As toxinas da mordida do animal penetravam no tecido adiposo e em seguida em sua corrente sanguínea com grande velocidade, levando o rapaz a um estado de inconsciência.

" A Garça, A Aranha e O Tubarão. São os três animais ancestrais, correspondem ao Sábio, ao Sobrevivente e ao Guerreiro. "

Escutou a voz de um homem falando com ele, enquanto ouvia pequenas batidas quase imperceptíveis.  Estava numa floresta submersa, caminhando em uma trilha. Enxergou sua irmã logo a frente, e ao tentar aproximar-se ela se transformou em uma garça que voou para longe.

Andando um pouco mais, viu sua irmã enforcada em uma árvore e ao correr em socorro a corda transformou-se numa teia e ela numa enorme aranha que tecia sua armadilha, e Hideki viu-se preso em sua teia. Mas que diabos... O enorme animal se aproximou, salivando veneno pelas presas, cheirou-o e começou a enrolar o mesmo num casulo de teias quando de repente a aranha recebeu um bote de um tubarão, libertando o rapaz.

Começou a nadar em direção a luz que se avistava acima da floresta submersa, e notou que o tubarão o seguia velozmente, tentou nadar mais rapidamente, estando a centímetros da luz e da superfície todavia foi devorado para dentro do enorme tubarão com uma única mordida e então estava numa caverna aparentemente normal, havia despertado?

- Onde estou? - perguntou o rapaz para si mesmo.  A luz da fogueira crepitava criando um som característico. Seiji levantou-se do chão e viu uma tigela improvisada ao seu lado com água e a bebeu, neste momento um homem apareceu empunhando um khukri em sua mão direita.

- Você acordou. Fico surpreso que tenha conseguido se levantar após ser mordido por um dragão de komodo. - proferiu. Tinha uma barba que parecia não ser aparada a um tempo. Olhos pretos e calmos, e cabelo longo preso por uma fita igual ao cabelo do rapaz.

Foi então que se lembrou de sua luta com o animal, e percebeu que sua perna estava dormente e olhou para a mesma vendo algumas folhas verdes com uma pomada de aspecto natural no local da mordida, ao tentar entender o que tinha acontecido vomitou e caiu no solo com fortes dores de cabeça.

- Mesmo eu tendo criado um remédio com ervas que consegui identificar o veneno ainda vai agir em você por um tempo, portanto acalme-se. - disse calmamente, sentando-se na frente da fogueira e esticando as mãos para aquecê-las.

- Minha irmã e meus amigos... - falou fracamente em meio a gemidos de dor e tosses decrépitas.

- Não sei onde eles estão, talvez estejam com os piratas ou não, não me importo. Selei a caverna com algumas pedras e ninguém indesejado vai entrar. Pegue, a caça foi sua. - rebateu com indiferença em seu tom. Uma tigela com sangue e algo que parecia ser um coração foi entregue a Hideki.

- Tenho que ajudá-los... - proferiu pegando a tigela.

- Pra isso seria melhor melhorar, em vez de perambular envenenado pela floresta. Vou por estas sanguessugas em sua perna para sugarem um pouco mais do veneno, portanto não se mexa demais. - retrucou calmamente, abrindo uma trouxinha feita de folhas entrelaçadas e posicionando três sanguessugas na perna do rapaz.

- Isso é um coração? - disse perplexo, tocando o órgão que já não conservava calor, este tinha parado de bater a horas antes do rapaz acordar e deveria ser consumido logo caso contrário iria apodrecer.

- Do dragão de komodo que você combateu. O ideal é o coração da presa ser comido na hora da sua morte, com o calor de seu espírito ainda batendo, mas o seu caso foi uma situação excepcional, por assim dizer. - rebateu, aproveitando o momento de distração do rapaz para por as sanguessugas sem este perceber.

- E porque raios eu comeria o coração dele? Ainda mais cru. - indagou, incrédulo.

- É o mínimo que se pode fazer garoto. Este animal deu a sua vida para salvar a sua, e a minha. Deve-se honrar o animal comendo seu espírito e honrando sua morte para os espíritos ancestrais. - proferiu seriamente, retirando seu khukri da cintura e desenhando no chão da caverna que tinha um pouco de areia. - A Garça, A Aranha e O Tubarão. Os espíritos em forma de animais. Você tem a marca deles agora. - falou estendendo a manga da camisa do rapaz e tocando a arma em seu antebraço esquerdo.

- Mas que porra...

Continua...