Acordou calmo e relaxado numa cama confortável. A luz entrava pela janela, iluminando o quarto ricamente ornamentado. Sentia-se limpo e calmo. Dirigiu-se à porta, atravessando-a. Puraido esperava-o do outro lado. Sem uma palavra, ao ver a determinação nos olhos do rapaz, dirigiram-se ao campo de treinos. Pelo caminho explicou-lhe um jutsu que “poderia vir a ser útil”.
Na arena esperava-os um outro homem, de vestes negras como as da Sin.
- Envie, hoje vais ajudá-lo a treinar, siga.
O homem loiro à sua frente olhou-o interessado. Da última vez que tinha visto Envie, era uma mulher. Queria isso dizer que o seu posto tinha sido dado a outra pessoa?
- Vamos começar – anunciou alegre o homem loiro – Oitenta abdominais, e nem um a menos.
Começando já a habituar-se ao regime para treinar a força o Genin começou. Lenta e dolorosamente passou o tempo, enquanto o seu corpo se elevava para descer de novo. Fez a primeira metade sem dor alguma. Contudo, à quinquagésima a dor veio, acutilante e inesperada. Mas não podia parar. Tinha de mostrar, a eles e a si próprio que estava mais forte. O suor começou a manifestar-se por todos os poros, mas tinha tido o cuidado de tirar o kimono, não havia problema. A sexagésima o seu corpo já não descia, caía, simplesmente. Quando terminou abriu os braços e deixou-se ficar no chão, inerte.
Depois passou às flexões. Quarenta, segundo Envie deveria ser canja. Mas os seus braços não estavam prontos. Fez as primeiras vinte sem problemas, mas o ácido láctico excessivo do exercício anterior revelava-se agora espalhando-lhe uma dor intensa por todo o corpo. Mas aguentaria. As gotículas caíam pelo queixo enquanto o seu corpo em prancha subia e descia apoiado nos finos braços. Faltavam dez, cinco. Caiu. Não aguentava mais.
- Como raio é que este puto chegou sequer ao torneio Chuunin?
Deram alguns minutos ao rapaz para descansar.
- Agora, Puraido gabou-te a perícia e o intelecto, dá-me tudo o que tens! – ordenou.
Saltou impetuosa e agilmente sobre Envie que bloqueou o soco sem dificuldade. Tentou pontapeá-lo, mas o seu inimigo agarrou-o e arremessou-o. Rodou no ar e lançou algumas kunais. Uma delas acertou em Envie, de raspão, paralisando-o com a vontade de assassinar do rapaz. O homem loiro libertou-se rapidamente da ilusão, apenas para ver Selim que já fazia selos rapidamente, enquanto deixava correr o chakra, desaparecendo de vista.
Envie perscrutou a arena atentamente em busca do seu inimigo. Não o via. As raízes cresceram rapidamente, até que toda uma árvore enrolou o seu corpo num abraço apertado. Do tronco surgiu Selim empunhando uma kunai invertida encostou-a ao pescoço de Envie.
- Warida – declarou sorrindo.
Mas mal lhe encostou um pouco a faca ao pescoço esta ficou presa. A sua mente atingiu-o, quase tarde demais, enquanto voltava a entrar na árvore que se desfazia em pétalas.
- Katsu! – exclamou o homem loiro ordenando ao clone que explodisse.
Esperou ter apanhado Selim, mas em vez disso viu pétalas coloridas que se espalhavam pelo ar, levemente. Até se começarem a reunir num turbilhão do qual surgiu o Genin, ileso. Ou quase. Assim que levantou os olhos viu que uma manga do kimono quase desaparecera com a explosão, resultando em que o restante traje estivesse chamuscado.
- IMPERDOÁVEL! – bradou a plenos pulmões.
Dirigiu um olhar de puro ódio a Envie, enquanto concentrava chakra. Levantou as mãos para o céu num glorioso ímpeto, enquanto uma enorme esfera flamejante caía dos seus.
- Morre – ordenou com pleno desprezo.
Envie como era natural tentou fugir, até se aperceber que um Genin nunca poderia criar algo daquele tamanho. Mas o pânico não o deixava quebrar o fluxo de chakra. E no entanto a bola desvaneceu-se sozinha, ao mesmo tempo que algo estalava. Duas costelas suas, comprimidas por uma enorme cobra branca, saída da manga do rapaz, partiram com um estalo sonoro.
- Essa foi pela minha roupa – anunciou enquanto atirava o que restava do kimono para o lado, dirigindo-se à porta.
Um espigão saído da terra lançou-o ao chão, comendo pó. Um rapaz ruivo estava agora onde Envie deveria estar, supostamente. A ferida na coxa do Genin sangrava levemente, mas não seria travado por tal coisa. Levantou-se e deslocou-se com um shunshin para perto de Envie, sacando a sua foice de um pergaminho. Envie bloqueou-o, socando-o para longe depois. Selim, por seu lado, rodou agilmente no ar, ganhando balanço e arremessando a tripla foice contra o seu inimigo. Envie bloqueou a lâmina com uma kunai, puxando depois a foice, à qual Selim estava agarrado. O rapaz foi puxado, no ar, contra o seu inimigo. Deixou o chakra correr para os olhos e fitou-o enquanto descia, obrigando-o a confrontar os seus medos. Curiosamente o maior medo de Envie era exactamente Shinji, um humanóide sem traços faciais definidos, sem olhos. Aproveitando a ocasião Selim lançou-lhe algumas kunais, de longe. Enquanto estas voavam fez alguns selos, espalhando o seu chakra. Isto resultou em que réplicas surgissem no ar. Envie agora acordado, rompido o contacto visual desviou-se de todas agilmente, disparando uma bola de fogo em resposta.
O rapaz desviou-se agilmente, concentrando chakra ainda no ar. Depois de alguns movimentos de mão mostrou as palmas das mãos de Envie, que seguravam a sua foice. Cordas surgiram do chão, prendendo-lhe as mãos atrás das costas. Selim lançou cobras das mangas que puxaram a foice, recuperando-a.
- Lento – sussurrou uma voz ao seu ouvido, enquanto o Envie apanhado pelas cordas se desfazia em terra.
O original pontapeou Selim para longe, que agarrou num pequeno torrão de terra, enquanto voava, embutindo-lhe o seu chakra. Como previa, o agora rapaz loiro aproximava-se velozmente para continuar o seu ataque.
Lançou-lhe o torrão que tinha na mão, que, ao espalhar-se, se tornou numa imensidão de pétalas. De seguida o próprio Selim se desfez em pétalas, misturando-se com as que já lá estavam.
Envie quebrou a ilusão, revelando o rapaz atrás de si, ao qual disparou um novo espigão de terra. Selim bloqueou-o com a foice, mas foi socado do outro lado pelo inimigo. Pôs-se de pé agilmente, esperando o ataque final do seu inimigo.
- Okashõ! – bradou ele enquanto a sua mão se dirigia à cara de Selim.
Quando viu o inimigo, Selim executou pela primeira vez aquela sequência de selos, despendendo grande parte do seu chakra concentrado.
Mal a sua mão entrou na esfera de chakra, parou instantaneamente, caindo depois inerte. O grito de Envie foi fenomenal, nessa hora, em que as dores lhe perpassavam todos o corpo e se contorcia no chão. Selim levantou-se para o golpe de graça. Mas manter aquela esfera consumira já demasiado do seu chakra. E assim caiu inconsciente.
Envie surgiu, ileso, enquanto o seu kage bunshin se desfazia sob Selim.
- Ele é demasiado fraco para o podermos usar em seja o que for, Puraido – replicou olhando o rapaz.
- Talvez o seja agora. Mas talvez este rapaz venha a ser grande, um dia. Até lá, devemos ajudá-lo a crescer.
- Qual é o teu interesse nele? - inquiriu Envie, repetindo a pergunta à qual nunca obtivera uma resposta directa.
- Ele faz-me sentir... em família.
Assunto: Treino 11 - Kazoku 
Qua 20 Out 2010 - 22:44
