Os mercadores gritavam ferozmente à procura de clientela. Incontáveis nomes de produtos de todos os géneros eram citados e elogiados como de alta qualidade e baixo preço incitando pessoas interessadas a aproximarem-se das bancadas e logo começarem um pequeno leilão para diminuírem ainda mais o preço. As ruas pavimentadas a mármore dispunham de boa mobilidade para todos os habitantes e trabalhadores daquela aldeia. Os dias da semana naquele local eram especialmente movimentados pelos turistas de todos os locais que vinham à procura de lazer, entretenimento ou algum comércio fácil.
-Só neste mês já visitei cinco vilas diferentes… - Pensou Katsu de mãos metidas nos bolsos das calças e de olhar atento para uma loja à sua frente – Já sou um gajo muito viajado, pode ser que traga a Kimera aqui para a próxima…
Parou com os seus pensamentos e movimentou-se em frente. Com um rodar da maçaneta a porta da loja era aberta e um adolescente encapuçado entrava na área. A clientela do local prendia a sua atenção no assustador vulto que adentrava no local, alguns dos funcionários também olhavam para ele, sendo que alguns murmuravam entre si sobre a figura, menos o funcionário que estava no balcão, e era este que despertava especial interesse no Imagawa. A loja funcionava como um mercado, vendia todo o tipo de produtos em prateleiras, estantes em cima de mesas distribuídos por todo o local, tais produtos que eram devidamente organizados pelos funcionários e analisados pelos escassos clientes do mercado.
O mercenário estava alheio a todos os olhares, em curtos passos este aproximava-se da primeira prateleira próxima a si e logo fingia dar atenção a uns mangá`s. Não muito longe de si estava um funcionário no balcão a servir uma idosa com um sorriso de orelha-a-orelha. O rapaz tinha cabelos negros que condiziam com os óculos finos negros à frente dos seus olhos. Como o balcão era relativamente baixo dava para notar que ostentava uma camisola azul e calções negros e que era bastante baixo, que possivelmente nem chegava ao queixo do Katsu.
-Sohel Surviela – Refletia o mercenário olhando para o alvo de sobrolho mediante esfolheava um mangá sem interesse – Nome invulgar para alguém tão vulgar…
Decidiu aproximar-se a passo lento quando via a idosa a afastar-se do balcão a grande pressa. Sohel despedia-se da cliente com um acenar de mão e um contínuo sorriso. Aí via o vulto a aproximar-se dele mas o seu constante sorriso não diminuiu.
-Bem-vindo, o que deseja? – Cumprimentou com enorme empatia não diminuindo o seu esforço perante o semblante indiferente que Katsu passava com a sua máscara. O Imagawa nada dizia limitando-se a estender o mangá em sua frente pousando-o por cima do balcão, o balconista pegou e analisou a revista determinando o seu preço – Vinte e quatro ryos senhor!
-Fodace que ainda me sai mais cara que as shurikens… - Resmungava o mercenário em pensamento remexendo nos bolsos e retirando um conjunto de moedas que pousava sobre o balcão.
-Deseja que eu a embrulhe ou que ponha num saco? – Perguntou o alvo ainda a sorrir e a recolher o dinheiro para uma caixa característica. Inesperadamente este recebeu o braço de Katsu a estender-se à sua frente sem uma clara troca de palavras – Não quer nada então? – Voltou a não receber resposta e então decidiu pousar a mangá na mão estendida do cliente diminuindo assim o seu sorriso com o comportamento estranho que estava a ver. Katsu então agarrou no mangá e fitou os óculos negros de Sohel, este apercebia-se que uma certa hostilidade começava a ser criada, só sendo cortada quando o cliente virava-lhe costas e procedia caminho até à saída da loja – Ah… Volte outra vez! Eu acho…
O Imagawa fecha a porta de leve por detrás de si e posteriormente olha em seu redor. Após encontrar o que queria concentrou chakra nos seus pés usando o Kinobiri para escalar a parede até chegar ao telhado de um dos edifícios por detrás da loja. Em cima desse telhado, Katsu sentou-se na berma e abriu o mangá começando a esfolheá-lo com leve interesse.
O resto do tempo passou rapidamente, o sol começava a descer no horizonte ganhando assim a sua característica alaranjada conhecida também por pôr-do-sol. Essa altura do dia também era sinal de descanso após tanto trabalho e todos os trabalhadores saem dos respetivos locais de trabalho para dirigirem-se às suas casas. Sohel não era exceção. O alvo saía agora da sua loja trancando o local e dirigindo-se para sua casa em meio de assobios e passos alegres. Katsu guardou a revista num dos bolsos e ergueu-se de rompante concentrando chakra nas suas luvas até criar garras feitas de chakra.
-Amor! – Gritou uma voz feminina encostada a um poste que olhava Sohel de alto-a-baixo com um sorriso tímido.
-Linda! – Cumprimentou o alvo com um abraço apertado e um beijo romântico – Já acabei o trabalho, que estás a fazer aqui?
O casal continuou a sua conversa, mas Katsu não avançou. As garras de chakra desapareceram da mesma maneira que haviam aparecido e o Imagawa colocou-se de cócoras. O casal começou a andar e o mercenário perseguiu-os em cima do telhado, eles conversavam frequentemente e a palavra “momentos mortos” não parecia existir na conversa deles. Horas passaram e o caçador começava a fartar-se de andar a saltar de telhado em telhado e de ver o casal sempre a falar trocando de vez em quando beijos e caricias. Finalmente estacaram obrigando Katsu também a parar.
-Vemo-nos amanhã antes de eu ir trabalhar? – Perguntou Sohel agarrando na sua namorada pelo dorso.
-Ok amor, até amanhã! – Despediu-se com mais um beijo romântico afastando-se depois de Sohel a correr mas virando-se uma última vez para enviar-lhe um beijo.
O alvo ficou a vê-la a ir embora com um olhar apaixonado. Quando esta desparecera ele já suspirava com algumas saudades da rapariga, tanta distração nem lhe dava oportunidade de sentir o perigo.
-Não vais vê-la amanhã… - Ecoou uma voz no local o que alertou Sohel obrigando-o a virar-se para todos os lados procurando o dono dessa voz.
-Quem está aí? APAREÇA! – Gritou a voz assustada do alvo que ainda olhava ao seu redor à procura do inimigo.
-Kasumi Jusha no Jutsu… - Murmurou Katsu em cima de um ramo de uma árvore após realizar alguns selos e concentrar um pouco de chakra.
Clones feitos de óleo com o formato do Imagawa surgiam de todos os cantos. Provinham de paredes, postes de eletricidade, chão e de árvores e arbustos que rapidamente construíam um cerco em redor de Sohel.
-O que é que queres? – Perguntou o rapaz ainda com a voz ligeiramente esganiçada mas ganhando coragem – Eu não quero lutar!
O dono da voz não respondeu e os clones de óleo logo fingiram um ataque mas Sohel esquivou-se e procedeu na defesa desviando-se e bloqueando o ataque do Genjutsu. Este afastou-se dos clones reconhecendo-os como provenientes de um Genjutsu.
-Não vou lutar e ponto final! – Voltou a gritar realizando alguns selos – KIRIGAKURE NO JUTSU! – A humidade do local aumentou a um ritmo alarmante mediante uma densa névoa surgia nas costas de Sohel e começava a cobrir todo o local rapidamente.
Agora com uma boa cobertura, Sohel decidiu projetar-se nos meios dos bosques para ter ainda mais cobertura e poder escapar do Imagawa o quanto antes. O Imagawa apercebeu-se das intenções do seu oponente a tempo de pensar em alguma estratégia.
-Não consigo ver nada e ele enfiou-se no meio dos bosques. Deve de haver alguma maneira de o encontrar – Pensava o rapaz lembrando-se finalmente de algo – Já sei! Vou usar o meu Kankaku no shinfonī para aumentar a qualidade do meu sistema auditivo, assim poderei encontrá-lo mais facilmente.
E assim o fez. Após concentrar chakra na flauta metida na sua boca uma intensa e curta melodia começou a ser tocada. O efeito do Ninjutsu depressa surte efeito e Katsu sente o “boost” a ganhar terreno no seu corpo. Agora conseguia ouvir tudo, desde a brisa a passar pelo local como a pequena folha a cair no solo, tal como os passos apressados a chocarem contra o solo não muito longe da sua localização atual.
Agora apto para apanhá-lo, o Imagawa começou a correr fazendo uso de Sunshin`s e toda a sua velocidade para poder acompanhar a corrida de Sohel. Quando estava a centímetros de capturá-lo, uma bomba de água irrompe o cenário partindo um galho a meio e direcionando-se a Katsu, este que a invade facilmente esquivando-se para uma das suas laterais e deixando a bala de água colidir com a árvore.
-Fodace agora perdi-lhe o rasto… Terei que usar o outro truque na manga! – Pensou voltando a retirar a sua flauta do bolso e concentrar chakra nela.
A melodia Kankō-chi no shinfonī depressa ganhou asas e o seu doce e calmo tom começou a ecoar pelo local. Todos os seres vivos ouviam-no e a enorme atração por ela obrigava-os a caminharem a passo lento na sua direção. Dos arbustos, esquilos e coelhos caminhavam na sua direção enquanto pelo ar apareciam borboletas e pássaros, todos eles atraídos pela música. Enquanto os animais construíam um cerco à volta do Imagawa este olhava para Sohel que aparecia também de uns arbustos, igualmente hipnotizado. O mercenário continuou a tocar a música à espera que o seu oponente aproximasse-se o suficiente para então infligir-lhe dano.
-És meu! – Gritou Katsu parando de tocar a música e atingindo com um soco na barriga de Sohel.
Ao mesmo tempo que a música era cancelada todos os animais que outrora estavam hipnotizados sentiam-se agora livres e começavam a correr procurando refugiar-se dos dois humanos que lutavam. Sohel recebe agora outro soco na barriga seguido por um pontapé num dos flancos que projeta-lhe o corpo contra o chão, erguendo só o tronco fraquejando.
-Erubo! – Pronunciou o Imagawa atingido com uma cotovelada cheia de força na cabeça de Sohel arremessando-lhe o corpo para um pouco longe de si, encaminhando-se depois contra ele a passos lentos e cautelosos – Desculpa amigo, nada pessoal, só negócios! – Avisou pegando no corpo inerte do Surviela pelos colarinhos e erguendo-o no ar – Heddo Batto! – Voltou a pronunciar atingindo-lhe na testa com uma fortíssima cabeçada que projetou o corpo do alvo contra a árvore de costas – Também pensei que fosses ser mais complicado de derrotar, mas alguém como tu nunca o faria!
O Imagawa preparava-se para acabar com a luta naquele exato momento mas o seu plano falhara quando uma das pernas do alvo de Kiri rasava no chão e colidia com as pernas do mercenário. Uma rasteira é feita no exato momento e agora o corpo do caçador estava a colidir com o solo numa pancada violenta dando a oportunidade a Sohel para erguer-se e recuar para uma distância segura.
-EU é que não vou perder para alguém como tu! – Exclamou o Surviela com grande ênfase nas palavras - Suiton: Teppōdama!
Três balas de água eram projetadas da boca de Sohel, tais bolas de água que voaram pelo local atingindo um Katsu surpreso e arremessando-lhe o corpo contra o solo ainda o obrigando a rodar um pouco devido ao inesperado impacto.
-Como vês sou um osso duro de roer! – Convencia-se o alvo com uma leve risada interrompendo-a quando via o seu inimigo a erguer-se como não tivesse sido atingido por nada.
Numa velocidade estonteante, incontáveis shuriken eram invocadas nos pulsos de Katsu, shurikens que eram rapidamente enviadas em diversas direções contra Sohel. O ninja de Kirigakure só via a opção de atirar-se para uma das suas laterais para poder esquivar-se da onda de shuriken que aí vinha, e assim o fez. Num salto felino este consegue esquivar-se das estrelas, mas não se desviara do Sunshin do Imagawa que o colocava à sua frente e da potente patada que atingia-lhe a cara e o obrigava a chocar com outra árvore. O mercenário amortecia a sua queda no solo e corria na direção da árvore para acabar logo com o confronto, mas nela só via o corpo de Sohel a desfazer-se em água.
-Mizu Bunshin… Palhaço! – Pensou o Imagawa agressivamente não dando atenção suficiente à kunai que vinha por detrás de si e que cravava-se num dos seus gémeos acompanhando um gemido de dor pela parte do dono desse gémeo.
Sohel irrompia pela noite com uma kunai na mão tentando atingir Katsu com ela. Este antecipou o movimento a tempo de fazer um rolamento em frente e virar o seu corpo em trezentos e sessenta graus para conseguir encarar Sohel. Nenhum dos dois avançava criando-se assim um ponto morto onde a hostilidade entre os dois fervilhava. Assim os nervos do Imagawa obrigam-no a saltar em direção do Surviela com as garras de chakra em riste e posicionadas para cravarem-se no peito do seu inimigo. Sohel desviava-se para o lado e recompunha-se para arremessar uma shuriken que era facilmente bloqueada pelas garras do mercenário. Nesse momento atira-se de cabeça com as garras totalmente esticadas para frente apontando-as para os tornozelos do ninja de Kiri, este que observa o movimento e esquiva-o saltando o mais alto que conseguia. O Imagawa batia contra o solo de barriga, mas depressa virava-a para cima para observar o seu oponente ainda no ar e que começava a descer em pique com uma kunai em riste e pronta para cravar-se num dos braços de Katsu.
-Katon: Dai Endan! – Trovejou o rapaz após abrir a câmara-de-gás da sua boca e concentrar chakra no peito disparando uma parede de chamas à sua frente que colocava-se na interseção entre ele e Sohel.
O Shinobi da Névoa apercebia-se que ia de encontro às chamas. Como era impossível de escapar este limitou-se a colocar os braços à frente do seu corpo em forma de cruz e atravessar o campo de fogo. Assim o fez com sucesso apesar de atravessá-lo com múltiplas queimaduras na roupa e na pele, mas esquecera-se totalmente que após esse campo situava-se o mercenário que estava à espera dele, estando agora a atingir-lhe com um forte pontapé na cara projetando-lhe o corpo para longe de si.
-És forte para quem subestima os seus oponentes… - Afirmou o rapaz de Kiri erguendo-se lentamente e encarando o seu adversário com tenacidade.
-Não te subestimei, só desvalorizei-te… - Respondeu o Imagawa ainda com as garras de chakra ativas.
-Magen: Narakumi no Jutsu! – Urrou Sohel após fazer uns curtos selos criando agora um Genjutsu.
Um turbilhão de folhas surge em torno de Katsu e começa a desenhar círculos à sua volta. A força da ilusão intensificava-se cada vez mais ao ponto das folhas desaparecem dando agora lugar à imagem de Kimera à sua frente. Contudo esta estava diferente, a Fukeru estava totalmente coberta por kunais que atravessavam incontáveis zonas do seu corpo deixando assim inúmeros fios de sangue escorrerem por ele até irem de encontro ao chão.
-Katsu… foge… ele… - A rapariga falava a grande custo atirando-se depois ao solo com grandes dores em todo o corpo.
-Claro… - Pronunciou o rapaz unindo as mãos no selo “Rato” e interrompendo a sua corrente de chakra voltando a ativá-la de rompante – KAI!
O cancelamento funcionou com sucesso e o Genjutsu à sua volta já começava a desaparecer dando agora lugar à realidade. Tal realidade que apresentava Sohel a correr na direção de Katsu com uma kunai na mão aproveitando-se certamente da vulnerabilidade que o Imagawa apresentara ao ser submetido ao Genjutsu. Como apercebeu-se do avanço do seu inimigo a tempo, Katsu conseguiu usar um Sunshin para escapar do ataque e voltar a aparecer atrás do Surviela tentando raspar-lhe as costas com as suas garras de chakra. O avanço delas era bloqueado quando o ninja de Kiri dera meia-volta e colocado a kunai na sua interseção defendendo-se assim. A sua mão desocupada criava agora um chicote de água, tal chicote de água que varria o ar e atingia o Imagawa na barriga obrigando-o a desativar as garras de chakra e a agachar-se colocando os braços na barriga. Sohel continuou o ataque com outra chicotada nas costas atirando agora o corpo do seu adversário contra o solo e depois obrigando que o seu chicote contorna-se o tronco do mercenário e o projeta-se para longe de si dando-lhe outra forte colisão contra o solo e mais dores a percorrer-lhe o corpo.
-Isto é a vingança pelo que me fizeste há pouco! – Avisava o rapaz recolhendo o chicote e encarando o seu adversário que levantava-se a um ligeiro custo – Parece que queres apanhar mais!
O chicote voltava a varrer o ar e preparava-se para atingir o mercenário de novo mas, subitamente, este desfazia-se e uma curta chuva proporcionada pelo chicote debatia-se por cima da relva. O corpo do ninja de Kiri ajoelhava-se e a sua mão direita pousava sobre o seu ombro esquerdo sentindo nele um vazio e enorme calafrio, mas dor nenhuma, apesar de ter a certeza que há pouco um braço branco o havia trespassado.
-O q-que é isso? – Gaguejou o rapaz ao ver que um braço branco, quase invisível, recolhia-se para o braço direito de Katsu.
- Gôsuto Shuso no Jutsu… Não é à toa que chamam-me de Nightmare! – Explicou o rapaz arremessando outro braço fantasma, agora do seu braço esquerdo, até que este trespassa-se a cabeça de Sohel roubando-lhe um pouco de chakra e deixando um leve calafrio nessa zona – Estes braços não são físicos e conseguem sugar-te chakra, espetacular não é?
O Surviela agachava-se contra o solo, cansado e sem chakra a sua luta acabara ali mesmo. Por muito que resistisse o seu oponente era simplesmente melhor, por estar melhor treinado e por ter muito mais chakra… E “Nighmare”… Com certeza o nome era-lhe familiar.
-Genjutsu Shibari… - Pronunciou o Imagawa concentrando o seu último chakra e apontando com um dedo na direção de Sohel paralisando-lhe o corpo com um simples Genjutsu – E no final ganhei eu…
O “Nightmare” aproximava-se lentamente do corpo do seu alvo e colocava-o ao ombro. Paralisado, cansado e sem chakra, o resto da viagem até Kirigakure fora relativamente fácil. Lá entregara o corpo e levantava o pagamento por ele. Mais um trabalhinho completo enquanto a fama de Nighmare se espalhava mais um pouco…