O Yukikaze balançava bruscamente de um lado para o outro enquanto o vento açoitava o tecido das velas que impulsionavam a embarcação à frente numa velocidade incrível para os termos marítimos. Ao seu redor, várias trombas d´água eclodiam a cada disparo e indicavam que ainda estavam no alcance dos canhões do navio de patrulha que seguia ao encalço dos piratas privados de sua invasão. Com os nervos à flor da pele, Barba-de-Ferro esbravejava seus comandos com uma voz equivalente aos trovões, direcionando seus homens para tentar aumentar ainda mais a evolução de sua nau. Seguindo o protocolo, os últimos ao embarcarem - como os feridos na pequena invasão ao vilarejo - desciam os degraus para manterem-se protegidos dos eventuais impactos dos projéteis. Com o estômago embrulhado, Lian agarrava se um balde com firmeza como se sua vida dependesse disso.
Com uma cor pálida, o rapaz parecia morrer a cada balançar da proa, jogando seu rosto para vomitar o que nem havia comido. Enquanto isso, fazendo careta de nojo, Daisuke observava o navio patrulha ficar cada vez mais distante e seus disparos começavam a se tornar menos frequentes. -
Parece que conseguimos escapar. - Sussurrou o nukenin, mas essa comemoração durou pouco quando o sentinela do alto da paliçada gritou desesperadamente para que todos olhassem através do atol que se aproximavam. "Merda!" Outro navio de patrulha saía da cobertura de uma falésia e agora avançava contra os piratas. Um movimento que eles não esperavam, pois agora estavam cercados, presos na armadilha do inimigo. -
Preparar para lutar! - Gritou o banguela. O coração do loiro gelou, pois não só lutariam contra marinheiros do País do Fogo, como também deveria proteger seu pupilo de todas as maneiras.
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Preparar para o impacto! - Esbravejou o banguela.
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Essa não! Ele vai bater no outro?! - Gemeu Lian.
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Parece que sim! Não saia de perto! - Respondeu o loiro.
O vento soprou como se quisesse a desgraça de todos, pois o Yukikase ganhou ainda mais velocidade contra o outro navio que não teve tempo de manobrar para fora da rota de colisão, sendo atingido diretamente na sua lateral. O impacto foi maior do que Hiroshi esperava, obrigando-o a esticar o braço em velocidade para agarrar na vestimenta de seu pupilo que seria arremessado para frente como a maioria dos piratas armados. O caos se fez em seguida. Os gritos de ira dos marinheiros que terminavam de se levantar enquanto os mais arrojados bucaneiros saltavam sobre o parapeito de madeira para começar a guerra. -
Joguem as amarras! - Gritou o capitão do navio inimigo. Sem aguardar, o nukenin viu uma dezena de marinheiros atrás das linhas defensoras jogarem cordas com ganchos que se prenderam fundo na madeira do Yukikaze. Agora eles estavam presos num enlace mortal, lentos o suficiente para que a embarcação que os perseguia voltasse a se aproximar.
Foi então que as espadas se chocaram e os homens se misturaram numa luta caótica. Praticamente da mesma altura, o convés das duas embarcações viraram um campo de batalha. Apreensivo, Lian subia ainda mais um degrau em direção à proteção de sua cabine em tempo de olhar para trás e ver que seu sensei acabara de lhe segurar o braço. O jovem logo entendeu o que aquilo significava. Teria que lutar como todos os outros. Até mesmo alguns feridos já retornavam do porão, armados com o que podiam, mas em menor número, a probabilidade de sucesso nesta contenda não era nada encorajadora. -
Lutem por suas vidas, seus macacos! - Atiçava o pirata, acabando de espetar seu sabre no peito de um marinheiro desavisado. Do alto dos degraus, Daisuke pôde ver a movimentação das massas e se inclinou na beirada para notar que muito em breve a outra embarcação chegaria.
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Toma. Pega isso e comece a cortar as cordas! - Comandou ao pupilo, entregando-lhe uma espada ao apontar para aquelas que prendiam os dois navios. Lian rapidamente obedeceu e perseguiu seu mestre que começou a abrir caminho entre os homens, esmurrando alguns com tanta força que os expulsava do convés até o mar. O sangue já escorria na madeira polida, dificultando ainda mais o deslocamento até que um pavio foi aceso na embarcação adversária. Dois marinheiros apontavam um pequeno canhão na direção do leme do Yukikaze, e com grande estrondo, conseguiu arrancar uma parte da peça de navegação. "Se destruirem aquilo, estaremos perdidos." - Raciocinou o loiro, obrigando-o a saltar para a embarcação inimiga para impedir um segundo tiro. Lian por sua vez, vendo que fora abandonado pelo seu mestre, começou a rodopiar a espada tentando afastar os homens que tentavam abatê-lo.
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Não vou morrer aqui! - Gritava consigo enquanto esquivava-se mais uma vez da lâmina. Mas quando o pavio acendeu novamente, Hiroshi ja surgia atrás dos inimigos, chutando-os por sobre o passadiço ele conseguiu apontar o pequeno canhão para o leme do barco inimigo, que pela pouca distância, acabou por destruí-lo por inteiro. O estrondo foi recebido com festa pelos bucaneiros que agora já rechaçavam os inimigos de volta à sua embarcação. -
Dê-lhes o inferno, seus macacos! - Comemorava Barba-de-Ferro, acompanhando seus homens na perseguição, deixando Lian livre para começar a cortar as cordas com rápidos cortes de sua lâmina. Daisuke não aguardou os inimigos se aproximarem, saltando para o Yukikaze num longo pulo quando a última corda arrebentou. As ondas imediatamente começaram a fazer seu trabalho, afastando as duas embarcações rapidamente.
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Desçam as velas imediatamente! - Ordenou o imediato, sabendo que teriam pouco tempo para escapar do segundo navio. Os piratas responsáveis pela navegação largaram logo suas espadas e arremeteram aos mastros, puxando as cordas com toda força para deixar cair a grande vela amarelada. Ofegante, Lian sentou-se no parapeito e começou a pensar no que acabara de enfrentar. -
Parabéns. Você sobreviveu! - Elogiou Hiroshi, tocando seu ombro enquanto fitava a outra embarcação que já iniciara os disparos de seus canhões. Novamente os pilares de água salgada espirravam sob o Yukikaze que ganhava ainda mais velocidade com o forte vento vindo do litoral. Por pouco não afundaram nas águas frias do atol. Esforçando-se para não arrebentar o restante do leme, Barba-de-Ferro gemia para manter o curso desejado, correndo contra o tempo para não serem pegos por mais uma emboscada. -
Estamos fazendo água! - Gritou o cozinheiro, saindo pelos fundos. Esse chamado preocupou a todos, que correram para buscar baldes e formar uma fila indiana para transportar os baldes cheios.
Lian ainda tremia do recente combate, mas parecia que aquilo tinha feito florescer sua coragem quando começou a agarrar os baldes e despejá-los de volta seu conteúdo ao mar. Aquilo deixou Daisuke curioso, pois apesar de toda sua preguiça da qual se disfarçava a covardia, enfim o garoto pareceu entender que às vezes é preciso matar para sobreviver. Talvez toda essa coragem fosse passageira, mas mesmo assim Hiroshi não quis comentar para não estragar o momento. Tinha coisas mais preocupantes para pensar e uma delas era para qual direção eles seguiriam antes que afundassem. Barba-de-Ferro cochichava nos ouvidos de seu imediato que usou toda sua força para alterar o curso na direção de alguns corais que enegreciam as águas verdes em diversos pontos. Uma loucura. Pelo visto não tinham tanta mobilidade, e entrar no estreito labirinto de corais não seria aconselhável.
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Capitão. O senhor tem certeza? - Apontou o Loiro.
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Não duvides de minha capacidade, franguinho. - Retrucou ameaçadoramente.
CONTINUA...