A escuridão da noite ainda pairava em Kumogakure quando Kazuki acordou sobressaltado. Tinha o coração a mil à hora, olhou em redor para ter a certeza que estava em segurança, mas rapidamente percebeu que era apenas mais um dos habituais pesadelos. “Já devia estar habituado a isto!”. Desde pequeno que, durante a noite, era atormentado por visões de homens a lutar e mulheres e crianças a gritar pelas suas vidas. O pesadelo era geralmente o mesmo, mas desta vez algo de diferente aconteceu. Desta vez, ouviu uma voz feminina a gritar o seu nome em desespero e suplica.
Quando era mais novo, “e não tinha nada que fazer”, punha-se a adivinhar quem seriam aquelas pessoas, e porque motivo estariam a ser atacados. Agora, “que era um rapaz responsável e inteligente”, não perdia tempo com aquelas questões, pois sabia que não levariam a lado nenhum. De qualquer das formas, a voz da mulher que o chamava intrigou-o pois lembrava-o de um passado distante, que parecia ter esquecido à muito. “Não deve ser nada de mais…”.

Olhou através da janela e constatou que ainda faltava um par de horas para o amanhecer. Não queria voltar a adormecer, geralmente dormia pouco graças aos conflitos da sua mente, mas também não queria “ficar a olhar para o teto”. Respondendo ao dilema, o estômago roncou em protesto, decidiu assim ir à cozinhar bicar qualquer coisa.

Ao atravessar o corredor reparou em algumas fotografias na parede. A maioria mostrava as mesmas três pessoas, dois adultos, ambos de cada sexo, e entre eles tanto havia um bebé rechonchudo, uma criança sorridente ou, o mesmo rapaz que os olhava naquele momento. Apesar das maiores diferenças terem ocorrido no jovem, os outros dois também não escapavam ao avanço do tempo ou às mazelas da vida. Por exemplo, o seu pai, Mateki, sofreu um grande golpe, no decorrer de uma batalha, desde a têmpora direita ao queixo e agora via-se uma cicatriz branca nesse sítio. Sim aquele velhote que o importunava tantas vezes era um Jounnin reformado e muito patenteado, apesar de não o parecer. Kazuki não saia bem o que sentia por ele, pois achava-o demasiado infantil e descuidado. Por outro lado, a sua mãe, Mara, era uma mulher doce, simpática, mas firme e servia como balança para equilibrar o ambiente em casa. Também ela era uma shinobi muito dotada, especialmente em rastreamento.
Aquela era a sua família, mas apesar disso o jovem não se sentia totalmente integrado nela. Talvez todas as famílias fossem assim, e ele é que estava a imaginar coisas, mas via que os seus pais não o tratavam como os pais dos colegas dele. Costuma ver os colegas abraçarem os pais, enquanto os últimos lhes diziam palavras doces e profundas, que deixavam qualquer um feliz. Raramente isso acontecia com ele, e das poucas vezes que Mara lhe dizia algo mais sentimental, não parecia tão verdadeiro. Já para não falar do velhote do Mateki, que era pior que um irmão mais novo, e conversas de pai para filho era algo abstrato entre eles. “Se isso existe, também não era com ele que as queria ter…”. Basicamente, Kazuki não tinha grande abertura com eles.

Houve um grande estrondo e de repente o rapaz estava no chão contra a parede agarrado ao nariz devido à dor fortíssima neste e na testa.
- A fugir sorrateiramente! Tu estás tão feito, vou contar à mãe! – Gritou o pai, com a sua voz esganiçada que fazia quando imitava uma criança, e com isto saiu disparado em direção ao quarto. “Fogo! Aqui vamos nós…” – Queijo! Ele ia comer o meu queijo outra vez Mara!
- Ryhan, não faças barulho! Não há mal se o Kakizinho comer um ‘cadinho de queijo, pois não? – Disse a sua mãe docemente, apaziguando o cota.

- O problema é que o Kakizeco não sabe comer um bocadinho! – Farto da habitual conversa enfadonha Kazuki levantou-se e atravessou o corredor até à cozinha. – Onde é que vais fedelho? – Gritou enquanto intercetava o rapaz olhando-o furioso.
Enquanto se fingia de inocente levou a mão ao armário das bolachas e espetou com a porta na cara do velhote. – Não sei, talvez vá à Sra. Tamada dizer-lhe que temos um porco, por cortar, deitado na cozinha da nossa casa. – A Sra. Tamada era uma velhinha que dirigia o talho do outro lado da rua. Sempre se mostrara amigável com ele, e sempre que podia, Kazuki pedia para que ela lhe mostrasse a sua coleção de facas.

Ele não entendia a sua obsessão, mas sempre sentiu um fascínio por armas ninjas e objetos cortantes. Na escolinha ninja, ele era o melhor em tudo o que fosse relacionado com kunais e shurikens, fosse em lutas um a um, ou tiro ou alvo. Contudo, era um aluno medíocre nas outras artes ninjas, não que ele se importasse muito, mas sabia que eram necessárias. Ele não entedia porquê, mas parecia ter um talento natural para lidar com armas.
Com os seus pensamentos direcionados para as espadas e alvos imaginários para cortar, lembrou-se que seria nesse dia que ele iria prestar o Exame Gennin. Sempre quis ser um shinobi, não para imitar os pais, ou porque alguém o incentivara, mas sim para se tornar no melhor ninja em Kenjutsu que existe.

- Kakizinho! Não batas no teu pai. Ele não é propriamente um jovem… - Mara tinha chegado à cozinha.
- Quero lá saber… – Agarrou um pacote de bolachas, deu meia volta e saiu da cozinha dizendo. – É hoje que me torno Gennin. Vou preparar-me! – Segundos depois ouviu-se a porta do quarto a bater.

- E agora Mara? Que vamos fazer quando ele estiver longe de nós em missões e acontecer aquilo? – Segredou à mulher o ninja experiente, que entretanto se havia levantado. Falou numa voz que nunca usava à frente do seu filho, a sua voz normal, uma voz experiente e calculista.
- Agora, teremos cuidado…

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É verdade que este é apenas um filler introdutório, mas sim, quis denotar os sonhos dele e o comportamento dos pais dele, pois serão importantes no futuro

Obrigado pelo comentário

Oh fixe, um começo de história bem diferente do que tem aparecido ultimamente
É óbvio que Kazuki é um "floco de neve especial", provavelmente com uma KG menos usual. Porém ainda não há informações suficientes para formular teorias e tal, aquele sonho será um sonho profético ou uma recordação do passado suprimida pelo próprio jovem?

A forma com que a família age com ele... é por medo ou porque ele é adoptado?
Enfim curti bastante e o personagem parece-me ser interessante e com garra, continua

Muito bom filler inicial, com os elementos para um início de história e com a âncora de mistério para fillers futuros. Parabéns!