Ontem foi o dia de minha fulga. Não sei bem ao certo os motivos que me levaram a abandonar tudo para trás, porém eu não posso mais me prender ao local onde nasci daquela forma. Iria me prejudicar no crescimento como um shinobi, creio que foi o melhor a se fazer, provavelmente logo mais estarão a minha procura, espero que não me encontrem, se por acaso o fizerem terei de lutar bravamente contra eles, não devo me render em hipótese alguma diante esta batalha para me levar de volta. Sei que pareço infantil e briguento falando desta forma, porém é melhor assim.
Eu ainda cometi a besteira de trazer um bando de tralhas do passado comigo que só me farão pensar mais e mais na vida pacata que eu talvez pudesse ter levado em Kusa. Casar-me com Ayuri, ter filhos e cria-los para serem shinobis assim como eu fora, parece um plano perfeito para alguns, entretanto não para mim. Aquele que deseja tornar-se inteligente e poderoso deve estar disposto a tomar decisões e assumir os riscos, eu fiz minhas escolhas e estou assumindo os riscos.
O sol já está nascendo e logo Ero irá despertar, a caminhada vai ser longa segundo ele e devemos nos apressar antes que enviem alguém para nós caçar. Eu não era o principal motivo para eles virem atrás de nós, aquela explosão sim.
***
— Vamos garoto, estamos chegando no seu novo lar. — Ero falou com sua voz grave enquanto caminhava por uma estrada tortuosa, guiando-me em direção a algum lugar aparentemente secreto.
Em poucos passos me encontrei na beirada de uma encosta. Meus olhos se maravilharam com a relva tranquila misturando-se as pedras brutas. Consegui captar os detalhes das árvores crescendo sobre pedras, da grama alta tornando-se nada mais do que rochas. A floresta verde sumindo em pedregulhos de tons de marrom e cinza. Porém o mais peculiar na visão não era daquela divisão natural, que mais parecia artificial, o que realmente chamava-me a atenção era uma cidade esquisita nos limites de cada bioma. Ela tinha duas arquiteturas distintas, casas mais artísticas e monumentais como as de Kusa e do outro lado havia uma arquitetura bruta de rochas sobre rochas, blocos de diferentes tamanhos e formas feitos de pura terra. Apesar desta arquitetura diferenciada a cidade parecia tão igual, convergia em um mix de cores e luzes, a agitação do local era eminente apesar de seu tamanho nada condizente com a quantidade de pessoas a andar por suas ruas e a realizar as mais diferentes tarefas.
— Bem Vindo a Pedra Verde. — Disse Ero apresentando a cidade do alto daquela encosta. — Acho que não preciso lhe explicar o nome, não é mesmo?
— Não precisa. Ela é exatamente dividida ao meio pelas fronteiras naturais dos Países da Grama e da Terra. Incrível. — Observei enquanto mantinha um sorriso maravilhado no rosto.
— No principio eram duas cidades bem próximas a fronteira, então elas cresceram e expandiram-se até unirem-se em uma única cidade que está nos dois países. — Explicou o meu guia já saltando da encosta para as árvores.
Eu o acompanhei mal tirando os olhos daquela magnifica cidade, me parecia deveras interessante, mas vê-la de perto me causou um certo impacto. Ver as pessoas felizes e passeando juntas pelas ruas me trouxe o sentimento de que eu havia deixado tudo isso para trás a poucas horas e que a vida seguiria assim por longos, talvez dolorosos anos. Eu tentava me convencer que fora para o bem de todos, para não vê-los machucados e sofrendo por minha causa, por mais que eu no fundo soubesse que havia sido apenas pelo egoísmo próprio.
A necessidade eminente de mudança era o que me mantinha com o semblante calmo e a mente em foco, tinha total conhecimento que precisaria mudar por completo para ser um verdadeiro Nukenin de agora em diante. Talvez mudar princípios e atingir novas metas na vida para que eu passasse a ver tudo de forma diferente e me tornasse melhor do que eu era quando estava junto aos meus amigos. Não sei quanto tempo vai durar essa mudança, nem mesmo tenho a certeza que mudarei, porém preciso fazer o máximo para não me destruir e acabar arrependido.
Mais alguns instantes de caminhada pela cidade nos levaram até um prédio abandonado, nele Ero mostrou-me uma porta secreta na cozinha. Após descer algumas escadas e passar por alguns túneis acabei me deparando com uma parede de metal que o homem que me acompanhava abriu tocando-na e provavelmente concentrando uma parcela de seu chakra nela. A porta de pedra levou-nos para dentro de uma espécie de centro de treinamento, haviam corredores, salas, quartos, laboratórios, academia e espaço para treinos, tudo iluminado por um sistema elétrico muito bem distribuído e além de contar com dutos de ventilação já que o local era tão no subsolo que até ar era difícil de se ter ali em baixo. O local era realmente grande e tudo aquilo estava logo abaixo da cidade, como eu poderia imaginar que haviam uma construção tão grandiosa no subterrâneo de uma cidade perdida na fronteira de dois países.
— Este é o seu lar. Chamada de Punho 365, esse é um dos esconderijos da Punho Dourado. — Falava Ero enquanto andava na frente apresentando o local. — O número indica qual é a posição desta base no ranking da Punho de Ferro. Quanto menor seu número, maior e mais vantajosa é sua posição. A posição concede regalias aos membros da base, dando-lhes novos recursos que desejarem, você é agora o líder da Punho 365.
— Pera, eu sou o líder deste local? — Questionei de imediato. — Como isso pode ser possível, acabei de chegar aqui.
— Fique tranquilo, irá aprender com o tempo. Além disto tem uma equipe com você, por enquanto são apenas dois ninjas, mas eles serão muito úteis a você. — Falou ao parar diante de uma porta em um dos corredores. — Aqui é o seu quarto. Pode entrar e verificar as coisas, passeie pelo local. Sei lá, faça o que quiser. Os seus membros chegarão em breve e você receberá a carta de comando que lhe dará mais explicações sobre a organização e seus serviços. Por enquanto é isto.
Adentrei o quarto e me deparei com uma maravilhosa cama de casal, um guarda-roupas embutido na parede, uma estante cheia de livros que tinha a altura até o teto, um pequeno cômodo para guardar equipamento e um banheiro. A decoração era simplória, porém não tornava o local menos atrativo. Quando virei-me para falar algo para Ero o homem já havia sumido. Joguei-me na cama para esperar aquilo que o homem havia me dito. Olhando para o teto a minha mente vagueava enquanto eu procurava entender o porque de eu ser o escolhido, o motivo de eu me tornar o líder e também o que me levou a aceitar aquela proposta. Em poucos instantes de raciocínio sobre todas as questões que me vinham a cabeça, eu acabei por dormir. Estava cansado e não havia dormir bem na noite anterior com medo de que fosse morto durante a noite, agora estou aqui em Pedra Verde, esperando meus companheiros e verificando o que iria acontecer daqui para frente.