Os raios de sol se escondiam por trás de grandes nuvens cinzentas, o tempo nublado característica da vila da nevoa cobria o céu sobre um pequeno estabelecimento próximo ao escritório do Mizukage. Dentro do local um jovem shinobi tomava um agradável café com quem talvez fosse a pessoa mais próxima a ele.
Takumi dava um pequeno gole em seu café quente, com um pensamento distante, lembrando-se de alguns dias antes, quando havia se formado na academia ninja. Agora ele era oficialmente um shinobi, não que isso fosse um passo grande, para realizar seu sonho de se tornar um grande ninja ainda havia muito a percorrer. Ele colocou sua xícara na mesa devagar, levou as mãos ao pingente em seu peito, um gesto que repetia muitas vezes ao dia. Aquele havia sido o ultimo presente que recebeu de sua mãe, a última lembrança que tinha dela e de seu pai. Para ele aquele era um tesouro sem preço, algo que ele mesmo não conseguiria explicar com palavras, nem mesmo com pensamentos, algo além de sua própria compreensão...
- Tak! - O rosto do genin se levantou rapidamente, voltando sua atenção para o homem do outro lado da mesa - Você está me ouvindo?
- Não... - admite o garoto sem expressar arrependimento.
Geralmente as conversas com Akira não eram as melhores, ele sempre ficava falando sobre como as coisas funcionavam na vida de shinobi, deveres e obrigações, escolhas e perigos, como se proteger de jutsus e golpes e um monte de outros tópicos aleatórios sobre “a incrível vida shinobi”. Aquilo era insuportável para Takumi, já não bastava ter que passar meses na academia como o mais velho a classe, tendo que lidar com crianças imaturas que não davam valor ao que tinham, escutando lições e mais lições, e depois que pensou que tudo havia acabado era obrigado a escutar as mesmas, coisas dezenas de vezes.
- Eu estava falando sobre como você pode escapar caso seja pego em um genjutsu, muitos shinobis acabam enlouquecendo pois...
- Akira, você me disse isso ontem. - Interrompeu o garoto impaciente -Já estou formado, acho que sei como utilizar um simples “kai”. A gente podia falar sobre algum tema original? - Takumi não estava zangado, dificilmente ficava, ele só estava cansado ouvir coisas repetitivas e entediantes. Não é o melhor jeito de começar uma manhã.
- Certo. - Akira se encostou à cadeira e olhou para o céu por um momento. Akira era um homem com vinte e poucos anos, um jounin da ANBU. Era alto, forte, tinha cabelos brancos como neve e estava sempre usando um cachecol cinza, não importava a temperatura. Ele apenas ficou em silencio por alguns segundos, observando as nuvens no céu. - Já escolheu em que área vai se especializar? Que tipo de shinobi vai ser?
- Gosto bastante de ninjutsu, mas aparentemente não consigo manifestar nenhuma natureza de chakra. - Essa informação realmente incomodava Takumi, ele foi um dos mais habilidosos de sua classe e mesmo assim, não havia demonstrado nenhuma afinidade elementar, diferente de seus colegas, que já andavam por aí cuspindo bola de fogo e levantando pedras do chão. - Talvez eu consiga me tornar um grande ninja, derrotando todos com meu incrível Kinobiri no jutsu. - Disse sarcástico. - Ele deu mais um gole em seu café, observando o lado de fora da pequena lanchonete, lá fora crianças brincavam com shurikens de papelão e espadas de madeira. Takumi se lembrava da época de sua infância, a melhor época de sua vida, onde não haviam preocupações, deveres ou lembranças ruins...
- Não seja tão duro consigo mesmo Tak, muitos ninja demoram a demonstrar algumas habilidades. - Akira realmente tentava animar o gennin, mas não parecia funcionar muito bem. - Além do mais, não é necessário um alinhamento elementar para ser um ninja.
- É necessário quando o seu sonho é ser um elementalista. - Soltou o garoto, depois percebendo que havia de fato respondido a pergunta do jounin. Geralmente ele tentava se desviar do assunto para não criar muita intimidade com akira, “proximidade “era um assunto delicado para Takumi. - Quer dizer...
- Elementalista... - Repetiu Akira satisfeito com a resposta do jovem. - interessante...por que exatamente?
- Vamos mudar de assunto tudo bem?- Disse Takumi tentando encerrar assunto. Ele pegou sua xicara e deu outro gole em seu café morno. Apesar de ter ficado um pouco envergonhado, o gennin se sentiu bem ao compartilhar seu sonho, ele não admitia, mas, as vezes, era bom conversar com Akira, talvez porque ele fosse o mais próximo que Takumi tinha de uma família. Não como um pai...Definitivamente não como um pai... Era mais como um irmão, a única pessoa que Akira podia confiar.
- Se você diz...- O jounin não conseguia esconder a alegria, levando as mãos à cabeça com satisfação e observando o lindo céu de Kiri, que agora deixava o sol passar, iluminando a pequena vila da névoa. Geralmente as conversas com Akira não eram as melhores, sempre que ele conseguia fazer takumi falar algo ficava com o ego nas alturas. Ficava sorrindo e olhando pro nada, como se estivesse satisfeito consigo mesmo... Ou satisfeito com Takumi... De qualquer forma o garoto procurava não pensar muito nisso, não gostava de se estressar, principalmente no café da manhã.
- Você vai fazer aquela missão em Konoha? - Perguntou o gennin. Alguns dias atrás Akira havia dito que iria fazer uma viagem, ele e seu esquadrão iriam para a vila da folha caçar um nukenin que havia sido visto por lá, provavelmente mais um ninja desertor de Kirigakure.
- Sim, vou partir amanhã, e irei voltar em duas semanas. - Disse o ANBU com o olhar distante. Depois, se voltou para o adolescente e disse com sarcasmo na voz e um pequeno sorriso. - Tente não morrer sem mim, ok?
- Ok. - Respondeu Takumi, deixando aparecer um pequeno sorriso em sua face. Dando um ultimo gole em seu café e colocando a xicara na mesa, observando o lindo dia que estava começando.
Geralmente as conversas com Akira não eram as melhores... Talvez aquela fosse uma exceção...