O dia estava tranquilo e úmido, não muito diferente do que sempre era. Na metade da manhã, as pessoas já retornavam a suas casas após comprarem o que precisavam na feira livre que se instalara na praça central. Estava nublado, o que contribuía para que Kimura lutasse contra os comandos de sua mãe para levantar-se e ajudá-la a limpar o jardim.

- Acorda filho, hoje é sua vez de me ajudar. - Disse Sirene.
- Hoje não é o dia de Himura? - Respondeu espreguiçando-se.
- Seu irmão saiu em missão, só voltará à noite. Então sobrou você.

O genin se levantou com muito esforço e pediu licença a mãe para se vestir. Estava irritado, pois sabia que a limpeza do jardim iria lhe tirar horas preciosas de seu treino, afinal, não podia esquecer que precisava estar mais forte para poder se defender sozinho do preconceito que sua vila sentia. Mesmo assim, não tinha alternativa, teria que ajudar sua mãe.

- Vamos menino, já estou com o equipamento! - Gritava sua mãe na área exterior da casa.
- Já vou! Estou escovando os dentes! - Mentiu, pois estava pensando em sua namorada.

Assim, acordou de seu "sonho" e resolveu descer os degraus rapidamente até encontrar sua mãe do lado de fora. Preferiu escolher uma roupa leva, apesar da umidade, já que passaria o restante da manhã espalhando minhocas e cortando as ervas-daninhas. "Onde está meu pai?" - Perguntou assim que começou a carregar o saco de fertilizante.

- Seu pai saiu logo cedo, não sei para onde, estava apressado. - Respondeu, com rosto preocupado.
- Aconteceu alguma coisa? Quando ele volta? - Indagou com curiosidade.
- Ai, ai, garoto, vai me ajudar ou vai ficar a fazer perguntas que não sei responder?

Com estas palavras Sirene encerrou a conversa e o chamou para começar a trabalhar. Depois que os três filhos começaram a sair em missões, o jardim se tornara uma obsessão para a senhora Sirene, mas seu trabalho era muito recompensado, porque toda a área de cinquenta metros quadrados estava coberta por flores majestosas e raras que seu clã utilizava em suas fórmulas.

- Kimura, você já terminou com a senhorita Katsume? - Perguntou enquanto se prostrava no meio-fio e remexia a terra.
- Ainda não, eu gosto dela. Mas porque a pergunta? - Respondeu com desconfiança.
- Seu pai não vai gostar disso, nós te falamos para não se envolver.

O genin preferiu não responder e sentiu o clima pesado entre ele e a mãe, talvez por que soubesse que não deveria ter se envolvido por ordem expressa. Mas a beleza de sua namorada, aliada com seus sonhos infantis em tê-la como noiva, enegreceram suas obrigações, fazendo-o esquecer de que logo teria que deixá-la. Na verdade, Kimura se conteve para não contestar essa tradição.

- Olá, bom dia. - Gritou seu pai da entrada de casa. - Vamos almoçar?
- Ah sim, querido, já está tudo pronto, deixe-nos apenas nos lavar.

Os dois passaram pelo Sr. Mimura com rapidez. Beijando sua esposa, o patriarca da família Endo não retirou os olhos de seu filho mesmo antes dele lhe fazer uma reverência e entrar para tomar banho. A hora do almoço se aproximava, e mal sabia Kimura que este almoço mudaria sua vida. Seu pai não lhe traria boas notícias da sua visita ao astrólogo da família.

Minutos depois...

- O alinhamento chegou. O seu ritual será hoje à noite. - Falou seu pai com severidade.
- Parabéns querido, amanhã você será um de nós. - Respondeu sua mãe ao notar que Kimura estava mais pálido do que era.
- Com sua licença, meus pais. - Kimura não esperou sequer autorização. Levantou-se e subiu a seu quarto.

Aquela notícia o fez chorar. Sabia que para a segurança de Katsume teriam que terminar, mas a amava muito para deixá-la. Precisava falar com ela, precisava desabafar seus sentimentos conflituosos. A escolha entre sua família e seu amor chegara e agora estava beirando o desespero. Então, numa decisão tomada rapidamente, saltou por sua janela e se dirigiu a residência de Katsume.

Enquanto passava pelas ruas da Vila, o cheiro de comida que exalava das casas causou-o ânsia de vômito. Estava muito nervoso e ansioso. Corria mais para tentar esquecer o que aconteceria naquela noite. E, distraído, quase esqueceu a entrada da residência de sua amada. Retornou rapidamente e apertou na campainha. Logo uma criada apareceu à porta perguntando quem era.

- Sou eu, Kimura, amigo de Katsume. Gostaria de falar com ela. - Disse todo estabanado.
- A senhorita está almoçando, volte mais tarde, por favor. - Respondeu a criada, fechando a porta.

Aquilo o deixou mais angustiado. Sabia que era falta de educação interromper o almoço de alguém, mas seu coração estava mais pesado do que nunca. Angustiado, resolveu invadir a casa da amada, mas logo foi interrompido por Katsume que pulava o muro da residência com a agilidade de uma recém-formada na academia ninja. "O que foi que houve meu amor? O que lhe aflige?" – Perguntou com seus lindos olhos azuis.

- Temos que terminar. - Disse segurando o choro.
- Como é?! Como assim terminar?! - Perguntou num misto de raiva e ansiedade.
- Meu ritual é hoje à noite, logo não poderei sequer chorar a seu lado.
- Não Kim... sabia que esta hora chegaria. Vamos fugir... - Respondeu com um imenso sorriso.