Ainda com um copo de café nas mãos, daqueles de papelão cuja tampa de plástico indicava que ali existia algo fumegante, Kataro se espremia por entre a multidão de comerciantes que enchiam as ruas de Sunagakure logo no início daquela manhã. Vestindo seu uniforme de chuunin, ele caminhava às pressas pelo mesmo caminho desde que fora indicado para o papel burocrático. Não reclamou muito daquilo, afinal, sempre desconsiderou morrer ensanguentado ou mutilado durante as guerras ou missões. Na verdade, ele não queria ser um ninja. Contudo, por causa da tradição de sua família, foi praticamente obrigado a entrar na academia. -
Ohaiô, Kichina-dono! - Cumprimentava a senhora que sempre varria a calçada do prédio administrativo, enquanto passava pelo portão da frente na direção da entrada principal. Pegando o jornal de notícias na portaria, Kataro logo desceu quatro lances de degraus até um salão repleto de prateleiras e arquivos. Entrando rapidamente, o chuunin tinha a esperança de que seu chefe não tinha chegado, mas logo a perdera, pois novamente o velho já o aguardava com seu olhar de reprovação. "Será possível que ele não tem família?" - Reclamava em pensamento, enquanto se dirigia a sua mesa e se sentava. Sem dizer uma palavra, o chuunin mais velho se aproximou carregando uma pilha de fichas pardas, acomodando-as sobre a mesa do subordinado. -
Estes são os pedidos de reconsideração. - Comentou, deixando a Kataro o papel de analisar e escolher os recursos válidos para reexame.
Suspirando de tédio, Kataro soprou seu café e bebeu um pouco antes de recomeçar suas análises. Aquele era uma de suas funções. Trabalho tranquilo. Na verdade, poucos eram os estudantes com justificativa suficiente para poder ser reexaminado no exame genin. -
Mãos à obra. - Sussurrou ao começar a manusear as pastas. Ficha por ficha, o chuunin abria e lia as breves justificativas que não lhe convenciam. "Tive insônia..." - Leu numa delas, tentando entender como alguém que quer ser um ninja poderia escrever tamanha baboseira. Já nervoso, Kataro espremeu o carimbo na almofada e estalou o objeto no canto superior direito de mais uma ficha indicando que o pedido fora negado, satisfeito por buscar o último arquivo da sua mesa. "Hiroshi, Daisuke" - Dizia a tarja branca. Antes de abrir, Kataro tentou se lembrar de onde ouvira falar desse sobrenome, mas nada lhe veio à cabeça. Talvez olhando o interior ele matasse a charada. Curiosamente, o chuunin abriu a pasta parda e logo se deparou com uma carta de recomendação com um timbre conhecido. -
Ahhhh... Filho dos Hiroshi. Restaurantes Kamen-KO! - Alegrou-se ao conseguir lembrar-se de onde ouvira aquele nome. Ironicamente era seu restaurante favorito. Porém, ligando os pontos de sua memória, lembrou-se também que o filho único havia fugido de casa momentos antes de se formar genin, achado paraplégico por causa das substâncias ilícitas que consumia. Pobre família. Kataro apressou-se para manusear a ficha e logo se deparou a foto do jovem. Era ele mesmo. Mas como poderia se candidatar novamente se estava paralisado numa cadeira-de-rodas?
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Ô chefe... Temos um pedido inusitado. - Comentou ao mais velho, levantando o arquivo.
Sempre sereno, o velho se levantou ao arrastar a cadeira ruidosamente. Retirando os óculos para limpá-los enquanto caminhava até o outro, Sakamoto estranhou o chamado do subalterno, já que as justificativas para um novo teste nunca mereciam a atenção dos dois. Então, recolocando os óculos, o velho cerrou os olhos para poder ver a ficha que estava aberta sobre a mesa do Kataro, não deixando de perceber a carta de recomendação que era afixada junto à foto do rapaz por um clipe de metal. -
Uma carta de recomendação. - Disse ao puxar o papel até ele. -
Sim. E daí? - Indagou crédulo, para esperar a explicação do homem. Kataro bebericou sua xícara mais uma vez e comentou de quem seria a carta e do que se tratava. -
Paraplégico?! - Interrompeu a explicação. Mesmo assim, o jovem chuunin recomeçou sua história indicando a boa influência que a família Hiroshi tinha com os ninjas e sobre a fuga de seu filho para um lugar incerto onde se drogou até queimar os "fusíveis". O velho fez uma careta de desagrado, mas mesmo assim resolveu passar esse estranho pedido à limpo. Afinal, quem ele pensa que é para brincar com o juízo dos chuunins da administração? Suspirando fundo, Sakamoto enfim assentiu que chamassem o rapaz para que pudessem dar uma olhada. -
Se ao menos ele puder mover o braço, poderia carimbar papéis e você perderia seu emprego. - Brincou o velho, sorrindo pela careta que Kataro fizera com a provocação. Balançando a cabeça positivamente, o jovem chuunin então separou a pasta de Daisuke, escrevendo uma mensagem para ser entregue com urgência na residência dos Hiroshi. Nesse momento o interfone tocou na sua mesa.
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Moshi-moshi, Kataro falando. - Atendeu.
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Kataro, Daisuke está aqui. - Falou a secretária.
O jovem chuunin arregalou os olhos e ficou pálido ao balbuciar algumas palavras para autorizar a entrada do rapaz. -
O que foi? - Perguntou Sakamoto, já sentando em sua mesa, percebendo a agitação do homem. Kataro suspirou e falou quem estava descendo as rampas para chegar até o escritório para a surpresa do velho. Mesmo assim, achou melhor que isso tivesse acontecido porque assim não precisavam perder tempo com essas futilidades. Simplesmente negariam porque, paraplégico e mesmo com uma carta de recomendação, o jovem não poderia fazer parte das linhas de Suna. O velho balançou a cabeça em reprovação imaginária quando bateram à porta. Autorizando a entrada, Kataro retornou a sua cadeira e bebericou o resto de seu café mais uma vez. A porta se abriu e logo as rodas da cadeira rangeram para dentro do recinto, empurrada pela criada que acompanhava Daisuke para todos os cantos. O estado do rapaz não surpreendeu os dois chuunins. Imóvel, o loiro olhava para o fundo da sala por entre as inúmeras prateleiras. -
O Sr. Hiroshi me enviou um aviso solicitando que eu o trouxesse até aqui. - Explicou-se a mulher, ainda sem entender o que eles (Daisuke e ela) estariam fazendo naquele local. Sakamoto suspirou profundamente, prestes a dar a notícia da reprovação quando o movimento da mão do loiro interrompeu suas palavras. Movendo o restante do braço, Daisuke apoiou os pés no chão e forçou os braços para ficar de pé. A mulher gemeu com o grande susto e corou ao se lembrar do que fizera com o ex-vegetal. O loiro olhou para ela por cima do ombro e sorriu como se a agradecesse pela sua dedicação.
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Muito bem! Posso refazer o teste? - Perguntou aos dois chuunin.
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Cl... Claro... Na sexta, pode ser? - Respondeu Kataro, atônito.
CONTINUA...