[...]

Meu ouvido esquerdo zumbia. Eu não havia recuperado a audição esquerda desde explosão no ataque de Lince, e isso me incomodava. Minhas mãos estavam arranhadas, mas eu precisava continuar aquele jogo: Tohru havia marcado alvos ao longo de um campo gramado, principalmente grandes pedras e árvores. O objetivo era que eu acertasse cada um com um murro embebido de chakra, ou um chute, contanto que eu destruísse o algo. Ayane se encontrava sentada em um galho e supervisionaria minha velocidade, enquanto meu outro companheiro avaliaria a força.

Se fossem gennins comuns, tudo bem, mas aqueles dois eram bastante poderosos. Talvez a nível chunnin.

– Preparado? – indagou a loirinha, empolgada.

– Mais do que nunca! – gritei.

Quando escutei a nota músical que indicava o inicio, comecei a correr em direção à primeira árvore. Acumulei uma dose boa de chakra no punho e o liberei de uma só vez assim que inclinei meu corpo pra frente e projetei meu punho. CRASH! Consegui apenas travessar metade do caule. Era difícil acumular tanto chakra, mas, ao mesmo tempo, ter que se controlar para não libertá-lo de uma só vez. Utilizei uns três shunshins seguidos para me esgueirar rapidamente entre os galhos das árvores próximas. Quando subi em uma delas, perdi o equilíbrio momentaneamente. Algo causado pelo ouvido. Utilizei kinobiri para apoiar meu pé para, de lá, saltar, com a ajuda da gravidade, em direção a uma rocha gigante.

Urrei, acumulando massivamente meu chakra nos punhos e os serrei. Quando acertei o soco, minha mão se machucou de imediato. Havia libertado o chakra tarde demais. Recuei, com a mão sendo amparada pela outra e ainda gritando de dor. Imediatamente Ayane desceu e veio ter comigo, mas eu já reparava o estrago com um ninjutsu médico: o Chiyute.

– Por mais que eu controle muito bem meu chakra, parece que não é o suficiente... – confessei, para a kunoichi. Tohru se aproximou e colocou a mão no meu ombro – Além disso, meu ouvido... – coloquei a mão devagar nele – Meu tempo de reação e percepção diminuiu bastante.

– Acalme-se Kou. Sabemos que está nervoso pro Exame. Vamos lá, eu te ajudo com isso da atenção. – afirmou a gennin.

– E eu trabalho contigo esses atuais socos poderosos. – concordou o grandão, me dando um tapinha no ombro.

Concordei. Eles eram meu maior apoio naquele momento. Ayane correu até a bolsa e tirou de lá algumas linhas shinobi, assim como guizos e kunais. Amarrou ao fio translúcido guizos e estes às armas e as arremessou em direções diversas: formou uma verdadeira cama de gato com espaço significativo entre um fio e outro e que abrangia uma longa área.

Eu analisei o aparato como quem analisa um jogo. Ao menor toque, as linhas interligadas alarmavam, apontando a direção de quem esbarrou. Quando eu passei a mão esquerda em uma das linhas, o lado direito de Ayane foi alertado. Quando tentei com a outra mão, o lado direito que recebeu o sinal.

Conclui que aquilo era algum tipo rústico de detector de movimento. Entretanto, depois de tocada, respectiva linha poderia se desarmar. Mesmo assim, algo notável.

– Seu ouvido poderá captar tudo pelo sinal dos guizos, então o tempo de reação, que ficou mais lento com a surdez, poderá ser acelerado. – comentou a mocinha, vendo que eu já havia entendido o aparato.

– Sendo assim, lutaremos contigo. – Tohru tomou posição – Tua habilidade em esquiva de golpe simultâneos será treinada. Outra coisa: Quando eu desferir um soco carregado de chakra em você, tem que tentar me bloquear com outro soco de mesma intensidade, okay? Se liberar chakra demais, quebra meu braço. De menos, parto o seu em dois.

Okay. Aquilo me deixou aflito.

Eu me coloquei entre as linhas shinobi e me preparei. Meus companheiros se distanciaram cerca de três metros e se ajeitaram: Tohru estalou os dedos e Ayane prendeu o cabelo. Antes que eu pudesse pegar alguma arma, a loira partiu em minha direção, projetando um soco em meu rosto. Esquivei e, com as mãos, a empurrei pra trás. Ela girou de volta com um chute à altura das minhas costelas, tão rápido que só tive tempo de bloquear com o antebraço e me equilibrar na grama com o kinobiri. Tohru surgiu com seu punho gigante carregado de chakra e eu quase não fui rápido o suficiente para me posicionar: analisei seu golpe. Vinha numa velocidade um pouco menor do que quando ele quer certar pra valer, então acumulei uma dose média de minha energia no braço esquerdo e desferi um soco anulante. Fraco. Meu pulso doeu na hora. Achei que teria tempo para me recompor, mas assim que o grandão se afastou, tive o nariz atingido por um murro da kunoichi. Eu caí pra trás de dor.

– Você não costuma usar taijutsu! – gritei pra Ayane.

– Acostume-se com a improbabilidade! – ela me respondeu.

Estanquei o sangramento com um ninjutsu médico enquanto me esquivava com certa agilidade das tentativas de Tohru de me pisotear: ao girar meu corpo evitei que ele esmagasse minha cabeça, mas não consegui desviar de um golpe no ombro. A dor me consumiu.

Os dois se afastaram e desapareceram com um shunshin. Eu fiquei totalmente perdido, tentado me colocar de pé, com o nariz ainda sujo de sangue e o ombro machucado. Fiquei em alerta, canalizando bem pouco chakra em minhas mãos pra curar os ferimentos, observando os próximos movimentos.

– Pois bem – falei comigo mesmo – É provável que Tohru me ataque pela frente, já que esse é o seu estilo. E ele chegar com potência, posso utilizar um soco de mesmo porte. Já Ayane... Essa é mais evasiva, tenho que tomar cuidado.

Mal terminei de concluir meu raciocínio, dito e feito: o moreno maior pulou de uma árvore com toda sua potência em forma de força no braço direito. Calculei que teria que fazer uma força maior que a dele, já que a gravidade o favorecia. Só que meu chakra poderia chegar à metade depois desse golpe, então eu teria que tomar cuidado. O braço dele desceu e o meu subiu. Depois do choque, a energia dissipada foi tão grande que até alguns guizos mais próximos balançaram. Sinal de que a quantidade de chakra havia sido exata.

Eu estava ocupado demais com o meu companheiro. Tinha que continuar exercendo uma força que eu não tinha pra impedir que o peso dele me esmagasse. Foi quando um guizo tocou, desviando minha atenção para a direita. Ayane entrava em minha direção com um chute descendente. Pensando de forma rápida, arrumei uma maneira inusitada de bloquear o ataque: ao invés de fazer força, relaxei os músculos do braço e deixei Tohru cair ao meu lado. Ele acabou por receber o golpe.

Assim que o gigante caiu no chão, se apoiou em seus braços e girou a cintura, iniciando uma rasteira, a qual evitei com um salto. Vendo que eu estava no ar, a loirinha, após alguns selos, me cuspiu uma esfera em chamas. Executei algumas posições de mãos e utilizei o kawarimi pra não ser atingido por aquele golpe.

Meu corpo se transformou em um tronco qualquer quando as chamas o atingiram e eu reapareci no início do campo gramado, mas somente visualizei Ayane. Isso porque Tohru surgia atrás de mim. Ele tentou me acertar um soco de cima pra baixo, mas, com uma estrela para trás esquivei. Ele cravou suas mãos pesadas no solo e uma onda de eletricidade começou a se formar em minha direção. Continuei indo pra trás até o momento em que tive que parar: minha companheira, atrás de mim, preparava uma onda de fogo que varreria meu corpo para o mundo dos mortos.

Ente os raios e o fogo, preferi o fogo. Corri em sua direção já armando alguns selos. Quando estava na iminência de ser queimado, despejei pela boca um jato forte de água, abrindo entre o véu laranja uma trilha. Eu basicamente esquivava das labaredas e apagava as chamas do próximo local para o qual eu me moveria (me queimando um pouco, por horas). Eu já estava completamente esgotado e só me restava mais um pouco de chakra, então tinha que neutralizá-los. Pulei para trás de Ayane, de modo que os dois ficassem à minha frente. Sequenciei alguns selos nas mãos e executei o Suiton: Takitsubo no Jutsu. Quande área do chão à minha frente se inundou e, quando a água estava prestes  chegar no campo elétrico de Tohru, arremessei uma kunai amarrada a um fio shinobi e me icei dali.

Ambos foram eletrocutados. 

Como a carga era baixa, não havia risco de vida, mas serviu pra deixá-los dormentes. Eles ficaram parados por algum tempo, mas logo em seguida caíram. Eu corri em direção a eles e os arrastei, com esforço, até a copa de uma árvore. Lá, realizei os primeiros socorros necessários. Tohru esfregou as mãos em meu cabelo e Ayane me beijou no rosto. Eu sabia o que aquilo queria dizer.

Eu não era mais um peso morto na equipe.