Escrevi-o às tantas da manhã, por isso não liguem à falta de qualidade e aos possíveis erros dados. O calor dos braços de Ryu acalmou-a e fez com que voltasse à realidade. Aquele pesadelo ainda latejava na sua cabeça, mas precisava de o esquecer. Afinal aquilo nem se parecia minimamente com uma das suas Visões…
Kristea deixou-se embalar um pouco mais. Ryu mantinha-a junto do peito, afagando-lhe os cabelos. Até que ela reparou na luz do sol.
- Que horas são? – perguntou ela.
- Passa pouco das oito da manhã. Porquê?
Relutante, Kristea afastou-se dele e levantou-se, tentando alisar o seu cabelo despenteado por ter acordado há pouco minutos.
- Daqui a umas horas tenho que ir ter com a Sakura-sensei. Vou finalmente começar a estagiar no hospital de Konoha. Segundo ela, é o meu presente pelo meu estudo e esforço e por me ter tornado chuunin – disse ela, com um sorriso nos lábios.
- Ah, pois é. A tua pequena grande aventura no Exame Chuunin. Quando soube que ias participar, estava a ver que arrancava cabelos – suspirou Ryu, abafando uma gargalhada. – Decidir participar mesmo em cima da hora… Só tu…
- Fui bem sucedida, não fui? É isso que importa. Embora não saiba exactamente como o fiz… - retorquiu Kristea, acabando de pentear o seu longo cabelo encarnado.
Ele soltou umas risadas. Apesar de tudo, a menina que ela outrora fora continuava a crescer. Kristea já não era a menina que ele segurara nos seus braços durante tanto tempo. Sabia perfeitamente que estava longe de ser pai dela, mas era isso que sentia. A nostalgia de ver uma filha tornar-se mulher diante dos seus olhos…
- Quando acabares de te arranjar, desce. Vou preparar um pequeno-almoço especial para a minha pequenina – declarou ele, ao aproximar-se dela. Beijou-lhe os cabelos e voltou-se para sair.
- Eu não sou tua, nem sou pequenina!!! – exclamou ela, mandando-lhe um murro nas costas.
Ele olhou para ela por cima do ombro e tentou provocá-la:
- Ah, não és? Então porque tens que olhar para cima quando falas comigo? E porque é que me deste um murro nas costas e não um estalo na cara?
Kristea corou. Sabia bem da diferença de alturas entre eles. Era uma diferença abismal, visto do seu ponto de vista.
Ryu sorriu, satisfeito com a reacção dela, e saiu do quarto.
Cinco minutos depois, Kristea desceu as escadas e foi para a cozinha. Estava distraída, a pensar em algo, coisa que não passou despercebida a Ryu.
- O teu irmão já saiu de manhã cedo, sim – respondeu-lhe.
- Mas como… Ah, esquece… Estava a pensar nisto porque o futon do quarto de hóspedes está arrumado.
- Ele não me disse nada, mas pela cara dele… Não me parecia que ia treinar…
- Não consegues ler a mente dele como lês a minha?
- Claro que não, baka. Só consigo ler a tua. É como se todos os outros estivessem sintonizados em FM e tu em AM. E eu só consigo ler AM…
- Ah… Mas que comparação a tua… Rádios… - balbuciou ela, enquanto se sentava à mesa e se servia de uma taça de arroz.
As horas pareciam voar entre o tomar o pequeno-almoço e arrumar a cozinha. Quando deu por si, Kristea teve que sair à pressa para chegar a horas a casa da sua sensei.
Resolveu tomar um atalho e seguir pelos telhados. Embora não parecesse, Konoha era uma enorme vila. E então para si, que morava um dos extremos, parecia-lhe ainda maior pelo tempo que demorava a chegar a qualquer outro lado.
Acabou por se cruzar com Sakura já perto da casa desta última e resolveram ir juntas para o hospital.
- Então, como está a minha aluna recém-formada chuunin? Preparada para o estágio? – inquiriu Sakura, com um tom divertido na sua voz.
- Presumo que sim…
- Os primeiros dias são os mais complicados. Custa um bocado habituarmo-nos ao ritmo e assim… Ah, cá estamos – disse Sakura, abrindo a porta do hospital para deixar a recém-chuunin entrar.
Apesar de Kristea conhecer bem o hospital, entrar lá era como mudar de mundo. Era um ambiente diferente, embora não soubesse explicar o porquê. Ali todos os médicos e enfermeiras se conheciam e ajudavam. Era como se entrasse num mundo onde a guerra não existia e onde todos estavam unidos por um bem comum: salvar vidas.
À medida que caminhavam, Kristea apercebeu-se do quanto cada um dos presentes estimava Sakura. Cumprimentavam-na e saudavam-na sempre que a viam passar. Era, sem dúvida, uma das pessoas mais queridas naquele hospital.
- Bem… Como ainda agora vais começar, sabes que vais começar por trabalhos pequenos. Infelizmente, não posso ficar sempre a supervisionar-te, mas terás sempre alguém que te guiará e verá os teus progressos – disse Sakura, ao entrarem numa outra ala hospitalar. – Preparada para começar o teu primeiro dia como estagiária?
Kristea respirou fundo e respondeu com um sorriso:
- Claro que sim!