Uma forte tempestade assolava um dos numerosos e movimentados portos de Sora no Kuni e mesmo com o clima implacável o comércio entre os armazéns de navios mercantes, restaurantes e outros escambos e negócios de natureza mais ilícita funcionavam a todo vapor, e Seiji estava envolvido em um desses negócios contra sua vontade.

- E então, vai me por nas lutas? - questionou o rapaz de cabelos albinos, de forma suplicante.

- O que eu ganho com isso? - rebateu o agiota ao compasso de um sorriso avantajado onde seus dentes amarelos mostravam-se.

- Podes ficar com uma parte dos lucros da luta. - proferiu, atingindo o ponto fraco do homem, dinheiro.

- 75% dos lucros das lutas. - ofertou, estendendo a mão num gesto de negócios.

Por um momento Seiji pensou em recusar a oferta mas a imagem de sua irmã doente e seus amigos vieram como flash's de memória obrigando-o a aceitar a proposta do agiota. Apertaram as mãos selando assim o acordo de sociedade em lutas clandestinas. Após falar com o homem, retirou-se, programando a primeira luta para o dia seguinte na taverna Galos Brigões. O rapaz caminhou por alguns metros e entrou numa viela,  passando por uma passagem escondida que este fizera e entrando em uma casa abandonada que tinha risco de desabamento.

- Hideki-kun! - disse Jin, um garoto de dez anos que roubava frutas e legumes que eram descartados por estarem apodrecendo ou por estarem inadequados para os restaurantes da região.

- Jin-kun, como estão todos? - falou serenamente enxugando o rosto e os cabelos com uma toalha surrada.

- Estão todos bem, niichan. Venha comer, sua irmã melhorou um pouco. Consegui alguns legumes e frutas e consegui fazer uma sopa. - falou para o rapaz, puxando-o pela mão. Mesmo que Jin não compartilhasse laços sanguíneos com Seiji, eles consideravam-se irmãos, como todos os outros ali.

- Onee-chan. Você está bem? - perguntou o rapaz de cabelos longos. Abaixando-se ao nível dela, na sua cama, passando a mão nas bochechas dela e sentindo o calor de seu corpo.

- Hideki-kun, estou sim (tosse leve) não se preocupe, até consegui ajudar os pequenos aqui em nossa casa. - essa palavra reacendeu algumas memórias mais longínquas, e um sorriso encenado tomou a frente.

- Consegui um emprego na taverna, começarei amanhã de noite, assim terei mais tempo para cuidar de vocês. - falou carinhosamente, sua irmã o abraçou forte contra seu peito e o rapaz corou. Jin observava de longe, ficando feliz pela melhora da garota e a troca de afetos, e após, foi deitar junto com as outras duas crianças que tinham pouca idade.

- Amanhã vou ajudar vocês, niichan. Agora, precisamos dormir, boa noite. - proferiu gentilmente e abraçando-o mais uma vez estalou um beijo na testa do rapaz. Emi, deitou-se e não tardou em dormir. Hideki foi em direção a pequena fogueira que tinha na lareira e pegando uma tigela e colher, despejou o líquido da sopa e os legumes e limitou-se a comer enquanto analisava o fogo e entrava em devaneios.

◇ ◇ ◇

De repente a cena mudou, e agora Hideki estava em uma ilha, desacordado na beira de um lago, com a cabeça sangrando, sua irmã e seus amigos a alguns metros chorando e sofrendo pelos seus ferimentos, a cena em Sora no Kuni fora um delírio, uma lembrança.

Em meio a gemidos começou a se reerguer, ouvindo sibilos típicos de répteis, virou-se com a injeção de medo, adrenalina e curiosidade e deparou-se com um dragão de komodo, de um metro e setenta de comprimento, forte e imponente.

Seus amigos perceberam o perigo e rapidamente pararam, Emi viu-se arrastada pelo sentimento protetor em relação ao seu irmão mas este ergueu o braço pausadamente. Não deveriam se movimentar ou o animal encararia como uma afronta aberta, estavam em seu território.

Recuou um passo e o animal avançou um, percebeu que deveria avisar seus amigos para correrem primeiro se quisesse dar uma chance a eles, ergueu a mão para fugirem, relutaram, o fez novamente e relutaram.

- O que vocês estão fazendo, seus tolos?! Fujam, eu alcanço vocês. - sussurrou, mantendo um contato visual com o predador, este abriu a boca e sua língua sibilou, sua cauda se agitou, um prelúdio para o embate.

Com estes incentivos, Seiji gesticulou para irem embora e em meio aos choros fizeram. Hideki abaixou-se e pegou uma pedra e levantou-se, o animal avançou e o rapaz ergueu a pedra soltando um rugido de raiva e batalha erguendo a pedra com intenção de esmagar a cabeça de seu oponente.

A pedra atingiu o crânio da criatura, entretanto o mesmo não morreu e investiu contra o tornozelo do rapaz abocanhando o mesmo e andando para trás, arrastando-o e liberando as toxinas contidas em sua boca.  Em meio a gritos, agarrou uma pedra e atirou contra seu olho e o animal não se abalou, como último recurso, iniciou uma sequência de socos contra a cabeça do animal, atordoando-o.

O embate se desenvolvia violentamente, o animal não se agitava tanto quanto antes devido as pedradas e socos, todavia continuava insistente em seu almoço. Perdendo as energias, estava prestes a desistir quando de repente uma faca surgiu na cabeça do animal matando-o.

Continua...