Ambos paramos. Todos os meus músculos paralisaram, não estava a espera que alguém nos apanhasse, fosse quem fosse. Tinha a sensação de que já tinha ouvido aquela voz por algum lado. Mas com o medo que me possuía não me conseguia sequer concentrar nesses pequenos detalhes. Tentei não começar a correr por ali a fora. A voz voltou a pronunciar-se:
- Cho, miúda! Onde é que tens andado? – Vi Yukio a olhar por cima do ombro. Fiz o mesmo.
Oh meu deus. Não podia. Só havia uma pessoa que me chamava miúda. E era, exactamente, o marido da Sr. Amaya. Ah, merda. – Cho! – Avançou para mim.
- Quieto! Já! – Gritei. Olhei por cima do ombro e ele parou. Belo cão. – O que quer de mim?
- Estou preocupado com a Amaya, ela tem andado a tua procura! Já não te vejo à muito tempo. Ela só chora, e não sabe onde andas. – Olhou para o chão.
- O quê? Só pode estar a gozar comigo. – Oh meu deus. Estaria ele a mentir? – E dos meus pais? Tem novidades? – Como estava de costas para ele, ele não via bem que eram os corpos dos meus pais que estavam nas nossas mãos.
- Eles estão desaparecidos, ou… mortos. Tu sabes bem disso. – Permaneceu sério. – Precisas mesmo de ir parar a um hospital miúda.
Virei-me e acho que ele ficou chocado com o corpo que eu tinha nos braços.
- Está a ver quem está nos meus braços? – Gritei. – É a minha mãe! A minha mãe. Yukio vira-te. – ele virou-se. – E este é o meu pai. Sabe porque é que eles estão assim? Por causa da sua mulher!
- O quê? Só podes estar a gozar. – Riu-se.
- Não lhe pesa a cabeça e as costas? – Yukio riu-se. Percebera.
O homem não respondeu e parecia estar confuso.
- Você deve ter um par de cornos que nem imagina. Sabia que a sua mulher o trai? O outro homem está dentro da cabana. Inconsciente. – Sorri. E ele avançou para mim.
- Tu não sabes nada do que dizes. Tu precisas de ir para um manicómio.
- Calma ai. Se tentar algo contra mim, a sua mulher morre. – O que é que eu estava para ali a dizer? Estava a enterrar-me cada vez mais.
- O que queres em troca? – Fiquei confusa. – Sabes o quando a reputação é importante para ela. O que queres em troca?
- Ajuda. – Disse sem pensar. – Pegue nela, com cuidado. – Gritei na ultima palavra. Ele assim o fez.
Tirei a minha katana e metia no pescoço dele.
- Agora fazes o que eu mandar. Não sei de que lado está mas também não interessa. Vai estar connosco a partir de agora. Ou então eu corto-lhe esse pescoço horrível. – Devia estar a passar-me. – Vamos embora. – Começamos a andar.
Durante o tempo que gastamos até encontrar a cabana mais próxima, eles foram trocando os corpos.
Uma brisa instalara-se enquanto nós caminhávamos. Os meus cabelos esvoaçam com a brisa, e eu arrepiava-me. De vez em quando deitava o olho ao homem, do qual não sabia o nome por acaso, Amaya sempre lhe chamara “homem”, para ver se ele decidia fugir. Se o fizesse seria burro. Podia-o matar sem problemas.
Chegáramos a cabana mais perto. Eles estavam mesmo cansados. Abri a porta devagar e a escuridão inundava o local porque não tinha janelas nenhumas. O cheiro a mofo permanecia vivo lá dentro. Levei o braço ao nariz com intenção de o tapar.
Entrei… E do nada senti algo a furar-me o braço. Soltei um grito.
- Que merda é esta? – Corri cá para fora. Era uma kunai. Havia alguém lá dentro. Tirei a kunai com dificuldade porque me doía, pelos vistos não tinha perfurado muito.
Lá de dentro saiu uma rapariga com um belo corpo. Os seus cabelos eram pretos e os seus olhos de um azul extraordinário. Tinha uns calções bastante curtos e um top justo branco, tinha um decote um pouco comprido, via-se tudo.
Elevei a sobrancelha e perguntei:
- Estás doida? Qual é o teu problema? – Levei a mão ao braço que sangrava.
- Oh, desculpa. – Meteu a mão na anca a e olhou para onde Yukio estava. – Estava a ver que não te encontrava mais Yukio. Eu sabia que fomos destinados a ficar juntos. Eu sabia. – Sorriu e aproximou-se dele. Passou-lhe um dedo pelos lábios e afastou-se.
- Eri. – Murmurou. – Eu já te disse para desapareceres da minha vida. – Entrou com os corpos seguido do homem e deitou-os lá dentro. Ao que parece tinha uns colchões.
Estava chocada com o que tinha acabado de acontecer. Acho que uma onda de ciúmes me envolveu. Suspirei profundamente. Quem seria esta rapariga?
Peguei na katana e meti-me ao lado do homem.
- Como se chama, mesmo?
- Jun. – Saiu da cabana e olhou-me. – Quem é ela? – Tinha um sorriso pervertido.
- Não me interessa! – Murmurei.
Yukio saiu e olhou para Eri. Ela sorriu-lhe e sacudiu o cabelo.
- Eri vai-te embora daqui. – Puxou-a por um braço.
- Calma, amor. – Desprendeu o seu braço e passou-lhe a mão pelo rosto. – Voltei por ti. Não me vou embora. – Yukio afastou-se dela e sacou uma kunai.
- Não queiras resolver isto a mal, Eri. Sai daqui, estou a avisar-te.
- Já vi que estás de mau humor. – Sorriu-lhe. – Vou dar uma volta e volto já. Quem é a miúda? – Que lata! Quem é a miúda? Oh meu deus.
- Deixa-a em paz. Vai-te embora de uma vez por todas. – Eri aproximou-se dele e tirou-lhe a kunai da mão levemente. Aproximou-se dele e deu-lhe um beijo rápido.
- Adeus! – Passou por mim e olhou-me irritada.
Agarrei-a no braço e perguntei-lhe:
- Quem és tu, miúda?
- Eri. – Fez uma pausa. – O teu pior pesadelo, querida. – Sacudiu o cabelo, sorriu e continuou a andar.
Olhei para Yukio que me olhava um pouco furioso por causa dela. O silencio tomou conta de nós todos e o ambiente estava cada vez mais tenso.
- Wow, ela é boa. – Disse o Sr. Jun quebrando o silêncio.
- Bem, vamos tratar dos assuntos que temos para tratar. É melhor continuarmos a caminhada até ao lugar fixo. Peguem nos corpos, se faz favor. – Eles assim o fizeram e continuamos a caminhada até à casa de Yukio. Os corpos estavam a melhorar porque ela se lembrava de cuidar deles. Mas ainda permaneciam inconscientes. Precisavam rapidamente de um bom lugar, mantimentos e tratamento. Eu tinha de conseguir. Enquanto caminhava rasguei um pouco do vestido com a katana e meti no braço.