Após o devido intervalo, Ran levantou-se e, com um sorriso no rosto, dirigiu-se até a linha de pinheiros que protegiam seu campo de treino. De lá, pôde escolher as mais flexível dentre elas. Concentrando seu chakra raiton nos pés, escalou a primeira sem maiores dificuldades e ao chegar ao topo, amarrou sua linha shinobi, cortando uma parte, deixando-a cair ao solo, e só então saltou agilmente para árvore seguinte previamente escolhida. Atingindo-a com seu peso, fazendo-a inclinar.

Equilibrando-se sob seus pés. - Esta também será perfeita. - Pensou ao terminar de amarrar a ponta de sua linha no cume, cortando e deixando a outra ponta cair no solo. Girando no ar, por entre os pinheiros, ela repetiu a operação por mais oito vezes, equilibrando-se com ajuda de seu chakra para não cair e amarrando todas as pontas dos dez pinheiros mais flexíveis, utilizando toda a linha shinobi que havia trazido.

Após ter terminado de amarrar a última árvore. Saltou numa giratória até pousar silenciosamente no chão. Rapidamente colheu os dez fios que balançavam ao vento, juntando-os ela os enrolou em sua mão esquerda e começou a puxá-los usando sua força para flexionar os cumes dos pinheiros. Esforçando-se ao máximo, ela percebeu que exagerara na tensão do exercício, mas seu orgulho era mais forte.

- Um... Dois... Três... – Os pinheiros reclinavam à medida que Ran os puxava para baixo. Seu braço esquerdo começava a queimar e conseguia ver seus músculos se contraindo fortemente. - Vinte... Vinte e um... Vinte e dois... - Tentava contar sua série de exercícios, mas o ar lhe faltava. - Cento e noventa e oito... Cento e noventa e nove... Duzentos! Ai! - Gritou, ao perceber que sua mão estava ensanguentada. A força fora tamanha que um corte na palma de sua mão precisava de cuidados.

Respirando e concentrando mais uma vez seu chakra em seus pés para não ser arrastada, ela se recompôs, retornando à posição original dando um dolorido passo para trás. Assim, flexionando as linhas mais uma vez, apesar da dor, passou as linhas para a mão direita, onde novamente começou a puxar vagarosamente as pontas dos pinheiros que rangiam e teimavam em não se curvar. - Um... Dois... Três... Quatro... - Seus dentes rangiam. Os cabelos lavados de suor. Mão esquerda sangrando.

- Vinte e cinco... Vinte e seis... - Coração palpitando. Respiração ofegante. Suas lindas curvas em movimento, realçados por seu uniforme “colado” à pele. - Cento e noventa e cinco... - Ficando sem ar, ela terminou sua série de duzentas flexões com um grito. Largou os fios shinobi, foi até a mochila para fazer um curativo nos cortes de ambas as mãos, imaginando qual seria outro exercício para se "entreter".

Então, após ter se enfaixado, pensativa, ela olhou para os pinheiros, enquanto o vento os balançava, e foi acometida por uma ideia arriscada, mas que seria deveras divertida. Retornou a sua mochila e pegou dez kunais, levou-as até os fios pendurados. Amarrou uma em cada fio, cerca de dois metros antes do fim. Feito isso, esticou-os um a um, até que os pinheiros ficassem totalmente arqueados, e prendeu sua ponta no tronco adjacente.

Seus braços doíam e suas mãos novamente começaram a sagrar, mas não ligava. Estava se divertindo. E com tudo pronto, retornou ao centro do lago utilizando seu chakra raiton para não afundar. Não sabia se seu plano daria certo, então, cuidadosamente, sacou um de seus shurikens e arremessou em direção ao nó represava a tremenda força do pinheiro. Foi certeira.

Num estalo, a linha se partiu e o pinheiro girou, chicoteando o ar e levando a kunai amarrada com ele. A kunai viajou velozmente em sua direção. Muito mais rápido do que esperava. Fazendo um arco no ar, a kunai girou e a partiria ao meio na altura do abdome se Ran não tivesse saltado a tempo. Com uma giratória, ela afastou-se do perigo momentaneamente, mas aí percebeu que o pinheiro ainda balançava, levando consigo a kunai, que girava de um lado a outro, perseguindo-a, como se quisesse realmente matá-la.

Saltou para a esquerda, girando no ar e evitando a segunda investida da kunai. Dando-lhe as costas, ela percebeu seu erro. O pinheiro arqueou-se novamente com a inércia do movimento inicial e puxou a kunai de volta com ferocidade. Ran, ao ouvir o silvo da linha cortando o ar. Inclinou-se agilmente para a direita, vendo a linha passar com a kunai à altura de seu nariz. Isso tudo em apenas milésimos de segundo, o pinheiro perdeu força e a linha parou de investir contra ela.

Sem esperar sua respiração normalizar-se, ela sacou outro shuriken e o arremessou, acertando no alvo, a linha da segunda árvore foi cortada. E como previsto, a kunai foi chicoteada em sua direção. Ran recuou num salto mortal e a kunai passou por baixo de seu corpo, e ao aterrissar, a kunoichi levantou a perna esquerda para livrar-se do retorno da linha, quando mais uma vez o pinheiro balançou e arremessou a kunai girando por sobre seu peito. Inclinou-se novamente, esquivando-se e conseguindo escapar da terceira e última investida.

A ação se repetiu por mais sete vezes. Saltos, cambalhotas e giratórias no ar. As kunais passavam e retornavam, mas até aquele momento nenhuma havia conseguido sequer arranjá-la. Até que arremessou o último shuriken. Seu tiro certeiro atingiu o fio, e como os outros nove, o pinheiro arqueou-se, chicoteando a kunai em sua direção. Esquivando-se facilmente, Ran saltou por sobre o fio, entretanto, o sangue que escorria em suas mãos respingou em seus olhos.

Ficando momentaneamente cega, Ran saltou institivamente para à esquerda, na esperança de escapar milagrosamente do ataque de retorno. Ledo engano. O fio retornou com força, enrolando-se totalmente em seu corpo, prendeu braços e pernas, e então, no final do círculo mortal, a kunai enterrou-se em suas costas. Seu gemido surdo de dor, fez com que os pássaros revoassem.

Estava completamente enrolada e com a dor do ferimento em suas costas, ela perdeu o controle de seu chakra na sola dos pés, mergulhando no lago translúcido, mas frio. Seu sangue se misturava à água e as voltas que a linha fizera em seu corpo impediam seus movimentos. Sua situação era desesperadora.

Ran forçava seus braços na tentativa de desprender-se, mas isso só lhe fazia expelir mais oxigênio. Tentando se acalmar, lembrou-se da técnica de escapatória. Concentrado seu chakra raiton, fazendo os selos com certa dificuldade, Ran tentou o Nawanuke no Jutsu, mas o que não previa é que a kunai enterrada em suas costas selava os fios enrolados, impedindo-a de escapar. Já estava ficando sem ar. Sua breve vida passou como filme em sua mente. Tudo ia escurecendo até que uma mão rompeu a superfície do lago e a puxou para fora.

- Loira! Você leva seu treino muito a sério! - Disse Fushikawa, enquanto sorria com seus dentes serrilhados, enquanto a retirava do fundo.

Continua...

FIM DA PARTE II