Chamo a atenção de que o Kyohei, nem nenhum antigo personagem principal meu aparece neste Filler. No entanto, não digo que seja dispensável a sua leitura, já que irá ter um papel importante na minha história no futuro. ^^ Era também um dos fillers que eu mais queria pôr OST para definir o ambiente certo, mas... OSTs não é comigo. xP
Obrigado por lerem.
Ele estava já à porta dela. Mascarado como ele próprio se tentou caracterizar. Um macacão cinzento-escuro, novinho em folha, comprado a algumas semanas numa vila a poucas horas da sua vila natal. A sua cabeça estava coberta por um boné curto e uma mascará de gás, algo estranho sim e que levou a mulher a questioná-lo quando lhe abriu a porta sobre os motivos de ele a usar.
- Não se preocupe minha senhora. São apenas pequenas precauções contra todo o pó que se vai libertar durante a limpeza.
Ele respondeu com clareza, escondendo totalmente a sua habitual gaguez e a sua personalidade tão anti-social. Ainda antes de se preparar no lugar do acto, mirou e estudou a mulher uma última vez. Era agora uma simples dona de casa, cabelos a ficarem em tons grisalhos, com a sua cor loira a ser apagada pelo tempo. Rugas que eram desconhecidas ao homem, ocupavam agora várias partes da face dela. O avental rosa tapava em parte as calças de pano azul e a camisola amarelo-sujo que a mulher envergava. Estava totalmente diferente da kunoichi que lhe sorria naquela misteriosa fotografia.
Regressou no tempo, para algumas semanas antes de tudo aquilo. A sua vida continuava normal. Não saía de casa a não ser para o estritamente necessário, quase nunca na realidade. A sua personalidade encaixava perfeitamente nesse seu estilo de vida e quando precisava ele criava a sua própria companhia para os seus desabafos e exercícios mentais. Mas tudo teve uma pequena, grande, mudança quando numa das suas habituais tardes de trabalho, após a sua única aprendiz sair, ele receber uma mensagem. Receber como quem diz...
Um envelope encardido, de papel amarelo acastanhado, algo velho, entrava naquele seu mundo de quatro paredes de pedra.
Notou-o como um coleccionista nota a presença de uma peça extra na sua colecção e antes de o deitar ao lixo, a curiosidade por aquele objecto do exterior tomou-o como a uma criança. Delicadamente abriu o envelope com as suas mãos finas de artesão. Viu apenas um outro papel da mesma textura e cor do envelope e tirou-o para ler. De lá caiu uma fotografia que ficou de costas para ele. Pegou nela, receoso de ser tão velha como o papel e virou-a para ver uma mulher loira, com os seus cabelos compridos agarrados num rabo de cavalo. Pousava orgulhosa da sua vestimenta. Couraça de metal, camisola e calças justas num tom castanho barro e braços protegidos por finas, mas rijas camadas de ferro, tudo isto constituía o seu uniforme. No topo da sua testa, uma hitayate revelava as suas origens, Iwagakure.
A carta, como ele viria a ler, era um resumo. Um registo de todos os crimes que aquela mulher, fotografada na sua juventude, cometeu contra o País do Trovão, contra Kumogakure e principalmente contra o povo dele. Fora um choque inicial forte e nessa altura ele não percebeu o significado daquela carta. O que queriam que ele fizesse com tal informação, nem o porquê de ser ele a recebê-la. Acabou por guardar aquele envelope, outra vez com o seu conteúdo inteiro, numa das suas várias gavetas e fechou-a à chave.
Fora uma noite demoníaca para ele. Revivera os fantasmas do passado, à tanto tempo trancados a sete chaves dentro da sua memória. Não se revelavam desde os seus treze anos e com aquela simples e intrigante carta, tiveram o impulso necessário para se libertar. Agora que ele olhava para trás, reparava que talvez isso fosse parte do seu motivo pessoal para o que ia fazer, mas decidiu concentrar-se.
Virou a face para a mulher e voltou ao presente. Estava numa sala decorada pelos seus berloques, rendas em todos o mobiliário, sofás, pequenas mesinhas e até na mesinha de chá ao centro daquele espaço. Pediu-lhe que se afastasse da lareira, com a desculpa de não sair prejudicada pelo pó libertado pela limpeza. Ela consentiu e ficou onde ele queria.
Num golpe ágil e mecânico, a sua mão esticava-se, desprendia-se do seu corpo e tomava-a de surpresa. Agarrava-lhe o pescolo, apenas com a força suficiente para a imobilizar no ar, afinal não era assim que ele tinha planeado. Como esperado, ela debatia-se, tentando desprender-se com as suas suas mãos e quando viu que a mão de madeira não cedia, pareceu que um interruptor ligava um novo circuito. Os seus instintos começavam a revelar-se. Com uma velocidade algo impressionante para quem estava já reformada, levou a mão ao cabelo e tirou a pequena agulha que o prendia. Ele estava já preparado, sabia que era a sua arma de eleição e afinal uma pessoa nunca pára de ser shinobi. Não consegue. A agulha era lançada com precisão e espetada em cheio no centro do pescoço dele. Ele sorriu-lhe...
O fato macaco era rasgado por ele próprio com uma facilidade tremenda, mostrando a tonalidade do seu corpo. Um castanho algo tosco, tal como a madeira que constituía aquela marioneta. O braço esquerdo dele, o livre, era esticado até à mulher, rodeando-a que nem uma cobra e restringindo todos os seus movimentos. Tinha-a presa finalmente... E acho que aquilo estava a demorar demasiado.
Abriu o peito de madeira e de lá soltou um gás incolor, mas com um cheiro forte e reconhecível para a sua vítima. Ela percebeu as intenções do controlador daquele instrumento de madeira e conteve a sua respiração. Mas o corpo humano é como uma máquina. E se há algo que ele conhecia bem, eram máquinas, desde o mais simples mecanismo de alavanca até aos complexos com dezenas de rodas dentadas, interruptores manuais e tantas outras peças. Bastou-lhe apertar um pouco o peito dela, para ela soltar o pouco ar que tinha e agarrar com desespero aquele que tanto temia. Mal ele entrou no seu organismo, sentiu a laringe a queimar e a garganta a tentar fechar-se sobre si mesma. Era uma sensação indescritível, aquele veneno em forma de gás queimava-lhe as entranhas, os pulmões queixavam-se e pareciam ir entrar em colapso numa questão de segundos. Conhecendo os efeitos do veneno, ele largou-a, ficando a apreciar aquele "espectáculo", parado. A mulher esperneava no chão, entre espasmos onde a cabeça batia repetidamente no chão, as pernas e os braços delineavam trajectórias incomuns no ar e batiam nos móveis à sua volta. Os movimentos involuntários eram tão fortes que a mesinha de chá tombava, partindo um pequeno bailarino de porcelana branca em vários cacos.
Num espaço de um minuto, ela parou de se mexer. Os seus olhos reviravam num último acto de vida, mesmo inconsciente e ele descansou.
-
Está feito. - pensou ele para si mesmo.
O sentimento de culpa que ele esperava não apareceu. Talvez por achar aquela acção justa e à muito demorada, ou mesmo por achas que a culpa não era dele. Não conhecia muito a anatomia humana, mas sabia que se as células não obtivessem oxigénio, morriam. Acontecia o mesmo caso um humano não respirasse. Logo, a culpa era daquela mulher. A mesma que jazia agora numa posição pouco ortodoxa no chão da sua sala. Ela não devia ter respirado aquele tão perigoso gás, ainda mais sabendo o que era. Quem a mandou respirar? Bastava não o ter feito para continuar feliz. Verdadeiramente... A culpa não era dele.
Ainda controlando a marioneta, abriu as janelas da habitação, algo habitual para a suposta limpeza de chaminé para a qual tinha sido chamado e ao percorrer a casa decidiu levar uma lembrança daquela sua primeira morte. Uma katana que estava pendurada na parede e que ele reconhecera o punho como o mesmo da katana que ela usava na sua juventude...
Noutro local, pouco iluminado, ao contrário da clara sala de estar onde um pequeno esquadrão shinobi investigava o assassínio de uma refugiada de Iwagakure, uma mão fina e branca como cal levava uma peça de madeira para uma casa de um tabuleiro. Apesar do tabuleiro parecer quase vazio, a casa parecia não poder ser qualquer uma e a mão demonstrava a decisão firme de quem controlava a peça. O kanji presente na madeira clara da peça de jogo era ilegível, mas notava-se a algumas casas de distância uma peça de xadrez sozinha. Um Rei branco...