Ao centro de Katsu e do Oráculo a nuvem de fumo, que surgira após o selo do idoso, começava a dissipar-se dando a mostrar traços de uma arma. Essa arma, consoante a nuvem de fumo desaparecia gradualmente, mostrava uma aparência de duas luvas que cabiam perfeitamente nas mãos do Imagawa. Tais luvas que pareciam irmãs, sendo que a da esquerda é negra com alguns adornos brancos e a da direita é o inverso, branca com adornos negros.
-Servem para eu cozinhar? – Perguntou o rapaz tentando manter uma voz indiferente apesar do seu olhar mostrar uma curiosidade de criança.
-São as Yin e Yang e vão ser elas que vão ajudar-te a manter o equilíbrio… - Explicou o velho parando para pegar na chávena e beber um pouco de chá, o usual hábito dele que já começava a irritar o mercenário severamente.
-Nome original… - Comentou o Imagawa olhando para as duas garras à sua frente recebendo um olhar reprovador do velho Oráculo.
-É simples meu caro. Quando as tuas emoções forem negras, como por exemplo ódio, raiva, desdém, etc, as emoções que fortalecem o Yin, as tuas garras começaram a produzir uma aura negra a partir dos seus poros. Inicialmente, e como estás em desequilíbrio, essa aura negra, para além de manifestar-se, também vai fortalecer essas tuas emoções negras…
-Então, resumindo, voltarei a ser um Nightmare maluco que só pensa em matar, dinheiro e álcool, certo? – Interrompeu Katsu dando indícios de impaciência.
-Inicialmente, sim… - O Oráculo fitava todo o local à sua frente procurando a sua chaleira apercebendo-se do olhar mesquinho do Imagawa – Não te preocupes, quando o teu Yin começar a aproximar-se da sua origem verás que conseguirás obter mais controlo desses sentimentos negros – O velho finalmente encontrou a chaleira interrompendo o seu discurso para voltar a encher a chávena – Já deves de estar a imaginar o que acontecerá com o teu Yang. Naturalmente que os sentimentos puro, amor, prazer, desejo, manifestaram-se numa aura branca e fortalecerão o teu Yang, mas estes casos serão muito raros visto que estas pequenas garras terão total controlo sobre o teu equilíbrio…
O jovem finalmente ganhara a ousadia de pegar nas luvas e coloca-las nas mãos. Couberam-lhe perfeitamente, quase que sentia que elas adquiriam o tamanho ideal para caberem nos pulsos propositadamente, mas este não via nada de garras a partir delas, nem aura nenhuma.
-Ei, e quando não sai aura nenhuma, o que significa? – Perguntou o rapaz ainda com alguma curiosidade.
O velho fitou-o com uma cara de espanto. A resposta à pergunta era óbvia mas mesmo assim este decidiu não respondê-la limitando-se a fitar Katsu à espera que ele lá chegasse. Demorou, mas finalmente o rapaz chegou lá quando abria a boca e pronunciava um “AH!” mudo.
-E então porque é que lhe chama garras? Não vejo nada que arranhe… - Perguntou agora o mercenário olhando para todos os cantos das Yin Yang sempre com um olhar curioso.
-Concentra chakra nas pontas dos dedos…
O Imagawa assim o fez recebendo como resposta a ativação da arma e, de cada dedo, uma unha de chakra expandia-se até ambas as mãos formarem um par de garras, fantásticas por sinal.
O momento de lazer era interrompido quando, dentro da sala, ecoava o barulho de pedaços de terra a desabar. Uma cortina de poeira levanta-se do nada e, alarmado, Katsu levanta-se com ela tossindo e abanando com a mão à frente da sua cara tentando não respirar todo aquele pó prejudicial. A poeira começava a dissipar-se e de longe o rapaz observava duas lianas e mexerem-se ligeiramente.
-E lá vêm elas… - Suspirou colocando as suas garras em riste e olhando para as duas plantas com prazer – Venham papar minhas queridas.
As lianas pareciam que conseguiram ouvi-lo chicoteando-se violentamente na sua direção. Katsu rodopia sobre si mesmo ao mesmo tempo que uma das suas garras desenha um corte vertical cortando a suposta “cabeça” da liana ao meio, esta que jazia no solo. O ataque continuou quando a outra liana tentou agarrar-se ao pescoço do Imagawa recebendo um corte em diagonal como contra-ataque. Raízes surgem debaixo do solo começando a agarrar-se aos pés, pernas e por aí adiante com bastante pressa numa tentativa de paralisar o rapaz, este que respondia habilmente cortando e dilacerando com os seus novos brinquedos.
-Estás aí, temos de fazer o Ritual Kumogawa depressa! – Vociferou Shugo avistando Katsu a acabar com a vida de mais algumas plantas carnívoras.
O mercenário olha para a rapariga de cabelos grisalhos de relance assustando-se ligeiramente com o seu berro. Conseguiu acabar com a vida a outra planta quando conseguira, por fim, dar-se ao luxo de olhar ao seu redor. A sala já não estava negra, o Oráculo havia desaparecido em conjunto com toda a sua loiça e o enorme quadro com o símbolo do Yin. A ornamentação agora era outra, a sala continha incontáveis traços azuis a percorrer as paredes provindo de inúmeros sítios, ligando-se todos eles num único ponto formando aí uma enorme círculo azul, onde anteriormente situava-se o Yin.
-Como é que vieste parar à sala do Ritual sem a minha ajuda? – Perguntou a rapariga olhando-o confusa enquanto este conseguia acabar com a vida à última planta que ainda fornecia resistência.
O mercenário parava de lutar, visto que mais nenhuma planta tinha coragem de fazer-lhe frente, e pensava no que haveria de dizer. Preferia não falar sobre o equilíbrio e todas as tretas que o Oráculo lhe dissera, francamente, nem apetecia falar com a Shugo sobre o Oráculo. Conhecera-a há umas horas e a confiança entre eles ainda não era assim tão grande, preferia compartilhar isso com a Kimera quando chegasse ao Acampamento Imagawa.
-Cuz I`m awesome! – Respondeu sem grandes ideias para mentir virando agora a sua atenção ao gigante círculo azul no fundo da sala – A nossa missão está quase a acabar Shugo?
-Shugo-sama para ti… - Repreendeu a Kumokira aproximando-se a passo lento do círculo azul delineando todas as retas nas paredes que acabavam pro intersetar-se no grande polígono ao fundo da sala – É tão lindo quanto me haviam dito…
-Então…
-Cala-te! Estou a tentar apreciar uma coisa… - Ordenou a Chunnin não conseguindo retirar os olhos do círculo que tanto a hipnotizava – Aproxima-te agora Nightmare.
Normalmente o rapaz resmungaria por chamarem-lhe aquela alcunha que tanto detestava. Mas sendo o Oráculo estranho ou não, a prova que o seu encontro com ele havia sido real eram as luvas que vestia agora nas mãos. Sendo esse encontro real, este tinha que habituar-se à ideia que tinha de voltar a ser o assassino que era antigamente, pelo menos por uns tempos. Acordando dos seus pensamentos profundos, o mercenário aproximou-se de Shugo a passo lento.
-Anda para aqui rápido. Vamos fazer o Ritual depressa antes que apareça outro bicho… - Refilou a rapariga agarrando no seu parceiro pelo braço e puxando-o para a sua beira mesmo à frente do círculo.
A rapariga aproximou-se de Katsu e, aos poucos, foi retirando a sua máscara. Ele já não fazia isso há bastante tempo e não estava habituado a mostrar a sua cara daquela maneira outra vez, os membros estavam hirtos… Preocupados, talvez… Sentia um calafrio a percorrer-lhe a face, agora nua, enquanto Shugo o fitava com curiosidade.
-Nem és assim muito feio Nightmare… - Comentou a Chunnin retirando-lhe os olhos de cima e afastando-se a passo lento – Não te mexas, não digas nada…
Katsu, apesar de inseguro, assim o fez mantendo-se uma autêntica estátua deixando-se à mercê de Shugo, apesar de desgostar disso. Ainda não confiava nela e, até agora, ela não havia dado indícios para confiar, nem para desconfiar. A sua relação era diferente da relação que ele tem com a Kimera… Kimera… O que é que ela estaria a fazer neste momento? Provavelmente a dizer asneiras à frente de pessoas ou a fumar um maço de tabaco enquanto tentava matar pássaros. Na pior das hipóteses estava a embebedar-se numa das tascas Imagawa com outros membros do clã…
Shugo unia as pontas de ambos os indicadores bem à frente dos seus olhos. Aproveitando que o mercenário havia fechado os olhos, porque estava a pensar em Kimera, esta usufruía da situação para usar os seus Jutsus secretos sem ter medo que o seu parceiro os descobrisse. Uma runa azul surgia debaixo da rapariga, ta runa que emitia grandes quantidades de chakra à sua volta. Todos os traços azuis das paredes e o grande círculo no final da sala emitiam igualmente uma aura azul. Os dois riscos abaixo dos olhos da Kumokira emitiam eles também uma aura azul. Numa fração de segundos toda a sala era invadida por uma aura azul extremamente forte e, afastadas do ritual que ocorria, lianas começavam a surgir como estivessem a “olhar” para a cena.
-Idiota… - Murmurou uma delas para a liana ao seu lado.
-Mais um Imagawa que vai corromper-se… Avisemos a Mãe depressa… - Anunciou a outra liana.
Ambas consentiram com a ideia da última e afastaram-se, receosas, do Ritual Kumogawa esvoaçando velozmente para longe dele em direção à superior delas.

Enquanto toda a aura azul emana, Shugo aproxima-se do rosto do Imagawa lentamente. O seu indicador direito pousa abaixo do olho direito dele e desenha uma reta até ao queixo, o seu indicador esquerdo faz o mesmo movimento apesar de ser no olho correspondente. Após essa ação, a rapariga recua alguns passos voltando uma vez mais para o centro da runa. Aí usa um selo especial que ativa a última função. As retas invisíveis desenhadas pelos indicadores de Shugo na face de Katsu ganhavam agora cor, uma cor fluorescente que emanava azul tal como o resto da sala.
-Argh! – Resmungou o rapaz sentindo a sua face a arder violentamente. Finalmente dera-se ao trabalho de abrir as pestanas e contemplar todo o seu redor, todo o azul à sua volta e Shugo de olhos fechados a proferir palavras estranhas no centro de uma runa antiga – Sh-shugo… que…
O mundo rodou forçosamente. O azul misturava-se agora numa parafernália de cores. O olhar gira e gira enquanto cores e cores misturam-se formando um musgo nojento até que, por fim, o rapaz cai ao chão inconsciente. A rapariga solta uma risada solene desativando a runa, todo o resto da sala parava de emanar a aura azul irritante voltando ao seu estado natural.
-Mais um Ritual feito com sucesso… - Comentou a Kumokira vestindo a máscara ao mercenário, cobrindo-lhe os traços azuis na face, e agarrando-lhe no corpo colocando-o ao ombro – Vamos voltar para a vossa base, ou lá como chamam a essa curral…
A Chunnin começava a caminhar em direção à saída. Ouve-se tremores de todos os lados, tremores que abanavam todo o local abanando com colunas, que dificilmente conseguiam suportar com o teto, e entre outros cacos. Os tremores cessavam e ouviam-se agora grunhidos e vozes. A rapariga parava de caminhar, estava alarmada e olhava para todos os flancos e cantos à procura de algum inimigo.
Um grito estridente surge à porta da sala com uma serpente gigante a levar à parede à frente com grande raiva sendo seguida por duas lianas que a ajudariam no combate. A Kumokira apercebia-se dos seus novos oponentes e recebia-os com grande alegria, e com uma runa avermelhada a surgir debaixo do seu corpo…