Os dias passavam-se logo, a vila estava alvoroçada por conta dos wargames, e logo depois, da ameaça de Kiba. Os shinobis foram solicitados, incluindo a Nara, que foi até Kumogakure enfrentar uma subordinada do Kiba com o lobo sagrado das nuvens. Lá, a kunoichi finalmente entendeu o que era a Guerra, e apesar de instintivamente gostar de combates, seu lado que apreciava a paz pedia licença.
Voltara para casa viva, é bem verdade, mas definitivamente não voltara a mesma. Presenciou muitas coisas durante o tempo que ficou a defender Kumo; Guerra não era um treino mais sério que tinha com seu primo ou seu pai, era lutar por sua vida com todas as forças, inclusive as que julgava não existir. Também encontrou a Morte no campo de batalha, e aprendera de uma forma mais dura, a dar valor à sua vida. E aprendera ainda que por mais que não conheça uma pessoa, quando se tem algo ligado à ela, um desejo em comum, é possível descobrir a amizade. Não aquela que estamos acostumados, mas quem sabe, um modo mais primitivo desta.
Sim, Nara Tora, Chinmoku Amaya... Não sabia quem era, mas existia. E não era a mesma após voltar da vila da Nuvem. Assim sendo, nasceu (ou apenas cresceu?) um desejo imenso de responder perguntas que fazia a si mesma. Mas é claro, nem todos entendiam isso. Nem seus mais queridos entes.(...)
- Pai!
- Está fora de cogitação, Tora, não vais fazer isto e ponto final! – Nobuo dizia severamente.
- Mas Pai, é um direito meu, não achas? – a gennin retorquia.
- Não, não acho. Acreditas em tudo que te falam? Pára de ser tola, menina!
A kunoichi começava a lagrimar. Que tanto mal seu pai via em ela sondar um pouco sua terra natal, Amegakure? Suspirou e subiu as escadas, em direção ao seu quarto. Nobuo sabia o quanto ela ficaria chateada, mas jamais deixaria Tora ir até Ame.
No outro dia, permaneceu fria perante seu pai, na esperança de mudar sua opinião, sem sucesso.
(...)
- Estás maluca?! – Sho dizia, ou melhor, gritava.
- Shiu Sho! Não precisa alarmar o mundo todo. – a Nara respondia-lhe.
- Isto é loucura, não posso concordar! – continuava o garoto.
- Pois eu acho que a Nara-fake está certa. No lugar dela, certamente eu faria o mesmo, Sho. Ela quer ser verdadeira em algo, deixa ela ser feliz. – dizia Jun, com um pouco de desinteresse.
- Jun, eu estou falando sério! Se ela fizer isto, ela será dada como nukenin! Desertora de Konoha, é isto que queres?
- Claro que não, eu voltarei à Konoha! Mas antes, preciso saber um pouco sobre o tal clã Chinmoku. E as corujas são muito suspeitas... Por isso quero ir até Ame, a vila original do clã... Pelo menos era onde a “minha família” morava antes de perderem-me.
- Imagino como te sentes, Tora-chan, mas isso não é motivo para fugir!
- Ninguém entende meu ponto de vista, Sho! Meu pai diz que é loucura, tu mesmo há pouco dissestes o mesmo, meu primo Shikamaru então, tsc. Todos querem tratar-me por garotinha, mesmo eu sendo uma kunoichi! – finalizava, revoltada.
- Então, vais mesmo? – Jun agora era quem perguntava.
- Não sei. Sinceramente eu não sei, mas deixemos isso de lado – finalizava ela, notando a aproximação do sensei.
(...)
- Shikamaru... Responde-me algo sinceramente? – a Nara perguntava, entretida a olhar as estrelas enquanto a janta era feita, e seu pai conversava com Shikaku.
- Eu sempre sou sincero contigo, às vezes nem mesmo gostas – dizia, dando um pequeno cafuné em sua prima.
- Se tu fosses adotado e de repente descobrisse quem era tua família verdadeira, irias querer saber deles?
- Hmm, esse assunto de novo Tora?
- Por favor, seja sincero, e não leve-me em conta!
- Não, não ia querer saber, eles abandonaram-me...
- E se tivesses sido tirado deles? – ela interrompia-no.
- Não Tora, isso pode ser uma jogada! Neste ponto, concordo com o tio Nobuo.
- Então farias algo por mim?
- O quê?
- Ir comigo por uns dias até Amegakure, checar se a história procede... – respondia, timidamente.
- Estás louca? Ir até Ame, assim do nada?
- Mas...
- Não, Tora, gomen. Como podes sair acreditando em tudo que alguém que seqüestrou-te diz?
A gennin nada respondia, apenas encarava-o. Depois, baixou a cabeça e mordiscou seus lábios, quem sabe comprimindo um choro. Logo, Shikaku chamava os dois para o jantar, que Tora permaneceu envolvida num pesado e obscuro silêncio.
(...)
O dia estava ensolarado, como quase sempre. Tora juntava seus equipamentos ninjas numa mochila, mas nela também metia algumas roupas e sua carteira. Deu uma leve olhada ao seu redor, com uma ponta de remorso em seu íntimo. “Que raios, Tora, você precisa ser forte!”, repetia mentalmente a todo instante, tentando convencer-se que o que faria não era lá tão errado. Uma “loucura” necessária. Respirou fundo, e desceu as escadas de cara amuada, como sempre estava:
- Ohayo, já vou-me ao treino – dizia seca, igual estivera nos dias anteriores.
- Ohayo Tora. Não queres tomar café? – Nobuo tentava dissipar o mau-humor da filha.
- Não, obrigada. Até mais – disse, rapidamente saindo de casa.
O que Nobuo não notou foram as tímidas e silenciosas gotas que escorriam pela face da gennin, que tentava contê-las ao menos até o portão da vila. Lá chegando, cumprimentou os guardas, dizendo que treinaria no lugar de sempre, uma pequena clareira na floresta. Os ninjas deixaram-na passar como sempre, e a Nara novamente sentiu o remorso ressoar em si.
E mais uma vez seguiu em frente. Ao adentrar a floresta e estar fora da vista dos guardas, a kunoichi logo desamarrou sua hitaiate e demais adereços que pudessem identificá-la como ninja, guardando-os na mochila enquanto pegava uma roupa mais casual da mesma. Desfez seu habitual coque, deixando seus cabelos azuis livres, caindo até os ombros. Pôs a mochila às costas e iniciou sua caminhada, olhando sempre para frente. Até que num dado momento, ela resmungou para si:
- Este é o momento. Nara Tora, Chinmoku Amaya... Prove que você é uma kunoichi! – disse enquanto virava-se para trás e via Konoha cada vez mais longe.
(...)
Logo após o cair da noite...
- Shikamaru!
- Já sei, tio Nobuo... Tora fugiu.
- Não apenas fugiu, ela foi para Ame! Imagina, ela sozinha por esse mundo... eu vou até lá trazê-la de volta e...
- Não, tio... Ela não quer ser encontrada, e decerto ela não irá para Ame tão cedo, ela sabe que sabemos seu destino. Ela pode não ser legítima de nosso clã, mas é bastante esperta. Deixe isso comigo.
- E comigo – dizia uma voz desconhecida.
- Ra... Raiden?! – Shikamaru dizia, surpreso.
- Ya, Shikamaru. Gostaria de juntar-me a ti para trazer a Tora de volta.
- Mas... Por quê?
- Estou entediado com uma vida pacata. – o jounin dizia calmamente, sentado no degrau da varanda a comer uma fruta. – Vamos? – ele dizia, enquanto pensava “Mas que diabos, aquela garota parece-se tanto comigo... Acho que sou o único que pode compreendê-la, e vice-versa, tsc. Veremos, Tora-chan!”
(...)
Em algum lugar ainda no país do Fogo...
A noite já havia caído, e a jovem de cabelos azuis e olhos verdes apenas ouvia os pios de algumas corujas. É, destino mesmo trocista, corujas... Respirava fundo e andava com os braços cruzados, numa tentativa vã em aquecer-se. Seus cabelos soltos ajudavam-na, mas a noite estava mesmo fria. Avistou ao longe uma pequena aldeia, mas decidiu continuar caminho.
Não sabia até quando seus estoques de água e comida iam durar, mas decidiu abastecer numa outra vila. Estava cansada, é verdade, mas seguiu viagem como pôde. Não tardou muito e encontrou uma segunda aldeia. Mesmo sabendo dos riscos de ser pega, decidiu lá pernoitar e comprar comida. Logo achou uma pousada, onde antes de dormir, só conseguia pensar se um dia Konoha poderia perdoar-lhe:
- Gomenasai, minna. – dizia para si, enquanto seus olhos fechavam e uma tímida gota insistia em rolar pela parte esquerda de seu rosto.
- Spoiler:
Ya, mudança de planos hahaha
Eu havia esquecido por completo o que ia escrever, então veio-me uma idéia maluca que vou continuar nos próximos fillers. Apesar de não parecer, não terá enche-chouriços (espero), e é introdução à outra saga. Espero que gostem da breve vida de nuke da Tora