Os raios da lua cheia atravessavam pouco as densas folhagens das árvores, jogando alguns fachos de luz na direção dos três sacos de dormir que descansavam em volta de uma fogueira que se apagara em pouco tempo. Uma brisa sorrateira balançou a vegetação como um hálito frio que deslizou até o rosto descoberto do garoto, fazendo-o se remexer ainda dormindo. "Kimura..." - Sussurrava a brisa nos ouvidos do Hebi, que estranhou ao acordar sonolento e ver um vulto esbranquiçado que escorregou por entre as árvores que margeavam a clareira. "Kimura..." - Chamava a voz suave. Curioso, o garoto esfregou os olhos e se levantou com dificuldade para libertar-se dos lençóis, quando mais uma vez a voz lhe chamou. Olhando para os seus companheiros de viagem, ele percebeu que nenhum deles havia se incomodado em montar guarda, por isso, decidiu levar seu equipamento ninja para investigar a aparição. Os três haviam contado histórias de assombrações na noite anterior, mas mesmo assim, a coragem que procede ao acordar começou a esvair-se no momento em que escutou seu chamado mais uma vez. "Kimura..." - Sussurrava ao vento. De repente, um estalar de galho o fez girar o corpo no susto. Mais uma vez a aparição surgia e desaparecia entre os troncos no manto escuro da noite.
 
- Quem está aí? - Gritou num momento de inocência juvenil, esquecendo-se que era um ninja. Contudo, a sombra esbranquiçada dançava por entre as árvores, cada vez se distanciando e sorrindo, sussurrando seu nome. Inspirando o ar de coragem, o jovem partiu em perseguição na escuridão. Agarrando a última madeira que queimava na fogueira, ele iluminou o caminho acidentada até chegar ao precipício de onde o mar se chocava em repetidos ruídos da corrente. Seu coração disparou quando percebeu a silhueta de uma mulher a sua frente. Na beirada do precipício, a mulher chorava baixinho e soluçava de tristeza, obrigando o garoto a se aproximar. - Ei moça, você está bem? - Perguntou temeroso. A moça chorou ainda mais alto e se pôs de joelhos ao vislumbrar a lua pálida. A cada passo, algo no coração de Kimura o dizia para fugir. Ele hesitava seguir em frente, mas mesmo assim, queria ver se podia ajudar aquela mulher agonizante. - Posso te ajudar? - Ele sussurrou ao por a mão suavemente no ombro da garota, que gritou horrivelmente enquanto uma podridão enegrecida começou a tomar seu corpo a partir do toque do Hebi. - Você é o culpado! Culpado pela minha morte! Você pagará! - Gritou o cadáver ao se virar e mostrar seu rosto carcomido e decrépito, tentando agarrá-lo. Kimura reconheceu aquele rosto. Era Katsume. Katsume. Katsume...
 
 
- Katsume! - Gritou o Hebi, ao acordar dentro da choupana onde dormia a cerca de duas semanas. Mais uma vez aquele pesadelo o deixava apavorado e depois triste por saber que talvez fosse seu subconsciente avisando o que tentava esquecer. Seria culpado pela morte de seu amor. Nesse momento sentiu um aperto no coração e um nó em seu pescoço, para então emocionar-se silenciosamente em poucas lágrimas envenenadas. Levantando-se com cuidado para não pisar nas outras duas serpentes que descansavam com ele, Kimura ganhou o exterior da cabana e foi recebido mais uma vez pelo hálito causticante da caverna vulcânica. Fechando os olhos institivamente, para então se acostumar com o calor e a penumbra do local, quando caminhou até a beirada de um córrego seco em que usava para meditar e sentou com as pernas cruzadas na areia negra. Com a respiração compassada ele tentava retirar do coração aquele sentimento de culpa e ódio que o rondava desde o acontecimento que lhe causou tantos ferimentos. Ferimentos no corpo e na alma. - Você precisa conseguir. Precisa buscar sua vingança! - Sussurrava enquanto começava a sentir a energia natural fluir pelo seu corpo. Novamente conseguia perceber tudo ao seu redor, contudo, quanto mais enchia seu coração do gosto amargo da vingança, mais e mais sua aparência ia se tornando serpentina.
 
- Humano burro. Morrerás se prosseguir. - Comentou a serpente anciã. Kimura se assustou, pois não conseguiu sentir sua presença, apesar de ter suas habilidades sensoriais muito ampliadas. O velho se arrastou até o garoto e girou em seu próprio eixo para sentar-se com seus bigodes balançando com a brisa quente. Seu olhar vazio para o horizonte limitado deixava Kimura estranhamente confortável, como se já o tinha visto antes. Voltando-se novamente para a concentração, mais uma vez deixou seus pensamentos de vingança tomar conta de si. Enfim relaxado, parecia que ele era levado pelo fluxo e começava a perder a consciência, quando sentiu um forte golpe na testa. O estalo ecoou no silêncio da caverna derrubando o Endo de costas no chão de cascalho. Abrindo os olhos furiosamente, ele viu apenas o ancião retornar a sua posição de meditação enquanto sua cauda batia na terra como se o convidasse a tomar seu lugar. - O sentimento puro, por mais forte que ele seja, não lhe trará o equilíbrio. Procure equilibrar a balança com o oposto. - Sussurrou o ancião. Kimura respirou fundo e novamente pensou em vingança. Pensou em seu pai e sua família. Pensou na morte de sua namorada e então se lembrou das palavras do velho. Foi quando começou a se lembrar dos bons momentos que teve com Katsume. Seu primeiro toque e a tentativa dela quase desastrosa em tentar lhe beijar.
 
E foi então que sentiu o fluxo passar por seu corpo. Sentiu-se parado em frente a uma corredeira onde podia sentir o contorno de toda vida que ali estava e fora do recinto. Sentiu que estava muito longe de casa e dessa vez conseguiu sentir o ancião e seus dois outros discípulos que estavam acordados só observando a possível falha do humano. Só que enfim percebeu o que o velho queria dizer. "A energia natural é caprichosa." - Ele dizia. E quando se sentiu seguro em seus sentimentos conturbados, finalmente abriu os olhos e se levantou. Olhando suas mãos com poucas marcas de escamas esbranquiçadas, Kimura sentia o poder. Sentia que era invencível. Tudo ao seu redor era lento demais. Tudo em sua volta parecia maleável à sua vontade. - Então esse é o real poder, velho? - Provocou o garoto, ansioso para ver quando usaria aquilo na prática. O ancião olhou para a face do garoto com ar de surpresa e assentiu com a cabeça em concordância. E num movimento veloz, Kimura ressurgiu à beira do reservatório de água atrás da choupana, quando viu sua aparência. Suas pálpebras com tons lilás e seus olhos maiores acompanhavam a reverberação da água com precisão, enquanto via assustado com os dois pares de chifres que lhes saíam da têmpora e cresciam rente a lateral de sua cabeça. Seus dentes ficaram mais pontiagudos e seu cabelo mudou de cor. Estava diferente. - Ótimo. Quando será a próxima lição? - Gritou animado para o ancião que retornava à sua biblioteca.
 

Parece que a víbora finalmente conseguiu controlar o modo Sennin. Agora que seu char vai ficar muito forte, e eu que estava quase a lhe chamar para duelar um dia desses, mas dessa forma que eu estou no momento não conseguiria lutar contra você. Acho que só depois de conseguir todos meus alinhamentos pretendidos que tenha poder para combater seu char frente a frente. 

Continua lá irmão do jeito que já está para mim só faltaria o treino para firmar sua aprovação para usar o modo Eremita. 

Força na historia