Foi bem dificil a conversa com o pai de Soun. Estava irredutível com a ideia de por seu filho em risco naquela proposta de Youkina treinar seu filho para ser um ninja. Mas Soun relutou. No seu coração Seigen sabia que os seus olhos não poderiam ser um defeito.
- É uma ideia estúpida! Como poderá ver seu adversário a metros de distância dele? Até mesmo um aprendiz de arqueiro o poderia acertar sem esforço. Pensa que é um morcego que vê pela noite? Não quero meu filho sendo mais objeto de chacotas...
- Otosan... - interrompeu Seigen que foi logo também interrompido por Youkina.
- Soun é muito hábil e inteligente, shi-san , típico de meninos com deficiências. Acabam por vezes desenvolvendo habilidades - falou de modo franco, porém mal-educado ao mencionar a deficiência de Soun sem, porém, perder o carisma. E continuou: - Soun-kun conseguiu decorar os selos e fazê-los sem vê-los e ainda por cima com apenas 10 anos já desenvolveu técnicas sensoras bastante úteis para um rastreamento.
Na cabeça de Suon ouvir a sua pretensa sensei o chamando de deficiente doeu bastante e seu rosto logo se entristeceu. Ele questionou porque ela faria isso com ele: uma hora o estimava e outra depreciava. Na sua cabça determinada e infantil ele não havia absorvido a ideia de que Youkina o queria para um teste pessoal, nao estando relacionada com ele diretamente. Sem vínculos que amaciancem a relação. Não era sua irmã, era sua treinadora.
Depois de tantas horas de conversa e de ouvir todos os tipos de argumento e entender-se humilhado pelas dificuldades que possuia e a necessidade de implorar para que o filho de um clã ninja pudesse ser treinado como ninja, Soun exclamou:
- OTOSAN! - gritou - ...se o senhor tivesse os olhos como os meus como pensa que seria sua vida?
A palavras de Soun quebraram o diálogo. O pai abaixou a cabeça com olhos fechados. Refletiu como se as palavras de Soun promovosem um choque como o elemento de seu próprio chakra.
Na mente de seu pai ele lembra das esperanças que havia depositado em seu único filho naquele dia em que o via correr em sua frente imitando uma águia mensageira que vinha à cidade. Não queria que ele cometesse os mesmo erros na trajetória que o fizeram se atrasar como shinobi, iria ajudar seu filho a ser melhor que ele, hoje um chunnin especialista. Lembrou-se do dia da trágica notícia da posível cegueira e do dia da cegueira total onde ele acordou e nada via. O garoto tristonho e o desespero de não saber como seria após isso.
Encheu o peito... prendeu o fôlego por breves segundos... soltou o ar dizendo:
- Tudo bem... não posso te impedir de viver. Um dia estive com medo do que seria da sua vida. Que seria um inútil, Soun. Mas agora vejo que você não temeu viver no escuro. Vou permitir que façam isso, PORÉM... só haverá uma chance. Até o exame Gennin. Se não for aprovado da próxima vez que tiver que realizar os exames não haverá outra enquanto eu viver.
Ele quase nao acreditou quando viu o rosto de comemoração de ambos a sua frente. Soun e Hiko estavam animados e dispostos. Seu filho parecia qualquer criança normal.
Após muitas recomendações da família, Youkina e Soun se encaminharam para as partes de pinheiros dos montes mais ao norte da vila. Com suas calças largas nas partes superiores e apertadas dos joelhos para baixo, cor preta; sua manta superior branca e sua bengala de maderia para se guiar ele ia elfórico, porém com dificuldades a cada metro que distanciava-se de Kumo. O relevo, os sons, os cheiros, tudo começava a ser estranho e deixá-lo ansioso.
- Sensei, espere um pouco... estou cansado e machuquei um pouco o pé nesse caminho ruim...
- RUIM? O que você esperava? O caminho não é ruim, você é que só esteve habituado a andar em locais planos até agora. O CAMINHO DE UM NINJA NÃO É UMA ESTRADA RETA, SOUN-Kun. É UM CAMINHO SINUOSO E QUE EXIGE MUITO EQUILÌBRIO E TENACIDADE! - falou solene Youkina.
- É... - disse com dificuldade Soun. "O que eu esperava, não é mesmo? Que fosse simples? Não posso desistir, vai ser difícil mas não posso desistir", pensou ele não se deixando arrepender.
- Suba usando seu equilíbrio. Vai precisar confiar em mim, que não deixarei você sofrer nada e vai precisar confiar em você, que seus instintos e habilidades podem fazer você se superar tendo vontade, perseverança.
As palavras subiram a sua cabeça como vitamina. Pegou a bengala e começou a se esforçar com a confiança de uma criança, com a coragem de um ninja.
À noite, quando chegaram a metade do caminho aos pinheiros, a sensei o colocou numa pequena área mais plana.
- Soun-kun, você aprendeu a ser sensível ao chackra e aprendeu muita teoria, mas isso não é o bastante para um gennin. Precisa saber lutar, atirar armas, ter algum domínio de Kenjutsu como qualquer shinobi de Kumogakure e além disso precisa saber andar com suas próprias pernas sem ajuda de ninguém. Para isso precisa aprender a andar no escuro. Se orientar sozinho e substituir seus olhos além de apurar outros sentidos. Por isso, como não sei ainda o que fazer com você vou deixá-lo me dar as respostas
- Como assim, Youkina-sensei? Não sabe o que fazer comigo? - Disse com receio de ouvir novamente.
- Isso mesmo! Eu não sei do que és capaz. Precisarei explorar suas capacidades e te ajudar a estar apto a passar no exame gennin.
- E como fará, sensei.
- Vou deixar você aqui essa noite e ficarei em silêncio testando suas capacidades de movimentação e prontidão. Sua missão será sair desse local onde está, tocar o sino que colocarei em algum local e trazê-lo até aqui.
E ele tentou. Aquilo foi demais para ele. A noite ficava mais intensa e fria enquanto ele lutava para realizar sua primeira missão. Quanto mais tentava caia e se perdia, ouvia ruídos e sentia cheiros, chegou a pensar que havia sido tocado pela sensei, mas ao virar-se, nada.
Era talvez a segunda maior e mais difícil noite de sua vida, depois daquela eterna que se estabeleceu em seus olhos.