Filler 29 - Kami
Fugir. Tinha de correr, era tudo o que importava. Já não lhe importavam os conflitos. Restava-lhe correr. Tinha de sair, rápido. Procurara Kaoru e Takashi pelas ruas, incessantemente, mas falhara redondamente em encontrá-los, até que um ninja o informou que tinham desaparecido no conflito.
Mortos ou desertores ecoou a voz na sua cabeça. Passou a correr pelos telhados e deteve-se no topo. Era o bairro dos Uchiha.
HayatoCorri uma vez mais, não em direcção ao portão mas na direcção da sua casa. Entrei de rompante como um invasor. Sabia que Hayato estaria ferido, talvez, mas duvidava que o deixassem muito tempo no hospital. Não sabia se era correcto, aproximar-me de casa de um amigo, entrar assim de rompante. Mas teria de pesar o possível bem-estar dele contra a etiqueta e assim a decisão tornou-se óbvia. Subi as escadas apressadamente e abri a porta. O rapaz estava sentado no chão a equipar-se.
- Hayato – comecei, apercebendo-me rapidamente que as palavras me faltavam – vem comigo, Konoha ganhou um assalto mas eles podem voltar…
Com um olhar o Uchiha silenciou as palavras que já me afloravam aos lábios.
- Ryuku e Akane estão lá, Selim – explicou enquanto o seu sorriso fácil e genuíno despontava – Tenho de ir. – disse, deixando-me só no quarto.
Desci as escadas atrás dele, temendo.
- Hayato, é uma loucura, o que esperas fazer lá?
- Lutar, ajudar Konoha, mais do que aquilo que estás a fazer neste momento. – respondeu sem olhar para trás, com convicção, começando a correr.
Apareci à sua frente num flash.
- Por favor…
Ele olhou-me atento como se me estudasse.
- Tenho de ir, por eles. – respondeu simplesmente, continuando a andar.
Estava já desesperado, conhecendo-o, ficaria leal a Konoha até ao fim. Até os bons guerreiros têm de se render, por vezes.
- E o que pensas que um Chuunin como tu pode fazer, vencer o Raikage e ganhar a guerra?! – parou pela primeira vez preocupado. As minhas palavras eram verdade, mas magoavam. Senti-me terrível naquela altura, todo eu podre. – Vem comigo e voltarás um Jounin capaz de ajudar Konoha.
Estendi-lhe a mão sem saber como reagiria. Lenta, muito lentamente aproximou-se de mim e apertou-a. Procurámos durante algum tempo por Kaoru e Takashi e, mal os encontrámos, partimos.
SunagakureA travessia foi rápida, embora tenhamos montado acampamento durante uma noite, até lá chegar. Os dois maciços rochosos que assinalavam a entrada da aldeia pareciam tão majestosos como sempre, embora pessoalmente nunca tenha entendido ao certo para que serviam, além de dar à vila um ar mais fúnebre do que aquele que o deserto podia conferir.
Entrámos na vila sem oposição, bastando apenas a Takashi erguer o braço e transformá-lo em ferro para que os guardas soubessem quem éramos. Naturalmente, embora a nossa missão tivesse falhado e Konoha não tivesse aliança alguma com a Kyodo, era necessário relatar tudo ao Kazekage. Seria de esperar que o grandioso líder de Suna estivesse ocupado com a Guerra, mas não hesitou em receber-nos. Estranhei a atitude, é claro, contudo sempre senti uma antipatia natural por este Kazekage e por vezes tinha sonhos estranhos acerca de conspirações que o envolviam. Tolices de crianças, diria eu próprio! Mas tudo isso estava prestes a mudar. Ao contrário do que era costume, não nos receberia no seu escritório, mas num largo em frente à mansão.
Estranhei a atitude e certamente que não fui o único, a avaliar pela cara do meu sensei, Takashi, mas nada disse. Aproximámo-nos da mansão. Reparei que para uma aldeia que poderia ser sitiada a qualquer momento, havia uma enorme quantidade de pessoas nas ruas. Talvez fosse a minha imaginação mas poderia jurar que todas elas tentavam ver o que se passava no largo. Arashi, ao contrário do que era habitual, envergava trajes azuis escuros e não as típicas vestes de Kazekage.
- Kazekage-sama – entoámos os três enquanto nos sustínhamos sobre um joelho à sua frente. Hayato parou junto à multidão, deixando-nos avançar. – Kazekage-sama, trouxemos connosco Uchiha Hayato de Konoha – informei-o – ele espera voltar a Konoha como um Jounin capaz de a ajudar.
O líder da aldeia não me olhou sequer, voltando as suas atenções para Hayato. Sorriu-lhe e acenou, em concordância. Em seguida voltou o seu olhar para nós. As suas feições mostravam já saber do ataque a Konoha e da inutilidade da nossa missão.
- Selim. – chamou secamente – estás acusado de alta traição a Suna, por desrespeito e assalto a Konoha durante a invasão. Negas o sucedido?
O mundo desmoronou-se. A missão para verificar os registos do Hokage… era uma armadilha.. para mim?! Claro, Arashi não saberia que a missão nunca fora levada a cabo. E contudo, Kaoru e Takashi tinham sido enviados comigo. Teria sido traído até pelos meus amigos? Olhei-os em desespero, mas nenhum deles se voltou para mim.- Nego, senhor, embora tenha sido incumbido pelo Kazekage, Arashi, de assaltar os registos secretos do Hokage, vi-me impossibilitado de o fazer – mastiguei cada palavra demoradamente, para que toda Sunagakure soubesse e naquele momento glorioso, cada palavra tinha o sabor do triunfo. Ninguém se moveu em meu auxílio. Certamente que esperavam algo daquele género, Arashi tinha-os preparado até para aquilo?
- Além disso – continuou com um sorriso melífluo nos lábios – o teu irmão, Seiji é o assassino confirmado de cinco Jounin de Sunagakure. És suspeito de colaborar com ele.
Não pude evitar rir-me e acreditem, tentei.
- O meu irmão, Genin de… 13 anos, cego, matou cinco Jounin de Sunagakure, sozinho? Isso revela algo sobre a vossa qual…
- O teu irmão é tão cego como eu sou coxo. Tem em ambos os olhos a maldição, tal como tu e o teu maldito pai. – declarou positivamente irritado – prendam-no, descubram o que ele sabe, façam como quiserem, mas tapem-lhe os olhos. Vi como algumas kunais flutuavam ameaçadoramente à minha volta. Se tentasse falar ou usar o Geass, estava morto. Deixei-me cair de lado, em direcção a uma kunai que me perfurou o ombro, como em rendição. Esperei que a gravidade actuasse e quando estava perto do chão arregacei uma manga. O sangue já escorria sobre a tatuagem, limitei-me a desenhar um V com o líquido e a erguer os braços bem alto, para que o meu alvo os visse. Restava-me rezar para que o seu Sharingan fosse tão bom como rezavam as lendas.
Os ninjas entraram em pânico e duas casas próximas caíram. Talvez tenha esmagado alguns ninjas de Suna e se assim foi, não o lamento demasiado. Mas não era o tamanho colossal da criatura que os assustava, nem o verde assassino dos seus olhos, nem as suas presas afiadas que ameaçava cortá-los sem pensar. Apenas temiam as cabeças, estava claro, as três. Aproveitei a confusão para me aproximar de Hayato, que estava agora directamente à minha frente.
Entreguei-lhe um pequeno frasco com um pouco de sangue.
- Uma linha recta, fora da vila, eles não te farão mal – murmurei – salva-me.
A serpente desapareceu e senti-me como um porco espinho cravejado de Kunais. Não me matariam, Seiji era demasiado importante, mas o mal estava feito. Suna traíra-me.