-É aqui? – Perguntei eu
-Sim. – Respondeu ele. – Tenho de ir, hoje á tarde temos treino. – Acrescentou ele antes de ir.
Estava á frente de uma pequena casa de madeira escura, com os estores todos fechados e com uma porta de madeira escura, com uma maçaneta de ferro cinza em forma de cara de leão. Bati á porta e esperei. Ouvi a voz rouca de Kuji-Kun a responder do lado de dentro:
-Que foi? Não vêem que estou ocupado?
- Kuji-kun? É oTanta. - Disse eu lembrando-me da alcunha que ele me pusera. – Tinha-me dito para cá vir por causa da minha marioneta…
-Espera só um momento, não te esperava tão cedo. – Disse o velho parecendo um pouco irritado, mas tentando disfarçar isso.
Ouvi um enorme ruído, como se alguém estivesse a arrastar móveis seguido de um estrondo, como uma porta pesada a fechar. Depois passos, e depois o som reconhecível de chaves a baterem entre si e a entrarem na fechadura. A grande porta abriu-se, chiando um pouco.
- Entre, entre. – Convidou Kuji.
-Estou a interromper alguma coisa? Posso voltar mais tarde… - Disse eu, embora realmente quisesse lavar já a marioneta.
-Não, não, ora essa…só não o esperava tão cedo, só isso… - Desculpou-se ele.
Entrei na casa. O primeiro compartimento tinha duas portas, uma para a frente, que dava para a cave e uma par a esquerda. Estava super escuro, apenas algumas velas em cima de um móvel iluminavam a casa. Tirei o meu casaco e Kuji fez sinal para que eu a pendurasse num pequeno cabide ao lado da porta de entrada.
-Segue-me. – disse ele.
Segui-o, descendo as escadas. A cava ela um sítio relativamente pequena; as escadas estavam encostadas a uma parede á esquerda. Ligeiramente é direita das escadas, encostada ás paredes verde escuras estava uma bancada, e pendurada á frente desta estava uma quantidade inimaginável de ferramentas de trabalho, algumas que me eram familiares (chaves de fendas e alicates) e outras que nunca vira nem sabia da sua existência. Atrás desta bancada estava uma quantidade avantajada de marionetas, mas nenhuma delas estava completa; faltavam braços a algumas, cabeças, pernas…etc. Ao longo deste compartimento vários candelabros fixos encontravam-se aparafusados á parede e algumas velas soltas ardiam nas bancadas.
-Vou-te ensinar alguns truques para construíres marionetas. – Disse ele.
Passámos algumas horas a conversar como usar tudo e como construir uma marioneta perfeita, tendo ele feito também algumas demonstrações. Depois aposentou-se pois tinha “assuntos pendentes”.
Comecei então o processo de construir a minha nova marioneta. Comecei pelo corpo. Procurei um corpo duro e encontrei um bastante rijo. Ainda tinha restos do que foram pernas ligadas ao corpo e da parte da frente quase nada restava. Peguei nela e levei-a até á bancada para a observar melhor. Era de uma madeira clara e maciça, mas provavelmente só conseguiria aproveitar as costas dela.
Comecei por tirar as pernas. Enfiei quatro chaves de fendas entre o encaixe da perna e o corpo. Depois, passei uma argola pela perna e fiz pressão com ela contra as chaves de fendas de modo a aplicar uma força igual nas quatro ao mesmo tempo.Com um “krac” a perna saiu sem deixara nenhuma marca no corpo. Fiz o mesmo para a outra com sucesso. Comecei depois o processo de retirar as tábuas da parte da frente, que existiam em pouca quantidade. Para garantir que não danificava as costas, após tirar os parafusos. Fiz como o Sensei me ensinara; peguei numa vela e pus alguma cera nos encaixes utilizando para isso os dedos, pondo tanto por cima como por baixo. Depois, queimei a madeira que queria tirar com a vela até estar bastante escura, sendo que a cera aplicada antes impediu que o fogo chegasse ao encaixe. A seguir apaguei o fogo e com um pequeno martelo comecei a partir, desde a zona em que ela estava partida até ao encaixe, com o cuidado de por um pano por baixo antes. Conforme batia com o martelo, a madeira desfazia-se em cinzas e caia para o pano branco, turvando este. Repeti o processo até que as cinco tábuas que lá estavam caíssem e poisei as cinzas num recipiente próximo. Já tinha agora o componente inicial da minha marioneta.
Após este processo, acabei com uma parte que designei de costas e que eram constituídas por aquilo que num ser humano seria umas costas e a parte lateral(costelas).A toda a volta estas possuíam um encaixe em forma de "c" que se assemelhava a um pequeno tubo com cor um corte em comprimento.
Comecei a seguir uma procura pelas melhores tábuas que encontrei. Eram também de cor clara e razoavelmente duras. Pregei-as umas ás outras, usando para isso parafusos enormes, provavelmente utilizados para pregar casas. De seguida pus esta "barriga" por cima das costas e com um lápis marquei o sitio onde devia cortar. Como as costas eram ovais, também a barriga iria ser, embora este fosse só a "tampa".Usei uma serra para serrar, com o cuidado de cortar mais um centímetro do que necessitava, ficando esta mais pequena no que o espaço onde deveria estar colocada. Assim, para encaixar fiz uma mistura de cola, alcatrão e metal partido, tudo aquecido. Com um instrumento tipo ventosa, segurei a barriga e a toda a volta espalhei a mistura quente, baixando depois a barriga para esta alinhada, e quando a mistura arrefeceu o metal expandiu-se. Assim, o encaixe em "c" ficou preenchido e segurou a barriga.
Agora só faltavam os membros. Comecei por procurar entre as marionetas os que gostei mais; alguns até já tinham peças presas e eu pretendia aproveitar isso. Escolhi dois longos braços que continha um escudo. Devido á utilização no passado estavam um pouco riscados e desgastados; passei um pouco de lixa, para tudo ficar como novo. O encaixe dos braços, tal como o das pernas era uma esfera que tinha de se forçar para encaixar. Com cuidado alinhei o braço da direita, que continha o escudo e num movimento rápido encaixei o braço, provocando um sonoro “Krac”
As pernas pareciam-me todas iguais, por isso escolhi as duas mais bem tratadas e tal como fiz com os braços, encaixei-as num movimento rápido. Por fim faltava a parte mais importante, a cabeça. Kuji já tinha referido que não havia muitas cabeças feitas, mas havia algumas por acabar e eu poderia acaba-las. Peguei numa delas, que já tinha cabelo, cinzento-escuro, mas ainda estava um bocado quadrada e com uma máquina lixar automática tirei a maior parte, acertando depois com a lixa dei uns retoques finais de modo a se assemelhar a uma cabeça humana.
Por último, usado um vidro especial e uma cola super resistente fiz um olho, de uma cor negra como o céu á noite, que colei á marioneta.
Após horas de trabalho, estava finalmente concluída. Encostei-me na cadeira e o Sensei aparece.
- Pelo barulho pareceu-me que tinhas acabado… - Parou a olhar para a marionete, um pouco espanto – Não tem nada a ver com a minha primeira marioneta, mas também já sabias os meus truques. Agora que está terminada tenho uma prenda para começares com o pé direito.
Puxou de trás das costas duas espadas com cerca de um metro e deu-mas.
- Não posso aceitar… - Disse eu, que já começava a sentir que estava a aproveitar-me de Kuji
-Para que é que um velho como eu há de crer isto? Estão só a ganhar pó… - Disse ele, inventado uma desculpa na brincadeira para eu fica com elas.
-Kuji-san, não tenho como lhe agradecer, mas se algum dia precisar, pode contar comigo.
-Obrigado, quem sabe esse dia pode estar mais perto do que pensas… - Disse ele diminuindo gradualmente o seu volume de voz e esboçando um sorriso com todos os dentes. – Agora é melhor ires andando, tens de descansar antes do treino da tarde com Kamon-San.
Dito isto despedi-me e parti, com a marionete ás costas, para casa com o intuito de dormir um pouco. Kimon não abriu a porta, o que significava que provavelmente não estava em casa. Posei a marioneta e abri a porta com a minha chave. Entrei e puxei a marioneta que encostei a um canto, e deixei-me cair na cama; antes de adormecer olhei para ela última vez…Estava perfeita. Fechei os olhos e adormeci.
Assunto: A minha própria marionete(manha do dia 5)Filler 3 
Ter 31 Jul 2012 - 1:20
