Parada no tempo


Pôs os óculos de sol, mais por hábito do que por necessidade, protegendo os olhos azuis-escuros. O capuz negro cobria o cabelo molhado, condizente com o tempo chuvoso que atravessava o país. As ruas de Kirigakure estavam cheias, considerando que eram apenas oito da manhã, fazendo-o sorrir de lado. Tantos rostos que nunca conheceria mas que ao mesmo tempo pareciam gritar pela sua atenção. Fitou uma mulher entrar apressada em casa, carregando consigo sacos brancos que pareciam tudo menos leves. Quanto tempo é que ela estaria fora? Viu uma rapariga passar por si, a saia demasiado curta para ser aprovada pelos pais, fazendo-o deitar-lhe um olhar de esguelha. Ajeitou os óculos, o sorriso expandindo-se. Bem, ela podia demorar mais uns dias, certo?


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— Estavas à minha procura?
Virou-se num salto, vendo a rapariga que esperava, encostada à ombreira da porta. O vestido impecavelmente branco beijava o chão, as alças finas combinando com a delicadeza e simplicidade do tecido. Os olhos negros estavam focados nos da sua anfitriã, o sorriso habitual adornando os seus lábios. Como é que ela conseguiu entrar sem eu me aperceber?! Ok, esquece. Foca-te Aruko.
Abriu o armário atrás de si, desviando os casacos de Inverno da sua linha de visão. Tacteando o fundo do armário, retirou a pequena caixa de madeira, retirando as folhas de papel que fora levada a encontrar. O seu olhar cruzou-se com o da convidada, agitando as páginas no ar.
— O que é isto?
— Não sabes ler?
A morena revirou os olhos — Está encriptado, génia.
— Desculpa desapontar-te, mas descodificação não é comigo. Tu é que és a ninja, certo?
O silêncio recaiu sobre ambas até ser quebrado por sons no andar de baixo. Aruko guardou os documentos no mesmo local de onde os tirara, fechando as portas escuras do armário, garantindo-se que não eram descobertas por acaso. Cruzou o sótão, fechando a porta que dava acesso à divisão da casa, ficando de frente com a outra que nem se dignou a pestanejar.
— Tu fizeste-me andar feita estúpida à procura disto, agora, para que é que isto serve?
Ela encolheu os ombros. — Não faço ideia.
— Aruko-chan, estás aí em cima?
— É melhor responderes, Aruko-chan. — aconselhou ela, sorrindo.
A morena cerrou os dentes, irritada. Tinha passado os últimos dias a tentar decifrar os documentos com a ajuda de Atsuko, e não tinham passado da estaca zero. Supostamente, se esta tipa sabia da existência de tudo isto, devia saber para que é que eles serviam. Concordou interiormente. Exacto, tinha toda a lógica. Mas ela fitava-a sem qualquer rasgo de mentira no olhar, o seu sorriso tão inocente como sempre. Esta tipa nasceu só para me fazer envelhecer precocemente.
Viu-a caminhar em direcção à janela, num passo gracioso, e abri-la com facilidade. Apoiou-se no parapeito, preparando-se para saltar. Pensava que era a única ninja aqui. Aruko recebeu um novo olhar, seguido de um sorriso apologético.
— Desculpa não poder ajudar mais. Pelo menos, por agora.
O som da porta a abrir fez com que ela saltasse de susto, a sua atenção focada no pai que acabara de ultrapassar a ombreira.
— Olá, Aruko-chan! Pronta para almoçar?
Não precisou de se virar para confirmar a ausência da rapariga. A inexistência de perguntas por parte do pai era confirmação suficiente. Sem precisar de um segundo convite, encaminhou-se para o andar inferior, expirando derrotada e deixando o pai fechar a porta atrás de ambos.
O silêncio voltou a ecoar no espaço iluminado apenas pela janela, revelando o pó que flutuava no ar. A passo lento, saiu da protecção oferecida pelas sombras dos objectos que habitavam o local. A gargalhada não passou de um sussurro, mas era suficientemente alta para o armário ao seu lado testemunhar.
— Isto está a tornar-se interessante.


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Spoiler:

Passou o dedo pelo vidro, contornando os olhos claros da protagonista da fotografia. O cabelo loiro permanecia solto ao vento inexistente, a pele de porcelana não acusando os sinais de idade. O sorriso não vacilava, ingénua do que acontecia à sua volta. Parada no tempo. Tal como ela estava. Abraçou ainda mais os joelhos, o seu olhar nunca abandonando os olhos cor de mel que a fitavam sem realmente a verem.
— Olá. — cumprimentou pela milésima vez, a sua voz apenas um murmúrio.
“Não precisas de te preocupar com nada. Não enquanto eu estiver aqui.”. Ela dissera-lhe isso, ou era apenas a sua cabeça a arranjar desculpas para justificar a sua sanidade? Não sabia. Há muito que desistira de se questionar sobre se as suas memórias, cada vez mais vagas, eram reais. Os seus dedos apertaram a moldura velha, os fios loiros formando uma cortina à volta do seu rosto. Pelo menos a foto era real. E isso ninguém lhe poderia roubar, nem mesmo ele.
Deixou-se cair para trás, encolhendo-se em posição fetal, a moldura pressionada contra o peito. Não demorou muito para as lágrimas iniciarem os seus trajectos improvisados, marcando-lhe o rosto. Desde quando é que se tornara tão fraca? Não sabia. Há muito que deixara de tentar descobrir. Na verdade, há muito que deixara de se questionar sobre o que quer que fosse. Afinal, ela estava no mesmo lugar que ela, no dia de Primavera em que o Sol a encadeara, fazendo-a rir. E assim permaneceria. Para sempre, parada no tempo. Pelos menos até que ela a viesse buscar, fazendo o relógio voltar a andar.

Bom filler quero ler mais !

Thanks Tsu

Rapariga a chorar , uma rapariga a chorar dá pena

Awwww..... Nunca me canso dos teus fillers... *__*

A trama adensa-se! Lalalala!

Continua. :3