Hiyama Kyohei
Treino 9
Uma espécie de Tutor
Tal como tinha prometido, Takaeru iria ensinar os que entregaram a lanterna, ou seja, todos. Logo no manhã seguinte tivemos que nos encontrar com ele à porta da Biblioteca de Kumo, lugar mais que conhecido para mim e pelo que me lembrava, também para Tsukikage. Lá dentro, Tohma-san reconheceu e cumprimentou de imediato o nosso sensei. Pareciam ser conhecidos de longa data e falavam com uma grande descontração e intimidade. O rapaz de cadeira de rodas logo deu um pequeno papel ao bibliotecário e este logo mergulhou no labirinto da biblioteca.
- Irão ter que estudar todos estes livros. - Takaeru dava um conjunto de livros a cada um de nós. Notei especialmente a cara de nojo que Nikkou fez a ver o tamanho da sua pilha. - Irei treinar cada um de vocês em separado. Cada um terá um turno do dia e terá o seu plano de estudos particular. Podem pensar em mim como um tutor particular. Junto aos livros está o vosso horário de treinos e espero que o sigam à risca. - Com um simples empurrar nas rodas da cadeira, o rapaz fazia-se passar por nós. - Amanhã começam os treinos. Leiam tudo! Fico à vossa espera.
No dia seguinte apareci no campo de treinos que estava indicado no meu horário. Parecia um horário escolar, com vários blocos de aulas e cada um num local diferente. Por sorte só tinha treinos durante a manhã ou a noite. Talvez Takaeru-sensei soubesse do meu trabalho na Biblioteca de Kumo...
Cheguei a horas, já com a noite a ocupar a vila, mas do meu suposto "tutor" nem havia sinal. Aproveitei para aquecer um pouco. Deitei-me no chão e pus-me na posição indicada para fazer algumas flexões. Subi e desci cerca de dez vezes, sem haver grandes problemas. Algumas flexões depois os meus músculos começavam a resistir e em consequência os meus braços começavam a tremer. Mantive-me a exercitar e a força que fazia provocava mais tremores aos meus braços. Tremiam que nem varas verdes quando comecei a sentir dores nos músculos do antebraço! Deixei-me cair de imediato e sentei-me de pernas cruzadas. Alonguei um pouco os braços, só mesmo por precaução. Depois voltei a deitar-me no chão, desta vez de barriga para cima e comecei a praticar alguns abdominais. Não era um exercício que achasse muito difícil, mas era óptimo para manter a linha. Passado algum tempo a fazer abdominais, a minha camisola começava a ficar cheia de suor e os meus abdominais a doer-me. Tentei mais umas vezes, sempre com os abdominais a tentar resistir, mas só parei de fazer ao atingir os cinquenta.
Deixei-me ficar deitado no chão a descansar. Takaeru-sensei ainda não tinha aparecido, algo que estranhei mas não me preocupei por isso. Olhei em volta e como em muitos outros campos de treinos, o campo onde eu estava também tinha pequenos alvos e até um boneco de madeira rotativo. Levantei-me e aproximei-me dos alvos. Saquei de uma kunai e desenhei no chão uma linha recta. Seria como jogar às setas. Peguei em várias kunais e fiz pontaria a um dos alvos. Apontei com precisão e lancei a kunai, mas falhei redondamente. Acertava na corda que segurava um dos outros alvos e provocava a queda deste. Peguei noutro daqueles instrumentos metálicos e tentei apontar melhor. Tinha já uma melhor noção da força que devia aplicar. Lancei e acertei no alvo, apesar de longe do seu centro. Mantive o lançamento das kunais até ter o alvo todo marcado e desisti para as ir recolher. Ao vir-me embora da zona dos alvos, olhei para o que estava caído. Decidi usá-lo num outro tipo de tiro ao alvo, desta vez com shurikens. Voltei a pendurá-lo com a ajuda de algum do meu fio shinobi e voltei para a linha que tinha desenhado. Peguei nalgumas kunais com a mão esquerda e na mão direita pus quatro shurikens. Lancei uma kunai e com ela cortei o fio que segurava o alvo. Depois disso lancei um shuriken para acertar no alvo em movimento. Por azar falhei redondamente o alvo e acertei numa árvore que estava por trás. Repeti o processo com outro alvo pendurado e falhei pela segunda vez naquele exercício. À terceira tentativa, finalmente acertei no alvo que caía e empurrei-o para trás com a força empregue na shuriken. A quarta teve um resultado semelhante.
Voltei a arrumar as minhas armas e aproveitei para, com o Kinobiri, subir e pendurar-me nas árvores e voltar a atar os alvos nas suas devidas posições. Estava tudo de volta ao normal.
Olhei para um relógio que estava num poste de rua. Passavam já das onze da noite. Takaeru estava atrasado em, pelo menos, hora e meia. Já chateado com aquilo, mirei o boneco de treinos e aproximei-me dele. Já fazia algum tempo desde que praticara um bom Taijutsu e decidi exercitar as minhas pernas. Pus-me de frente para o boneco e endireitei-me. Num rápido giro sobre mim próprio, apliquei um Konoha Dai Senpu no boneco, ao qual depois baixei-me como se me desviasse de um golpe inimigo e apliquei um empurrão de ombro (Tokken). Senti o boneco a mover-se e notei que o tinha inclinado para trás. Foi quando reparei que estava pouco preso ao chão... Mudei de ideias quanto ao exercício e apliquei um forte empurrão com ambas as minhas mãos (Hōshō). O boneco inclinou-se ainda mais. Aproveitei o facto e logo de seguida movi-me para trás do meu oponente fictício com um simples shunshin e inclinei todo o meu corpo sobre a madeira. Bati com o meu pé esquerdo na base do boneco, tal como faria para um oponente humano perder o equilíbrio e depois lancei um murro forte (Gangeki) na zona onde seria o seu peito. Com o murro impulsionei-o para cima, tal como tinha pensado. Com um novo shunshin desapareci e apareci no lugar certo para, com um Shōgekishō o continuar a lançar para cima. E mais outro, mais outro e mais outro Shōgekishō até o ter feito levantar-se alguns metros do chão. Depois com um salto, elevei-me ao mesmo nível que o boneco, agarrei-me a ele e fi-lo descer comigo a rodar. Apliquei-lhe um Hayabusa Otoshi, talvez o primeiro com sucesso em todas as minhas sessões de treino.
Contente comigo mesmo, larguei o que sobrava do boneco no chão e afastei-me. Só nessa altura notei no brilho da cadeira de rodas que estava à entrada do campo de treinos. Ainda cansado, cheguei-me ao pé da figura para a conseguir ver melhor.
- Boa noite Takaeru-sensei. Está um pouco atrasado não? - Olhei de volta para o relógio. Apenas tinham passados dez minutos desde a última vez que o vira.
- Pois... Desculpa, agenda recheada. Pois bem, vejo que já treinaste Taijutsu e por isso poupas-me algum tempo. Vamos directamente para o Ninjutsu. Confirma-me o que dizia na tua ficha, és Doton certo?
- Sim.
- Muito bem. Leste os livros que te dei ontem? - Perguntou-me com uma cara séria.
- Quase todos. - Respondi algo envergonhado. Apesar de ter passado grande parte da noite passada a lê-los, não tinha conseguido acabar o último sobre Geografia Mundial.
- Leste o que era sobre técnicas ninjas de infiltração?
- Hmm... Sim, sim.
- Muito bem, então escuso de te explicar para que serve o Doton: Dochū Eigyo no Jutsu Vou-te ensinar esse jutsu, mais um outro para complementar os teus conhecimentos actuais. Primeiro, Iwa Bunshin. Jutsu de clones, muito semelhante ao Tsuchi Bunshin que usas. Estes são os selos. - Retirou um scroll da sua manga e mostrou-mo. Nele estavam os desenhos dos vários selos necessários para o jutsu. - Experimenta. Não deverás ter grande trabalho já que conheces o Tsuchi Bunshin.
- Ok...
Afastei-me do meu "tutor" e esperei um pouco em silêncio. Estava só a tentar concentrar-me para o que ia fazer. Concentrei chakra enquanto lentamente fazia a sequência de selos que me tinha sido mostrada e quando finalizei apareceu ao meu lado um clone meu. Ainda mais perfeito do que os que costumava conseguir com o Tsuchi Bunshin.
- Muito bem. Não vamos ter problemas com este jutsu. Noutra altura ensinar-te-ei a sua "segunda" utilização. - Estranhei aquelas duas últimas palavras, mas não dei muita importância. - A seguir quero que utilizes o Doton: Dochū Eigyo. Para o fazer precisas de...
- Espere um pouco. - Interrompi-o. Ele ficava algo aborrecido com o facto, mas ao ver-me retirar de um scroll da minha mochila pareceu ficar mais animado. Mostrei-lho e ele notou ser a explicação do jutsu que ele queria que eu executasse. - Eu já memorizei os selos, mas mesmo assim tenho alguma relutância em usá-lo. Não quero ficar preso da cintura para baixo no chão! - Ele riu-se com as minhas palavras e logo me deu seguranças de que me ajudaria.
Voltei a afastar-me e fiz a sequência de selos. Tal como o meu pergaminho me dizia, devia concentrar chakra Doton gradualmente ao longo do meu corpo. Pouco a pouco, pareceu-me ficar mais pesado e quando abri os olhos e olhei para baixo, os meus pés estavam já mergulhados na terra. Entrei em pânico e parei o jutsu por instinto, tal como tentei puxar pelas minhas pernas!
- Calma rapaz! Habitua-te à sensação. É contra-natura, mas é algo que vais ter que racionalizar enquanto não estiveres habituado ao jutsu. Repete-o por favor...
Refiz os selos anteriores e concentrei chakra. Notei que afundava mais e abri os olhos por ordem do meu sensei. Olhei para baixo para me ver descer na terra. Fez-me impressão vir o meu corpo a sumir, mas ao mesmo tempo continuava a sentir cada centímetro dele. Podia até mexer os dedos dos pés. Deixei-me afundar até apenas sobrar a cabeça e parei para depois voltar a subir.
- Perfeito. - Takaeru batia palmas. - Desfaz o clone e vai para casa. Aula terminada.
Assunto: Treino 9 - Uma espécie de Tutor 
Sáb 7 maio 2011 - 19:11
