Mistérios
Fechei a porta e tranquei-a, começando a hiperventilar. No andar de baixo ouvia-se as as raras porcelanas chinesas e outras cerâmicas a partirem-se em diversos estilhaços. Uns mercenários riam-se alto enquanto alguns reféns choravam e gritavam:
- Vejam lá em cima! - dizia uma poderosa voz
Ouviam-se passos lentos a subir a madeira da escadaria. Nunca os degraus rangeram tanto como quando as figuras subiam as escadas. Cada passo fazia parecer que a madeira ia ceder ao peso e partir-se e com e ela ia o resto das escadas. Conforme os passos iam ficando cada vez mais altos o meu coração começou a ficar mais acelerado e um suor frio escorria-me pela nuca, provocando-me calafrios. Agarrei na minha katana e coloquei-me em frente a Haru:
- Eu protejo-te Haru! - disse num tom o mais confiante possível
Ativei o meu Byakugan e comecei a acompanhar os seus movimentos. Eu podia ver dois sistemas de chakra, mas sentia um terceiro e poderoso sistema perto de mim. Olhei para trás e vi Haru concentrando uma boa dose de chakra nos punhos e nos pés:
- O que vais fazer? Não lutes! Nós não sabemos quem eles são...
Ela sorriu de uma forma desafiante:
- Eu consigo, não te preocupes. Ao meu sinal, atacamos, apenas segue a minha deixa!
Aceitei o plano dela, mas tinha medo que ele corresse mal. Esperei ansiosamente pelo sinal dela, enquanto os dois mercenários avançavam de cada lado do corredor, abrindo cada quarto e vasculhando-o de uma forma bruta e primitiva. Enquanto um mercenário vasculhava um quarto o outro veio ao meu. Colocou a mão na maçaneta e tentou abrir a porta, sem sucesso. Começou a abanar violentamente a porta tentando rebentar com a fechadura. Ouviu-se um grito de frustração do lado de fora seguido de um estrondo na porta. Na porta estava um buraco feito por um pontapé do mercenário. Este deu mais um pontapé na porta até conseguir por a mão na maçaneta e rodar a chave:
- Agora.... - disse Haru
O mercenário girou a maçaneta e abriu a porta. Nesse momento foi surpreendido por Haru que fora a correr contra ele, aplicando um Ōkashō e assim atirando-o para fora do corredor, cuspindo sangue. Ele fora contra o corrimão de madeira do corredor e, partindo-o, foi a cair para o piso de baixo. Haru deu um salto no ar e Tsūtenkyaku no mercenário. O pontapé partiu os ossos do tronco do mercenário que embatera com um horrível estrondo no chão. A jovem de cabelo escarlate aterrou em cima do cadáver e agarrou numa lança exposta, ameaçando os restantes mercenários. O mercenário que vasculhava o quarto veio a correr ao corredor ver o que se passava e ficou chocado ao ver o estrago que a morte do seu colega fizera. Aproveitei a sua distração para um ataque surpresa. Corri para ele e espetei-lhe a katana no abdómen. Dei uma empurrão e caímos para trás, na direção de Haru e do restante grupo de mercenários. Embatemos no cadáver com um embate seco. Levantei-me um pouco dorido e retirei a katana. Olhei para o grupo de mercenários, prendendo os membros vivos da Família Secundária. Eles vestiam todos roupas negras com uma fita da mesma cor atada á cabeça e não se importavam de mostrar a cara, isso significava que só os iriamos ver uma vez. Olhei para Haru para ver se estava tudo bem com ela e assustei-me com o que vi: os seus olhos estavam totalmente negros e o seu cabelo escarlate estava branco e mais comprido. Os seus caninos tornaram-se mais afiados e ficavam salientes, saíndo pela boca. As unhas de Haru estavam agora negras e afiadas, como garras. Com a mão a tremer, toquei-lhe no ombro:
- Ha-Haru...?
Ela olhou para mim com uma cara em fúria:
- Isto acaba aqui!
A sua voz não era mais doce nem sedutora. Notava-se um ar gélido nela e uma enorme vontade de sangue. O seu chakra estava agora cinco vezes vais forte. Aquela não podia ser a Haru, não a Haru que eu conhecera. À nossa frente estavam mais oito mercenários. Ao todo, dez mercenários conseguiram entrar na vila sem serem vistos, entraram no distrito e por fim na mansão sem ninguém dar por isso. Como é que isso fora possível? Haru ia investir contra eles, mas antes eu tinha de responder a todas aquelas perguntas. Coloquei o braço em frente a ela:
- Quem são vocês? - perguntei bem alto
Todos eles estavam com as suas armas prontas a atacar a qualquer altura. Um homem alto e forte avançou para a frente e disse numa voz grossa e imponente, a mesma que á pouco dava as ordens:
- Eu sou Rehro, líder deste grupo de mercenários oriundos de Kazegakure, no País da Montanha.
Vieram de tão longe apenas para um ataque?
- Qual é a vossa missão? Como passarão pelos guardas da vila e pelos guardas do distrito?
- Isso já são muitas perguntas não achas? - eu estava em contato direto com o corpo de Haru e conseguia sentir as suas fontes de chakra a aumentarem - A nossa missão é levar essa jovem preciosidade e matar tudo o que viesse no nosso caminho. Nós fizémos tudo pela calada: disfarçados de mercadores viémos de dia, escondemo-nos o dia todo e á noite matámos os guardas á distância. Sabemos esconder bem o nosso chakra.
- Quem vos mandou? - perguntei
Ele olhou para mim com um olhar assassino:
- Visto que vais morrer, posso dar-te essa informação: fomos enviados pelo Sr.0 de Kazegakure.
Dito isto, o homem levantou o braço direito, dando sinal para começarem a atacar. Soltei Haru. Eu não compreendia o seu estado alterado, mas era uma arma de guerra poderosa. Ela girava a lança com uma enorme habilidade, degolando cada mercenário. Fiz uns selos e em nuvens de fumo vieram quatro clones meus. Eles lançaram-se ao ataque enquanto eu defendia-me com a katana. Haru derrotava os inimigos como uma enorme facilidade. Eles eram formigas comparadas com o poder que ela tinha dentro dela. A jovem aplicava poderosos socos e pontapés com a sua força aumentada por chakra, destruindo os ossos dos mercenários. Os clones desfizeram-se com os últimos golpes e eu espetava a katana uma última vez. Haru tinha a lâmina da lança apontada á garganta do moribundo Rehro. O homem estava ensaguentado e com a cara desfeita. Eu aproximei-me deles e agarrei em Haru:
- Pára, tu não és uma assassina, esta não és tu Haru. Esta não é a rapariga do cabelo escarlate que conheci...Volta!
Ela avançou para trás confusa e agoniada, fazendo sons estranhos com a boca, como que a lamentar-se. O seu corpo parecia voltar ao normal aos poucos e era possível ver-se o horror na sua expressão facial. Ela cambaleou para trás e desmaiou perto das escadas. Todo o meu corpo tremia. Agarrei na lança e dei o golpe final em Rehro, terminando com o seu sofrimento. Algo de estranho ainda se passava por ali. A família principal já devia ter percebido que algo estava mal, mas nenhum deles se tinha manifestado. Corri lá para fora até ao centro do pátio e comecei a tocar o sino daquela zona do distrito. Alguém tinha de ouvi-lo. Olhei para a mansão da família principal e percebi o que estava errado. Eu sentia uma forte energia a rodear aquele local. A minha família estava em perigo.