- Spoiler:
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E, no segundo seguinte, um frio desceu na espinha do ruivo como um relâmpago cortando os céus. Ele não estava familiarizado com os novos sentidos que o senninka lhe proporcionara, mas sabia que aquele pressentimento não era nada agradável. Correu até onde Ayame estava e a pegou pelo braço, ignorando suas dores e ferimentos. Aquilo não era mais importante que sua vida. Jogou-se dentro do armário aberto, agarrando-a ao seu corpo e o fechou logo depois, tomando cuidado para que não fizesse barulho.
- Azura-san! O que isso signf- Ayame teve a fala abafada pela mão do rapaz que fechou sua boca com calculada abruptidão.
- shhhhhhh... - ele sussurrou no seu ouvido, arrepiando-lhe o pescoço.
Filler 33
- Força da Natureza -
Sangue Sujo ~Parte II
Duas vozes, uma feminina e uma masculina, ouviram-se do outro lado da porta. Conversavam sobre algo que estava a acontecer.
- ...O conselheiro de Kumo ainda está no salão com o Senhor Sakuragi? - perguntava a mulher.
- Sim. Ele e o Renge vieram cedo para cá, para o pequeno-almoço. Não sei o que o Sakuragi terá planeado, mas deve ser a conversa do costume… - respondia o homem, denotando-se sarcasmo na sua voz. - Um pede isto, outro pede aquilo, outro comenta a vida de não sei quem…
A mulher riu-se.
- São nobres, não sei o que esperava. Se eles não nos pagassem bem, julgo que já teria ido embora há um bom tempo - ela pausou. - Não tenho paciência para estar lá no salão com eles… Ainda bem que há alguém que faz sempre isso, não é? - voltou a dar um ar da sua graça, referindo-se possivelmente ao seu interlocutor.
- Pelo menos, dá para perceber o que vai dentro da cabeça de um. Nada, a não ser dinheiro e poder. E o Fujishima continua com a mania dele por chá branco, onde já se…As vozes afastaram-se até finalmente se deixarem de ouvir.
Ayame ainda ficou em silêncio por alguns segundos, mesmo depois do rapaz ter tirado a mão da sua boca. Ela maquinava na sua mente o que aquilo significava. Não era possível que aquela conversa fosse verdade! Eram apenas uma conversa casual entre dois empregados revoltados, possivelmente estavam a queixar-se de loucuras... Precisava de uma segunda opinião sobre aquilo. Olhou para o lado e viu que Azura encarava o vazio com sua habitual inexpressão. Ela não o conhecia muito bem, mas podia apostar que ele estava pensando intensamente no que acabara de ouvir... E percebera outro senão. Estava muito apertado ali dentro, de fato, aquilo não foi feito para duas pessoas se esconderem, mas... Porque estava tão frio? Não tinha reparado antes, mas o toque de Azura era algo tão gelado quanto mármore. Olhando agora, ele também tinha um pequeno papel colado na nuca, algo que nunca havia reparado antes, nem mesmo quando fizeram missões juntos no passado...
Ele notou que estava sendo observado e devolveu o olhar.
- Ayame-san. - Ele sussurrou. Seu hálito era quente ao contrário de sua pele, ela percebeu. - Já podemos sair agora.
Ela não tinha percebido antes também. Mas os dois estavam muito próximos.
- Erm… - Ela corou levemente nas bochechas outrora pálidas e saiu apressada do armário. - Gomen gomen.
- Hã? - Ele saiu logo depois, com total indiferença ao modo dela agir.
- Nada… - E então virou-se de costas, cruzando os braços. - erm... O que acha sobre o que ouvimos, Azura-kun? - Perguntou.
- Eu não tenho o direito de achar nada. - O ruivo respondeu sem pensar. Essa era a resposta padrão no lugar onde foi treinado, era sempre melhor esconder os pensamentos que divergiam ao que seu superior dizia.
- Pois eu acho que tem alguma coisa errada nisso tudo... - Ela voltara ao seu normal, e aparentemente esquecera as dores, ou apenas estava as ignorando. - Você sentiu aqueles dois se aproximando. Consegue segui-los?
- Consigo. - Ele respondeu sem hesitar. - Porém, você não se deve exaltar. Volte ao quarto do seu irmão com os remédios e trate dele. - O ruivo foi duro, mas aquelas palavras eram necessárias…
- Ótimo, então venha comigo e se assegure que eu não vou me exaltar. Capiche? - Ela olhou o rapaz com uma expressão inflamada, quase hostil.
- Erm... Okay. - Ele fora derrotado.
- Podes liderar. - disse ela, saindo da frente dele para que ele avançasse e mostrasse o caminho.
O ruivo assim o fez. Não tardou para que chegassem a uma grande porta, que Ayame indicou como sendo uma das salas privadas do avô. Uma sala fora dos limites, portanto, como entendera e bem. Estava, no entanto, na hora de quebrar as “regras” por um bem maior. Depois de se assegurarem que não passava nenhum empregado por ali, colocaram-se à escuta.
- ...a Tsuchikage é muito nova ainda. Muito imatura. Não que o anterior fosse melhor. Mesmo o avô dela tinha cabeça dura. Era muito difícil para nos fazermos ouvir.
- Para não falar do sangue nojento dele. Uma kekkei tota. Ainda pior que uma genkai!
Aquela voz… Era a mesma de há momentos atrás, na enfermaria. Era um dos mordomos.
Ouviram-se risos em concordância e alguém acabou por dizer:
- Mas então o que queriam que ela ouvisse?
- Que ela desse autorização para um dos ANBU ir a Kiri, como o Umehara pediu. Ele estava disposto a pagar bastante pelo serviço. Ela, no entanto, não deu sequer hipótese de sugerirmos isso.
- Serviço? Que queria aquele velho senil desta vez?
- Parece que tinha um certo shinobi que queria fazer… Desaparecer.
- Oh, esse tipo de serviço. Se precisar de algum desse género, já sei com quem falar.
Novamente risos… E, no exterior, Ayame permanecia chocada, colada à porta. Ela estava mesmo a ouvir aquilo? Olhou para Azura na esperança que ele lhe dissesse que aquilo era tudo orquestrado. Ele parecia indiferente, mais uma vez.
- Voltando ao assunto inicial, estou disposto a pagar por essa parcela da informação que têm sobre o paradeiro dos Shugonin Jūnishi. Já não ouvimos falar deles há um tempo. Não fazia ideia que Konoha os tinha trazido de volta…
- Bah, coisas do Hokage. Ele gosta das coisas tradicionais da vila…
- Tradições… - parecia escárnio. - Oh Sakuragi, ouvi dizer que alguns Uchiha nukenin andaram a destruir uns edifícios a este de Konoha.
- Francamente, já é hora de alguém dar um jeito nessas criaturas.
Novamente, a voz masculina de há pouco.
- Ter um deles a quase destruí-los no tempo do Sandaime foi de génio...
Aquilo era suficiente. Nenhum deles precisava de ouvir mais nada. As famílias da Kugeka estavam a usar o torneio como desculpa para troca de favores e informação, corrompendo assim tudo em que deviam acreditar, desvalorizando ainda qualquer pessoa com uma kekkei genkai. Eram eles quem tinha o sangue sujo.
Um pigarrear, passos ritmados, no exterior da sala os sons acordaram os dois jovens dos seus pensamentos, sobressaltando-os. E, como se uma mão puxasse sua consciência, aquela pessoa que surgia atrás dos dois fazia-se notar;
- O que querem, crianças?