“O sol brilhava intensamente. Tão intensamente que nem mesmo as nuvens, que adoram tentar cobri-lo frequentemente por aqui estavam em seu caminho. Sua posição indicava que era meio dia. O treino havia acabado. Eu estava ofegante, caído no chão com uma kunai em punho. As gotas de suor já escorriam faz um tempo pela minha testa e insistiam em continuar caindo. Estava tão cansado que até minha visão estava turva. Ayane estava a minha direita, ajoelhada, segurando o próprio ombro; Tohru estava a esquerda, em pé, porém exausto; E nosso sensei, Jin, permanecia com seu habitual sorriso largo nos observando. Não entendo o porquê, mas isso me fazia bem. Me sentia confortável quando estava com o ele.”
– Por que insiste em fazer com que lutemos contra o senhor, Jin-sensei? – despeja Ayane, pondo-se de pé, ainda que com as pernas bambas – Nunca iremos te vencer!
– Concordo com ela, professor. Somos apenas genins recém-formados. Somos fracos. – confessa Kou, encarando o chão, guardando sua kunai, enquanto Tohru se oferecia para ajudá-lo a levantar.
– Eu simplesmente acho que vocês se menosprezam demais. Vocês são alunos formidáveis! E uma equipe completamente compatível, em minha opinião. – disse Jin, queimando positividade. Na verdade, Kou não sabia muito bem o que pensar. Se aquilo que o sensei dizia era verdade ou só apoio moral. Continuava de cabeça baixa. – Venham cá, pequenos. – chamou o sensei, vendo os garotos um pouco para baixo. Caminhou com eles até uma área sombreada por uma grande árvore que parecia dançar sobre a ação do vento. Pétalas de suas flores bailavam numa bela sincronia pelo ar, deixando um perfume gostoso e calmante no ambiente. – Deixem-me dizer uma coisa. Como vocês mesmos costumam falar, vocês são genins recém-formados. As habilidades referentes a cada um de vocês ainda está em um estágio muito bruto. Por favor, prometam-me que vão dar tempo ao tempo. Estamos treinando frequentemente, e já houve progresso. Ou vocês não se lembram do primeiro treino do Time 9 onde a única tática era se disfarçar para tentar me pegar de surpresa? Agora temos a Ayane, causando inveja até nos dragões dá mitologia com sua destreza com o fogo. E poucas coisas continuam as mesmas depois de serem atingidas por um soco do Tohru aqui. E temos você, Kou – o professor fez uma pausa ¬–, que faz com que muitos, inclusive a mim, respirem mais leve todos os dias pelo simples fato de existir.
Aquela última frase mexeu demais com Kou. Um arrepio subiu por sua espinha até chegar aos pelos de sua nuca. Seu rosto ardeu um pouco. Tinha sido pego de surpresa. Ou melhor, todos ali tinham. Kou então sorriu timidamente, enquanto Tohru colocava o braço em seus ombros.
– Acho que já treinamos o bastante por hoje. Estão dispensados, pequenos. Vejo vocês amanhã. Fiquem bem.
– Hai. – confirmaram os três, ao mesmo tempo.
***
O genin franzino caminhava pela vasta área gramada, retornando para o centro da vila. Estava fazendo planos para o resto do dia. Tinha que comprar novas armas, já que as últimas haviam sido usadas em treino ou missões. Pensou também em levar sua pequena irmã para dar um passeio. Fazia tempo que não ficava com Yumi. Levá-la para visitar Ayane ou a biblioteca de Kumo seria um bom programa.
Quando, cortando totalmente a tranqüilidade sonora proporcionada pelas lufadas de vento do campo, uma shurikens rasgou o céu, raspando em sua mandíbula, na parte direita. O garoto rapidamente sacou sua Kunai e se preparou para novos ataques, mas tudo parecia ter voltado ao normal. Concentrou-se mais um pouco e pode escutar uns barulhos, semelhante aos de armas de corte se chocando, vindo dentre as árvores. Resolveu se aproximar para ver o que acontecia. Esgueirando-se, passou imperceptível e subiu em uma árvore de médio porte no mais astuto silêncio. Lá de cima observou. Havia uma garota.
Ou melhor, duas. Clones idênticos.
As garotas atacavam-se numa intensa luta de kunais. Chegavam até a soltar faíscas. Seus movimentos eram precisos e ritmados, e sua perícia com a lâmina, surpreendente. Não parecia ser uma novata no mundo ninja. O ar tinha cheiro de experiência.
Kou, distraído com o desempenho das kunoichis pisou em falso em um galho e escorregou, mas conseguiu se segurar bem na ponta de outro. Voltou o olhar para as garotas para ver se tinha sido notado, mas lá agora só havia uma, que o encarava.
Foi quando a outra apareceu por trás do genin e acertou um soco carregado de chakra, arremessando para longe. Ele chocou-se contra o chão com certa força e rolou até perto da outra. Estava estirado no chão, tonto. A que estava perto dele sumiu num “pof”, liberando fumo, e a outra, utilizando um shunshin, pulou em cima dele. Com suas pernas bem torneadas a garota bloqueava as de Kou. Usando o braço esquerdo e o cotovelo direito, segurava os braços do pequeno. Com a mão direita, empunhava uma kunai torta que já beijava com sua doce lâmina o pescoço do oponente.
Kou a fitou por um tempo. Ficou observando seus olhos, grandes e negros, encarando-o da mesma forma. Não eram de forma alguma parecidos com qualquer outro olhar que já tinha visto. As orbes o liam, parecendo deixá-lo indefeso a qualquer tentativa de esconder seus pensamentos e segredos em partes desconhecidas da mente. A força com qual penetravam era firme, precisa, exata. Não havia qualquer traço de dissimulação o obliquidade neles. Era como uma lince, prestes a atacar.
Em contradição, poucas coisas eram tão sexys. Os ninjas estavam tão próximos que ambos os ares resultantes da respiração se misturavam. Kou estava um pouco estático com a presença daquela garota. Ela era diferente de tudo que já havia conhecido.
– Quem é você e por que estava me espionando, ninja? – indagou, cortante. Kou pode sentir o hálito suave e quente dela.
– Me solta e eu respondo – respondeu, imitando o tom de voz dela. – Não tentarei fugir. Tenho certeza que seria inútil.
Ela então se levantou, e ofereceu sua mão para ajudá-lo a erguer-se também. Agora ambos de pé, Kou pôde ter uma visão melhor dela. Era um pouco maior que ele, cerca de dez centímetros. Seus cabelos eram longos e pretos, mas estavam amarrados em um rabo de cavalo que descia suavemente pelo ombro esquerdo. Vestia uma blusa sem manga também preta. Havia uma jaqueta amarrada à sua cintura, que cobria o pequeno short que vestia. Ela brincava com sua kunais, deslizando-a pelos dedos, enquanto esperava uma resposta.
– Sou Kou Mitsukubane. Estava treinando quando uma de suas shurikens quase me acertou. Vim ver de onde tinha vindo.
– Então talvez da próxima vez eu tenha sorte e te acerte. – respondeu a garota. – Não deveria interromper o treino dos outros.
– Peço perdão. Não acontecerá novamente. – falou Kou, na defensiva, caminhando novamente rumo à vila. Não queria problemas com aquela garota.
***
– Gosto do cheiro dos livros da biblioteca – exclamou Yumi, sendo levada pelo seu irmão nas costas até o lugar onde passariam um tempo juntos. Já estava no meio da tarde. O céu começava a adquirir um tom alaranjado. No caminho os irmãos conversavam sobre o que acontecia em casa enquanto Kou estava em Iwa, em missão. Ela comentou que a mãe estava com muitas saudades, e diz que era igual a quando o seu pai, Kanji, saia em missão. Falou também de uma cartinha de amor que havia recebido na creche, onde um menino a pedia em casamento. Kou achou aquilo bonitinho.
Chegaram então até o lugar. Encontrava-se em meio a algumas casas e lojas. Era bem estruturado e parecia antigo. Em frente, acima da porta, havia uma placa: Biblioteca de Kumo. Kou empurrou a porta e entrou. Caminhou por um hall largo até um balcão de madeira polida. Havia uma mulher por trás de pilhas e pilhas de livros devolvidos. Pediria a ela informações de onde encontrar outros livros do mesmo gênero do qual havia recebido de um monge em uma missão. Aproximou-se, com Yumi nas costas, e curvou-se em direção a moça, para vê-la melhor.
Foi quando deu de cara com o rosto familiar.
Era a Lince.
- Spoiler:
- Considerações Finais:
Bom, eu sei que talvez possa parecer um pouco enche-chouriços, mas é que eu tinha que introduzir a nova personagem antes de me aprofundar na minha primeira Saga! É provavel que eu poste mais um filler e um treino antes, mas estou empolgado. Haha, que a sorte esteja ou meu favor...