressividade da sua face.
- Nunca pensei que nos voltássemos a encontrar... - Declarou Kurai, recuperando agora a compostura e ganhando um novo brilho nos olhos: os seus olhos vermelhos pareciam agora mais intensos do que o habitual. - E muito menos numa situação como esta.
- É, a vida dá mais voltas do que esperámos. - Respondeu o homem calmamente, apontando depois para mim. - Mitsu, é aquele o rapaz cujo sangue te permitiu invadir este local?
- Sim, irmão. - Afirmou o jovem Uchiha de cabelos negros. - É ele mesmo, Uchiha Kakushi.
- Se quiseres tocar nele, terás de passar primeiro por mim! - Exclamou Kurai, colocando-se entre mim e os três Uchihas.
- Muito bem. Hokori, trata do rapaz enquanto nós nos livramos deste obstáculo. - Ordenou Kisuke, ao que Hokori respondeu com um aceno de cabeça e lançando-se logo de seguida na minha direcção, ao mesmo tempo que o Uchiha ruivo lançava três kunais de forma a obrigar Kurai a esquivar-se e deixar-me indefeso. Apanhado de surpresa, não consegui reagir a tempo e fui atingido pelo pontapé de Hokori, o qual me projectou para fora de cela e me fez embater na escadaria que nos levara até ali. Assim, Hokori e eu encontrávamo-nos agora no pequeno espaço entre a "solitária" e as escadas enquanto Kurai e os irmãos Uchiha se encontravam no interior da mesma.

- É verdade o que dizem sobre aquele incidente à oito anos? - Inquiriu Kurai, fitando os olhos do ruivo.
- Se é o que dizem, deve ser. A História é sempre verdadeira. - Retorquiu o Uchiha num tom monótono.
- A História é escrita pelos vencedores. O que aconteceu realmente com a Misaki?
- Tudo bem. Se queres mesmo saber, eu dir-te-ei. - Concluiu Kisuke. - Tudo começou à oito anos atrás, numa altura em que eu era ingénuo demais para prever o que viria a acontecer.