(Prelúdio/Abertura para a Saga dos Gémeos Nara. Tori e Koi saem para viajar e viver o mundo, no qual sobreviverão pelas próprias mãos. Os fillers serão postados em conjunto com partes de cada um. Apreciem e Feliz Dia da Mãe!)
O pai tinha estado a morrer. Tinha estado a morrer há algum tempo. Ele e o irmão haviam assistido a tudo, como se fossem convidados de primeira fila para um espetáculo macabro. Tori ainda se lembrava, primeiro a tosse roufenha, a ladra de vigor que o impedia de tudo, e depois, um mergulho constante, como se fosse de ambição sôfrega, pelos vaus púrpura da doença, da putrefação e morte.
A sua pele era sempre madrepérola, nem com o calor afável da comida, bebida, dos filhos intrépidos e do fogo dançante aos pés da esteira se requentava num rosado, nem num ténue rosado, nem num ténue rosado doente.
E eles viam. Viam dia e dia, aquele glutão sem imagem e sem presença a comer a vida do pai, a sugar, como fios de um esparguete mais doce, sangue e chakra que lhe povoavam as veias. Por vezes pareciam esquecer, o mundo voltava às voltas firmes por momentos, e então, o glutão arrotava. E arrotava sangue negro e espesso pela boca do pai, o sangue da sua vida expelido como se fosse vómito de mais uma bebedeira mundana. Os arrotos eram como lanças nas suas costas e voltavam a lembrar-se.
Assim foi até… Eles não lembravam tempo algum. Assim foi até ao dia.
O dia era bonito e banhado no calor e brisa, o calor e brisa que nos acariciam numa sesta tardia num campo. Por isso o dia não merece desdém por ter sido O Dia.
Ele expirou.
O dia foi um beijo amargo, mas um beijo na mesma, porque depois da tristeza ficou a leve sensação… A sensação suave e doce, era seda deixada a embeber em mel silvestre. Era a sensação de um fim e de um Novo Começo!
Nos últimos momentos foi coerente e o mesmo de sempre, como se parecesse que iria saltar, de rompante, curado por qualquer milagre da sorte. Mas não.
Não precisou de dizer nada, confiava nos dois rapazes de cabeças forradas de histórias do Clã Nara e da Kunoichi forte que fora a mãe. Confiava nos seus dois filhos que tinham os ossos cheios até ao tutano de desejo e confiança de ser, ver, experimentar e viver.
Então, deu-lhes a opção de viver na comodidade aparente da aldeia para o resto dos seus dias, ou, de sair e agarrar a vida com as suas próprias mãos, de correr à aventura máxima.
Koi e Tori escolheram.
Deitaram as cinzas, de um cume verdejante, aos ventos para dançarem e viajarem para sempre com eles, de cume em aldeia, de árvore em lago.
Com as réstias de comida e utensílios que empilharam deitaram pés ao caminho. Saíram dali. Da aldeia onde haviam nascido e crescido, onde ouviram pela primeira vez o riso da água corrente e viram os dentes branquinhos da mãe. Da casa onde ouviram contos de grandes veados coroados de hastes e sombras vivas.
Foram, com o primeiro destino traçado e uma nota escrita pelo pai para ler em determinado sitio a determinada altura.
Começaram a caminhar naquela terra quase desconhecida, com as últimas palavras do pai a servir de manto, a protegê-los do frio vento crepuscular que lhes sovava as costas:
“Façam o que mais desejam, corram esse mundo fora e deixem os olhos beber desses vales, montes, mares e desertos.
Deixo-vos aqui, nas minhas últimas letras, a vossa herança Nara, para que, caso queiram, a recuperem.
Vão e não se esqueçam, vocês são a ponta solta e perdida da grande haste, mas continuam a ser assim tão dura, continuam a conseguir sarar e enrijecer mais e mais.
E por muito que os ombros vos pesem, não se esqueçam!
Vocês são a haste quebrada!”